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quinta-feira 9 maio 2024
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Síntese da história de Taubaté

Lia Carolina Prado Alves Mariotto

 

Para um domínio mais abrangente da gênese da História de Taubaté se faz necessário recuar para os primórdios da História da cidade de São Paulo.

Segundo Richard M. Morse:

São Paulo teve duas fundações. Uma foi Santo André da Borda do Campo, a povoação dispersa de barro e sapé construída por João Ramalho; outra, foi a missão jesuítica e seu colégio estabelecidos em 25 de janeiro de 1554, numa colina estratégica, na confluência do Anhangabaú e do Tamanduateí”.[1]

 

Em 1560, Santo André requereu sua transferência para o sítio de São Paulo; e a fusão se completou plenamente em 1562.

A dominação do colono, em detrimento das nações brasílicas, não foi nada fácil. Pela necessidade imediata e premente de mão de obra foram organizadas as bandeiras escravistas que, embrenharam nas selvas em busca dos indígenas que, por sua vez, revidaram com contínuos e ferozes ataques.

Os frequentes surtos de pestes: bexiga (varíola), sarampo, febre amarela, disenterias (febres ou enfermidade dos catarros); os sucessivos conflitos entre os colonos e os jesuítas; a má distribuição e o mau uso das terras provocando, principalmente, o flagelo da fome, impulsionaram inúmeras levas de emigrações para regiões relativamente adjacentes à vila de São Paulo.

A síntese da situação se resume nas palavras de Sérgio Buarque de Holanda:

 

  “A atração exercida por área espaçosa e vestidas de mato grosso, o acesso mais fácil à mão de obra indígena, que nessas áreas se pode empregar, além do mais, fora do alcance direto das justiças civis e das censuras eclesiásticas, a imunidade relativa a opressão e punições que naturalmente confere a assistência em paragem erma, tudo isso, vai somar-se, como estimulante enérgico àqueles fatores. Partir, para tal gente, é fugir à inanição ameaçadora e em muitos casos é fugir também a vinditas, rancores e extorsões”.[2]

 

E assim, essas levas de colonizadores começaram adentrar à região do Vale do Paraíba.

Em 1596, o governador geral do Brasil, D. Francisco de Sousa, incumbiu Martim Correia de Sá da chefia de uma bandeira, que, saindo do Rio de Janeiro, aportou em Parati, subiu a serra do Mar e, por uma trilha indígena, alcançou a região valeparaibana. Desse ponto, atravessando a garganta do Piracuama, prosseguiu em direção à lendária Sabaraboçu. Posteriormente, esse caminho, muito percorrido, transformou-se em um antiga estada que serviu ao tráfego e comércio interno entre a cidade do Rio de Janeiro e as vilas de Parati e Taubaté; quando se achou ouro nas Gerais, a estrada foi usada como escoadouro do metal precioso, ensejando a criação da Casa de Fundição, em Taubaté.

Após o período aurífero, esse caminho foi cada vez menos frequentado, supondo-se até que não mais existisse atualmente.

Esse caminho, anterior ao caminho velho, é conhecido pelos historiadores como o antiquíssimo caminho do Rio de Janeiro. Atualmente, é o único trecho da Estrada Real Paulista, estudado e mapeado; existe até hoje, com sua via carroçável por onde podem transitar carros e veículos afins.[3]

 “Antes de fazer-se o de Garcia Rodrigues o mais trilhado era o caminho velho, de PARATI e TAUBATÉ, que podia percorrer todo em, menos de trinta (30) dias, marchando neste caso de Sol a Sol, e ainda aqui se dispensava o trajeto pela Vila de São Paulo”[4]

 

As terras compreendidas pela região valeparaibana faziam parte da Capitania de Itanhém e eram propriedades da Condessa de Vimieiro. Com a dispersão daquelas levas de pessoas em direção ao Vale do Paraíba, sua proprietária “ordenou o povoamento oficial das terras e sertões do Paraíba com distribuição, registro e posse de sesmarias[5].

Essas terras foram desbravadas e povoadas por inúmeras famílias vindas da Vila de São Paulo capitaneadas pelo bandeirante Jaques Félix. As primeiras sesmarias doadas em nome de Jaques Félix e seus filhos Domingos Dias Félix e Belchior Félix, data de 1628. Posteriormente, pela provisão de “1636, foi autorizada a penetração do sertão de Taubaté a fim de descobrir minas, pacificar índios e demarcar as terras da Condessa de Vimieiro, Da. Mariana de Sousa Guerra, cujos limites até então eram desconhecidos”[6]

Por nova provisão, datada de 1639, ficava estabelecido a doação de terras de sesmarias a todas famílias que mostrassem interesse em vir povoar a região.

