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quarta-feira 15 maio 2024
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O sonho da vida

“Talvez toda a vida seja apenas um sonho contínuo e o momento da morte seja um súbito despertar”.
Todos recordam o título da obra-prima dramática de Pedro Calderón de La Barca, “A vida é sonho” (1635). A imagem é retomada nesta frase de outro escritor famoso, que também bispo, François Fénelon (1651-1715).
Trata-se obviamente de uma metáfora, mas é bem adequada à reflexão deste dia que tem por tema a morte cristã. São dois os significados que poderemos atribuir ao “súbito despertar” que a morte vai impor ao sonho da vida.
Primeiro que tudo, com força até brutal , varrerá todas as nossas ilusões: posse, sucesso, bem estar, glória dissolver-se-ão, e ficaremos nus na alma e no corpo. O que é efêmero e temporal permanece no horizonte da caducidade e do tempo.
Só o que é eterno passa além. Eis porquê Cristo adverte para procurar não os tesouros que se consomem e são roubados, mas aqueles que permanecem e tem as mesmas qualidades de Deus: verdade, amor, justiça, virtude.
Mas há outro despertar mais doce: diante daquele umbral abrir-se- á o horizonte do infinito e do eterno. Então , Deus já não será uma imagem desfocada, uma intuição lampejante e refletida, mas – como nos repetem São João e São Paulo – vê-lo –emos face a face, tal como Ele é, num diálogo de intimidade.
A morte é, portanto, um abanão que aterroriza , empobrece e faz cair as ilusos, mas é também um frêmito que nos surpreende, ilumina e transfigura.