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quarta-feira 1 maio 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – O homem e o vírus

Comilanças Históricas e Atuais – O homem e o vírus

I – O mundo
O mundo gira como uma bola no meio de um campo chamado universo. Nesse universo, de vez em quando, ocorre alguns desvios da bola-mundo. Assim o mundo enfrenta chutes, violências inexplicáveis, mutilações em sua forma, descosturas planejadas, desfigurações sem estudos, projetos, vontades silenciosas ou desiquilibradas.

II – Datas que machucam – a chegada da aids
O vírus entrou em circulação lá pelos anos de 1999. Nos laboratórios os cientistas o batizaram de HIV, uma estranha mutação de um vírus chamado SIV, nascido no sistema imunológico dos chipanzés. Esses animais brincam nas matas, namoram, procriam, alimentam-se, pulam distâncias de uma árvore a outra. Em seus corpos, o vírus não causa desanimo, desamor, paixão ou doença.

Nós vivemos num mundo globalizante, todos os países se unem por um cordão umbilical e por interesses nacionais que, pensando bem, nem é de bom gosto relacioná-los. A realidade é que, da África, o vírus espalhou-se pelo planeta que, sempre, corre atrás de uma boa aventura. No ano de 1930, data simpática e histórica a transmissão deu início ao seu trabalho nos Estados Unidos.

III – O abalo
A ciência descobriu que a doença é causada pelo vírus HIV, mas observaram também, que nem todas as pessoas contaminadas desenvolviam a Aids.
A contaminação não chegou a classificação epidêmica, pois atingia, no início, pequenos grupos de pessoas.

IV – A evolução
Houve vários conflitos na década de sessenta e setenta. A imigração saiu do sonho e pôs os pés no chão; novos centros urbanos grávidos por necessidade nasciam de um mês para outro. O acúmulo de seres humanos saiu das vitrines para as calçadas, várias doenças surgiram na manifestação entre os corpos. O ano de 1981, estava tomando um sorvete de casquinha num laboratório. De repente, balançou-se num cipó, e apresentou a Aids como uma doença de perfil, rosto, roupa, sapatos e morte.

No ano de 1982 a Aids tomou conta de alguns segmentos humanos nos Estados Unidos, Em 1984, houve a publicação de um artigo científico afirmando o isolamento do vírus. Meses depois, a reafirmação de que o vírus era o responsável pela Aids e, o maior impacto da doença recaia sobre a comunidade dos homossexuais. Como uma corrente de vários elos e, todos eles, amarravam entre si a então chamada orientação sexual.

V – O resto do sonho
A década de sessenta para adiante, nos Estados Unidos, ainda respirava o suor da transformação. A pílula, pequenininha, permitiu a realização de sexo sem risco de gravidez; o homem saiu da sua hipnose milenar, pisando na lua; o rock saiu dos porões, das rádios amadoras, para formatar a cintura de Elvis Presley, os chamados hippies tentam mudar todos os conceitos religiosos, filosóficos e culturais, em nome do amor e da liberdade. Retiraram os paralelepípedos da rua e, com uma colher de pau, encheram os buracos vazios com sexo.

VI – Os homossexuais
Tudo caminhava sem tropeços e as mariposas dançavam em torno das luzes. O dia, gravado no calendário, era 28/06/1996. A polícia, tendo um homem dentro de cada farda, invadiu o bar Stonewall Inn, em Nova York, um reduto famoso dos homossexuais. Houve agressão, o sangue lacrimejou, a falta de explicação não foi dada, mas vestia a fantasia da Aids. Os homossexuais, em protesto, marcharam pelas ruas por três dias, de mãos dadas com suas noites. E a morte ocupou as manchetes dos jornais e revistas.

VII – A luta
Os homossexuais decidiram, naquele momento, sair do anonimato buscando um carimbo de borracha que os marcassem como “cidadãos comuns” e, não, como “cidadãos de segunda categoria”. Organizaram uma parada, um desfile público, uma “Parada Gay”.
Os psiquiatras da América oficializaram que a homossexualidade não era uma doença psíquica, nem um distúrbio de ordem sexual.