Assim, paulatinamente, ao longo desses anos formou-se um povoado que finalmente no ano de 1645, foi elevado a condição de Vila. Surgiu então a primeira Vila da região valeparaibana: a VILA DE SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS DE TAUBATÉ.

Sérgio Buarque de Holanda brilhantemente descreve como nascia uma povoação:

 

O advento em número maior de novos casais já deve sugerir o bom êxito do estabelecimento, que no entanto só se fará considerável a partir do momento em que nele fabriquem Igreja. Mas não se espere provisão de Capela Curada antes de achar-se o sítio razoavelmente povoado e com renda regular, mesmo porque não haverá de despachar o Ordinário qualquer petição com tal objeto antes de assegurar-se de ali existirem recursos para conhecenças ou aleluias e pé de altar capazes de sustentar uma Cura de almas ou ainda pessoa abonada para Padroeira do Templo e que se obrigue a dotá-la com aquela decência que pede o santo ministério. Seja como for é de começos como esse que irá nascer depois muita vila, ainda quando a afluência de moradores numerosos e sua vontade de aglutinar-se em POVOADO possam vir de causas menos devotas. Para organizar-se, entretanto, o aglomerado espontâneo em ENTIDADE MUNICIPAL, era mister que atendesse a requisitos complicados, morosos e nem sempre coerentes, pois se nos primeiros tempos bastava agasalhar um mínimo de 30 cabeças de casal.”[7]

 

 Entre os primeiros povoadores de Taubaté encontram-se uma plêiade de bandeirantes tais como:

 

Antônio Delgado de Escobar – paulista, filho de João Delgado de Escobar e de sua mulher Beatriz Ribeiro, foi sertanista dos primeiros descobridores de ouro nas Minas Gerais. Faleceu nessa lida e foi inventariado em Taubaté, em 1708, estando casado com Inês Gil;

 

Antônio Delgado de Escobar (filho) – filho de Antônio Delgado de Escobar e de sua mulher Inês Gil, foi com seus pais, antes de 1698, para as Minas Gerais, largando as terras que tinha junto ao rio Uma, na ambição de minerar ouro. Foi casado com Antônia Furtado e faleceu em Taubaté, em 1715;

 

Antônio de Faria Albernaz – capitão paulista que tomou parte na bandeira de 1636, chefiada por Antônio Raposo Tavares e que talou a região do Tape, no Rio Grade do Sul. Foi casado e faleceu em Taubaté, em 1663;

 

Bartolomeu da Cunha Gago – tomou parte b expedição de Fernão Dias Pais, ao encalço da Sabaraboçú, saída de São Paulo em 1674, e segundo alguns escritores foi o primeiro que nessa diligência cuidou de procurar ouro, tendo encontrado algum porção em 1680. Foi casado com Maria Portes de El-Rey, filha de João Portes de El-Rey e faleceu em Taubaté, em 1685, deixando geração;

 

Carlos Pedroso da Silveira – famosíssimo personagem da História do Brasil Colonial, foi Provedor da Casa de Fundição de Taubaté. Faleceu, assassinado numa emboscada, na vila de Taubaté

 

Domingos Rodrigues do Prado – certamente uma das mais características figuras do paulista antigo, altivo, insubmisso e desassombrado. Nasceu em Taubaté, filho do homônimo Domingos Rodrigues do Prado, o Longo e de Violante Cordeiro de Siqueira. Figura ente os primeiros descobridores de Minas Gerais. Faleceu em 1738, a caminho de São Paulo. (As biografias foram extraídas da fonte abaixo relacionada[8]).

 

Esse rol poderia ser listado de A/Z mas, no momento não caberia um inventário completo.

A Vila de Taubaté tornou-se a base de penetração para as regiões além Mantiqueira, conhecida como os sertões dos Cataguás, de onde chegavam notícias da presença de metais preciosos. Reportando-se à coleção de notícias dos primeiros descobrimentos das minas na América, contidas no Códice Costa Matoso[9], sabe-se que no ano de 1693, Antônio Rodrigues de Arzão descobriu o tão procurado metal precioso.

