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quinta-feira 23 maio 2024
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Porta-retratos

Com certeza na sua casa tem aquele móvel repleto dos românticos porta-retratos. Objeto que nos faz viajar para o passado, que nos traz lembranças de locais, pessoas, ocasiões, enfim…quem não tem uma foto com a amada (ou amado), com as tias, primos, mãe, pai, irmãos, filhos, sobrinhos, amigos e etc…? E sempre em uma bela moldura e exposta em local bem visível? E como é gostoso olhar para aquela danada foto.
Ah, a saudade de pessoas, momentos e locais onde fomos felizes (ou acreditamos ter sido) como aquela viagem, a cachoeira, a piscina, o churrasco, a pescaria e etc…
E para enriquecer a foto a enorme variedade e beleza de molduras dos porta-retratos.
E chega até a ser engraçado porque em alguns móveis, normalmente aqueles que estão nas salas de estar, tem aquela profusão de porta-retratos parecendo uma floresta de registros de bons momentos. Na casa da vovó então? Verdadeiro tesouro.
E olhando para aquelas infinidades de pequenos pedaços de saudade vem lembranças, muitas lembranças e talvez um pequeno sorriso, triste ou alegre, se desenhe em nossos lábios enquanto lágrimas, também de alegria ou tristeza, insistem em molhar os olhos.
Sim, os porta-retratos nos trazem lembranças, emoções, saudades e nos fazem reviver o passado mas, essa coisa boa, romântica, bonita parece estar acabando, afinal, estamos vivendo a geração das fotos nas “nuvens”, estranho, né?
Talvez chegará um dia em que não mais existirão porta-retratos, então quando você quiser matar a saudade daquele momento, daquela pessoa, o que deverá fazer? Olhar para o céu? Procurando pela “nuvem” onde estão suas fotos? Seus vídeos, seus momentos?
Hummm…
A tecnologia é boa, divertida, útil, necessária e faz parte da evolução mas, aos poucos, vai matando tradições, matando alguns de nossos prazeres, talvez criando outros mas, ainda assim, é difícil ver nossas tradições se acabando, ver aquilo que gostamos e que nos acostumamos morrendo aos poucos.
Quem não tem em casa os velhos álbuns de fotografia? Tão bons, tão gostosos de se ver. Quem um dia não levou o álbum da última viagem para a família ver? E quem, hoje, leva o computador, notebook, tablet ou celular para a família ver as fotos da última viagem?
Haja saco pra ficar olhando fotos pelo computador. Não tem nenhuma graça.
Ah, mas é muito mais fácil para armazenar, para guardar…não ocupa espaço, afinal está nas nuvens, né? É verdade, algo que você nunca mais vai olhar não ocupa espaço, tá certo. Mas e daí? O álbum a qualquer momento você pega pra ver, as fotos estão ali, palpáveis, está no mundo físico e não no cibernético, robótico, virtual, surreal, nas “nuvens” ou sei lá como se chama esse negócio. Aliás, que raios é isso de “nuvens”? Alguém pode me explicar?
E quem “controla” essa tecnologia das “nuvens”? Minhas fotos, meus filmes, vídeos, informações, arquivos em geral e etc…está tudo com eles. E o que acontece se, por um motivo ou outro, a tal empresa acabar? Perco tudo? Perdemos tudo?
Imagine aqueles filmes apocalípticos, que nos acostumamos a ver nos cinemas, em que, após uma devastadora guerra, o “mocinho” encontra coisas e tesouros do passado, como faria agora para encontrar as fotos e registros que estão nas tais “nuvens”?
Hummm…
Corremos o risco de uma perda total da história?
Ah, mas então você é contra a tecnologia? Não, não sou. De jeito nenhum, precisamos evoluir dia a dia, apenas fico triste com a perda de tradições, de história, perda de memórias.
Eu não abro mão dos meus porta-retratos mas, sei que, infelizmente, as fotos tiradas nos últimos anos, época das fotografias e vídeos nos celulares, vão acabar se perdendo e não irão parar em uma bela moldura em cima do móvel da sala.
Que pena!