VIII – Um retorno
Na Grécia antiga, local onde a filosofia nasceu na beira de um fogão, os médicos marcavam com ferro e fogo os doentes graves, os ladrões e os escravos.
Na Era Cristã, indivíduos que possuíam enfermidades que modificavam-lhe o físico, era atribuído um estigma.

IX – O nosso tempo
As Ongs, as Associações AGBLBT, movimentaram as instituições políticas, organizaram congressos; os jornais e revistas publicaram artigos, ensaios, estudos, pesquisas esclarecendo a movimentação da doença e as formas reais de transmissibilidades.

A ciência, não conseguindo adentrar aos mistérios da doença, apoia-se em concepções religiosas, homofóbicas, para apresentar uma justificativa ao desequilíbrio emocional da população.

A ciência falava do “câncer gay”, “síndrome homossexual”, levando os homossexuais a um beco escuro, mas responsável pela chegada e permanência da doença. Na mesma estrada, a ciência e a religião falavam em “Síndrome da Ira de Deus”. Existia um vírus diabólico, maligno, eliminando as defesas dos organismos; as relações sociais recebiam de Deus o mesmo castigo que recebeu na Idade Média, sufocada pela lepra. O castigo divino marca o doente da aids pela magreza, manchas na pele, fraqueza, são características da zanga do divino.

O evangelista famoso Jerry Folwell, na TV, fala em “vida depravada”, se o governo não agir, a peste gay cairá sobre a população americana. A culpa é dos homossexuais. E, 1987, o eterno galã do cinema americano, Rock Hudson, o modelo de homem das Américas, morre de aids, aos 58 anos.

X – A coragem e a arte
O filme “Filadélfia” é um dos primeiros trabalhos do cinema americano a questionar, apresentar e debater o fenômeno da aids, apresentar o medo, a discriminação, o ódio, o rancor que, como um coração combatido, assombra o poder político e social da América do Norte, o vencedor de duas guerras, o lançador da morte usando uma bomba planejada e desenhada, silenciadora de cento e cinquenta mil pessoas.

O diretor Jonthan Demme, vindo de um Oscar pelo “O silêncio dos Inocentes”, percebe que a dor, a morte, a falta de esclarecimentos, não beberam uma gota de amor, de poesia, da audácia de romper as cortinas que cobrem um mistério, uma história. A hora era o agora, Demme escolhe o roteirista Ron Nyswaner para criar, pensar, refletir, combater a ignorância social, elaborando uma história apresentando o mundo sem razão que viera de D. Quixote. Ron toma como ponto de partida o drama real vivido por Geofrey Bowers, que morreu de aids aos 33 anos e fora demitido da empresa que trabalhava por ter sido contaminado por Aids.

XI – Filadélfia
A câmera vibra com o sol, com as pessoas nas ruas, as filas nas portas do banco, crianças indo à escola, pessoas praticando ginástica e uma senhora, negra, idosa, solitária, passa em busca do presente remarcado pelo seu passado que não precisa ser mencionado.

XII – Filadélfia em agonia
O filme começa com o advogado Andrew Beckett, Ton Hanks, um homossexual lacrado no silêncio de sua alma, defendendo os interesses da firma de Advocacia em que trabalha, uma organização de alto padrão. É festejado por todos, recebe mil elogios, evolução de cargo, aumento salarial. Os seus patrões, todos com anos e anos de experiência jurídica, representam o pico do sistema jurídico americano.

XIII – O eu no subsolo
Andrew Beckett, uma esperança jurídica, um bailarino dos tribunais, é homossexual, tem um namorado chamado Miguel (Antônio Bandeiras) interpretando sua fábula por sugestão, pois não há declarações de amor, beijos, cenas eróticas, tudo é simbolizado, para não ferir o público do momento, tremendamente perdido no lago pandêmico. No entanto, existia no peito aberto da Filadélfia, um cinema meio clandestino, projetando filme erótico gay. Foi nesse cinema de Andrew se contaminou.

XIV – A revelação
Andrew Beckett, após verificar umas manchas em seu corpo, fato que é percebido por um de seus colegas de trabalho, vai até o hospital para fazer os exames de rotina, até descobrir que sofre de Aids. A partir de então, algumas palavras e atitudes entram em seu dia a dia: disfarçar, cobrir as manchas, isolar-se, passar as ordens de serviço, frequentar festas, respeitar o seu cansaço, até precisar enfrentar e comunicar aos grandes amigos, chefes, participantes do momento que é um aidético. Andrew é dispensado, não por sofrer de aids, mas por ter sido vítima de um golpe montado pela sua empresa, fato que afeta sua capacidade de raciocínio e a compreensão do ato de viver.