A partir dessa data Taubaté tornou-se o centro irradiador de povoamento dos sertões mineiros.

Antônio Rodrigues Arzão, Carlos Pedroso da Silveira, Manoel Borba Gato, Manoel Mendes do Prado, Bartolomeu da Cunha Gago, Manuel Garcia Velho, Tomé Portes Del Rei, Antônio Garcia da Cunha, Bartolomeu Bueno da Silveira, João de Siqueira Afonso, Miguel Garcia velho e tantos outros, foram taubateanos ou moradores da Vila de Taubaté que semearam cidades nas Minas Gerais.

Seguiu-se, então, a fundação, por taubateanos ou moradores da Vila de São Francisco das Chagas – das seguintes dezoito (18) cidades mineiras:

 

SABARÁ [10]

Fundador:- Manuel Borba Gato

Ano da Fundação – entre 1674/1678

 

MARIANA – Cidade Irmã de Taubaté

Fundador:- Salvador Fernandes Furtado de Mendonça

Ano da Fundação – 16/07/1690

 

POUSO ALTO

Fundadores:- Antônio Delgado da Veiga

João da Veiga

Manuel Garcia Velho

Ano da Fundação – 1692

BAEPENDI

Fundadores:- Antônio Delgado da Veiga

João da Veiga

Manuel Garcia Velho

Ano da Fundação – 1693

 

CAMPANHA

Fundador:- Padre João de Faria Fialho

Ano da Fundação – 1693

 

PITANGUI

Fundador:- Bartolomeu Bueno de Siqueira

Ano da Fundação – 1694

 

ITABERAVA

Fundador:- Bartolomeu Bueno de Siqueira

Ano da Fundação – 1694

 

OURO PRETO

Fundadores:- Antônio Dias de Oliveira

P.e. João de Faria Fialho

Antônio Rodrigues Arzão

Ano da Fundação – 1698

 

ANTONIO DIAS

Fundador:- Antônio Dias de Oliveira

Ano da Fundação – entre 1701/1706

 

SÃO JOÃO DEL REI

Fundador:- Tomé Portes Del Rei

Ano da Fundação – 1701

 

TIRADENTES

Fundador:- João de Siqueira Afonso

Ano da Fundação – 1702

 

CARRANCAS

Fundador:- Serafim Correia

Ano da Fundação – 1703

 

PIRANGA

Fundador:- João de Siqueira Afonso

Ano da Fundação – 1704

 

AIURUOCA

Fundador:- João de Siqueira Afonso

Ano da Fundação – 1705/1706

 

CAXAMBU

Fundador:- Carlos Pedroso da Silveira

Ano da Fundação – 1706

ITABIRA

Fundadores:- Salvador Faria de Albernaz

Francisco Faria de Albernaz

Ano da Fundação – 1720

DELFIM MOREIRA

Fundadores:- Miguel Garcia Velho

Ano da Fundação – 1740

 

ITUTINGA

Fundadores:- Sertanistas taubateanos

Ano da Fundação – 1794

 

 

Em 1789, irrompe na Capitania de Minas Gerais, um movimento de natureza separatista propondo a instalação de uma república no Brasil. Esse movimento ficou conhecido como a Inconfidência Mineira.

Um dos mentores intelectuais desse movimento foi o Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, vigário colado da freguesia de Santo Antônio da vila de São José. Era taubateano, filho do Timóteo Correa de Toledo, o fundador da Capela do Pilar. Teve seus irmãos o Sargento Mor Luiz Vaz de Toledo Piza e Bento Cortez de Toledo como companheiros nessa rebelião.

Padre Carlos foi degredado para Portugal, Luiz Vaz para a África (Cambebe) e Bento Cortez refugiou-se para o sul do país. Anos depois, faleceu em Taubaté como Vigário Colado da vila.

Em fins do século XVIII, Taubaté “(…) Como São Paulo, sofreu de sangria demográfica, consequência do próprio bandeirismo que lhe dera projeção. Apesar disso, com vida econômica mais próspera, com posição já esboçada de capital da região”(…)[11]

 

Em 1815, já século XIX, o Brasil foi elevado a Reino Unido a Portugal e Algarves e, em 1808, a família real portuguesa transferiu-se para o Brasil.

Terminava aí o período Colonial do Brasil e iniciava-se um novo período: Período Imperial.

Viajantes estrangeiros como Spix e Martius (1818), Saint-Hilaire (1822), Debret (1827) deixaram registros sobre Taubaté, como sendo uma das mais importantes vilas de toda a província de São Paulo, onde os habitantes mostravam maior riqueza e abundância, assim como civilidade e cortesia.

Em 1822, o Príncipe Regente D. Pedro iniciou sua famosa caminhada até a cidade de Santos, passando pelo Vale do Paraíba:

 “Jovens de Taubaté, pertencentes às suas mais prestigiosas famílias, incorporaram-se também à Guarda de Honra do Príncipe D. Pedro, a fim de lhe emprestar apoio político, e proteção militar durante o decorrer de sua importante viagem à Província de São Paulo. Taubateanos de nascimento, ou de adição, que estiveram presentes no momento da proclamação da Independência: Bento Vieira de Moura, Fenando gomes Nogueira, Flavio Antônio de Andrade (natural de Paraibuna), Francisco Xavier de Almeida, João José Lopes (português de nascimento), Manoel Marcondes do Amaral, Rodrigo Gomes Vieira, Vicente da Costa Braga.”[12]

 

Antecedendo a chegada do Príncipe Regente a Taubaté, em 21/08/1822, houve uma troca de correspondências entre os religiosos franciscanos, a Câmara de Taubaté e o clero secular expressando o apresso e admiração da agente taubateana à pessoa de D.Pedro. O portador da mensagem do clero secular foi o padre Antônio Moreira da Costa, que posteriormente tornou-se Vigário Capelão da Guarda de Honra e Comendador da Ordem de Cristo.

Para a chegada de Sua Alteza o Príncipe Regente D. Pedro grandes festas foram programadas em sua honra. Além da hospedagem, seguida de recepção na residência do Cônego Antônio Moreira da costa, S.A.R. recebeu efusiva manifestação do povo. A noite, no cerimonial do beija-mão, desfilou na presença real representantes da melhor sociedade local.

A rua até então denominada Rua do Gado, em sua homenagem passou a se chamar Rua do Príncipe, hoje Rua XV de Novembro. À sua Guarda de Honra, formada em Pindamonhangaba, foram incorporados mais oito elementos de escol da sociedade taubateana. Para atender o acolhimento de D. Pedro foram autorizadas vários melhoramentos pela Câmara.

Pelos registros em jornais da época (Hemeroteca da Divisão de Museus, Patrimônio e Arquivo Histórico de Taubaté), nota-se que a vida, sociocultural se intensifica, com a vinda de companhias de teatro que se apresentam no teatro São João, além das apresentações das companhias locais. As corporações musicais “Filarmônica Taubateense” e “João do Carmo” participam ativamente de festas religiosas e profanas. Agremiações artísticas e literomusicais ampliam as opções de lazer. (…) No campo educacional, os conceituados colégios São João Evangelista (1862) e Nossa Senhora do Bom Conselho (1879), frequentados por alunos da cidade e de outas regiões, proporcionam melhoria no nível do ensino e prestígio para Taubaté.”[13]

 

 Em novembro de 1864, eclodiu a Guerra do Paraguai, que durou até 1870.

Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança para combater o Paraguai, cujo ditador, Francisco Solano Lopes, almejando uma saída do seu país para Oceano Atlântico, pretendeu anexar terras dos países vizinhos. A causa para a entrada no Brasil no conflito foi o aprisionamento de um navio brasileiro no rio Paraguai e a invasão do Mato Grosso.

Em janeiro de 1865, o povo taubateano inicia sua demonstração de amor à pátria colocando à disposição seus serviços: cada um, da melhor maneira que podia.

Foi o que o fez o Farmacêutico Francisco Joaquim de Barros Lima quando, num ofício dirigido à Câmara taubateana “desde já gratuitamente oferece-se para todos os misteres de sua profissão a todas as famílias desta cidade, de Caçapava, que derem um voluntário, e isto durante o tempo que durar a guerra”[14]

 

 Foi criado, no Rio de Janeiro, o Asilo dos Inválidos da Pátria, onde seriam recolhidos os servidores do país por sua velhice ou mutilação na guerra; foi solicitado à Câmara de Taubaté um subsídio recolhido entre os munícipes. O então Presidente da Câmara, Sr. José Francisco Monteiro, propôs que se convidasse os fazendeiros do munícipios para que auxiliassem nesse sentido. Ficou também, sob a responsabilidade da Câmara providenciar números suficientes de voluntários da pátria.