XV – O retrato revelado
A perda de peso, a mudança na voz, os ferimentos na pele, a mudança no vestuário, e o desejo de processar os responsáveis pela sua demissão. Procura nove advogados, todos recusam defender os seus direitos jurídicos. Ele encontra o advogado Joe Muller, proprietário de algumas lutas pessoais para lutar; é negro, fato que pesa no Olimpo Jurídico e é um completo homofóbico, um ser estruturado numa dimensão pessoal que, mesmo inconsciente, o leva à rejeição afetiva do homossexual; despertando-lhe o medo, aversão, ódio social, divórcio dos padrões representativos. No entanto, a imoralidade que envolve o processo, a mentira, a desumanidade, as reflexões, o fazem aceitar o processo.

XVI – O jurídico e a poesia
À medida que o jurídico avança, através do trabalho de Joe Muller, Andrew desloca-se para a morte, a poesia pura entra no espírito de Joe Muller ( Denzel Washington ), na sua convivência com a sua esposa e a devoção à filhinha recém nascida. O tribunal, milhares de pessoas gay ou não, lutando pela vida de Andrew e a ressureição da América nas greves de rua:

A flor nasceu em forma de atitude.
A hierarquia opressiva está de luto.
A América, como criança perdida:
Engole o horror do instinto.
A bílis torna-se caldo irracional.
O local de trabalho tem mesa,
Gavetas, respeito.
A sociedade está sem terno,
Sem vestidos longos,
Vestem as roupas do sentimento.

XVII – A ópera
Joe Muller, sério, profissionalmente, pergunta a Andrew, num treinamento para a audiência: “Quando você entrou na empresa”? Beckett toca um disco, uma ópera “La mama morta” em sua área “Andréia Chenier” cantada por Maria Callas: Andrew representa a canto com os gestos, traduzindo as palavras para o inglês – “a dor trouxe o amor! Eu ainda vivo! Eu sou a vida! O sangue e a lama! Eu sou o amor! Eu sou o amor!” Eu, respeitando o meu coração sou uma ópera.

A cabeça do advogado registou, lá nas suas entranhas: – a Aids vem buscar a realidade que são nossos parentes, nossos amigos, nossos amores. Ela nos afasta do cotidiano, levando-nos à agonia dentro de cada um de nós. Ela não vai vencer! A justiça será feita!

Ele ganha no tribunal.
Andrew foi em direção às alturas.
Ouvir óperas.
Eu sou o amor! Amor! Amor.
E as ruas da Filadélfia retornara, o seu dia a dia,
caminhando, caminhado – com medo.
O filme Filadélfia,
Um dos primeiros a discutir a Aids,
Foi considerado informativo,
Corajoso.
Movimentou a sociedade,
Ergueu do chão, discussões lógicas,
Criticou a ilegalidade da discriminação!
Mostrando que a arte cinematográfica,
Através da imagem poetizada,
Devem engajar-se nos dramas humanos.
Em nome de todos os sonhos que sonham a realidade de nossas vidas.

RECEITA

CHEESECAKE PHILADELPHIA

Massa: 200 gr de biscoito de maisena; 100 gr e manteiga.
Recheio: 450 gr de cream cheese. 1 colher de chá de essência de baunilha; 2 colheres de suco de limão; ½ xícara de chá de açúcar; 3 ovos
Cobertura: 1xícara de chá de geleia de framboesa
Modo de fazer a massa: triture o biscoito de maisena no processador misture a manteiga até criar uma farofa. Forre o fundo de uma forma de aro removível e leve à geladeira por 1 hora.
Modo de fazer o recheio: Bata na batedeira todos os ingredientes do recheio até ficar homogêneo. Coloque esse recheio na forma sobre a massa e leve ao forno preaquecido em temperatura média por mais ou menos 40 minutos. Retire do forno e deixe esfriar e leve à geladeira.
Cobertura: desenforme o cheesecake e espalhe a geleia de framboesa por cima

Por Adriana Padoan