Foi lido em sessão da Câmara um “ofício do Comendador Antônio Moreira da Costa, seu irmão o cidadão Francisco Marcondes Varalo e seu genro, Dr. Francisco de Paula Toledo oferecendo a quantia de duzentos mil reis a cada voluntário, até o número de vinte, que neste município se apresentassem para seguir em desafronto dos brios nacionais na guerra em que se achamos contra o Paraguai.”[15]

 

Além da participação das várias classes sociais, os jornais da cidade também deixaram suas informações em artigos estimulando o patriotismo ao povo taubateano: “O Taubaté”, “Commercial”, “O Paulista”, “Imprensa Liberal”. Sendo uma imprensa livre, responsável e transparente também denunciou os abusos havidos no momento do recrutamento dos voluntários da pátria

. Em retribuição aos serviços prestados pelos grandes produtores de café, de Taubaté, “D. Pedro II, Imperador do Brasil, como Grão Mestre das Ordens Honoríficas do Império, outorgou títulos nobiliárquicos, àqueles que a tais honrarias fizeram jus(…)”[16]

 

Criou-se então, em Taubaté, os Titulares do Império:

Barão e Visconde de Tremembé – José Francisco Monteiro;

Barão e Visconde de Mossoró – José Felix Monteiro:

Barão Pereira de Barros – Cel Jordão Pereira de Barros;

Barão de Taubaté – Antônio Vieira de Oliveira Neves;

Barão de Pouso Frio – Mariano José de Oliveira Costa;

Barão da Pedra Negra – Manoel Gomes Vieira;

Barão de Jambeiro – Comendador David Lopes de Souza Ramos;

Conde de Santo Agostinho – D. José Pereira da Silva Barros.

Entre tantos vultos ilustres de Taubaté sobressai aquele que ultrapassou os limites do município e do país: José Bento Monteiro Lobato, nascido em 1882: “Poucos escritores brasileiros participaram tão intensamente dos acontecimentos de suas época quanto Monteiro Lobato que foi advogado, fazendeiro, editor, empresário, escritor e jornalista dos mais atuantes na vida brasileira Ao seu espírito aberto e perquiridor tudo interessava, desde os problemas da Literatura às questões de Sociologia, Finanças , aço e petróleo.”[17]

Lobato era um adolescente de 15 anos quando aconteceu outro importante fato na História do Brasil que também repercutiu em Taubaté: a Guerra ou Campanha de Canudos, detonada em 1897.

O Exército brasileiro enfrentou um movimento popular de fundo sócio religioso cujo líder foi Antônio Conselheiro.

Foi uma luta inglória para o Exército brasileiro.

No “Diário de Taubaté”, está registrada a seguinte notícia:

As vítimas do dever” – foi concorridíssima a missa mandada celebrar ontem, na igreja Matriz desta cidade pelo Diretório Republicano, em sufrágio da alma dos bravos militares assassinados em Canudos pelas hordas sebastianistas. Muitos oficiais fardados, entre os quais vimos os Sres. Coronel João Affonso, Tenente Coronel Malhado Rosa, Tenente Coronel João Mourão, Major Ignácio Marcondes, Major José Ramos Ortiz, Capitão João Penna, Capitão Máximo Guerra, Capitão China Filho, Capitão Malhado Filho, Capitão Eufrásio de Toledo, Tenente Hermínio Coimbra, Tenente Primo Affonso,                                                     Tenente Pedro Vaz de Toledo e muitos outros cujos nomes nos não ocorrem. Assistiram ainda a este ato grande número de oficiais à paisana e outros cavalheiros e muitas senhoras. Durante a missa e o Libera-me a Lira Taubateense executou no coro várias sinfonias adequadas. No meio da Igreja foi levantado um catafalco circundado de velas e flores. Fez a Guarda de Honra a Força Policial aqui destacada que deu as salvas do estilo.”[18]

 

Mais um interessante artigo do mesmo jornal:

“Rabulices” – Ora ai está: já não duvido mais da veracidade do encontro das armas de Sete Lagoas, com destino ao Antônio Conselheiro, nem da carta encontrada e apreendida em trânsito para o famigerado idiota do sertão baiano. E não duvido de nada disso, porque agora mesmo descobri que aqui, em Taubaté, nesta pacata cidade de S. Francisco, o herói de Canudos tem correspondentes, dedicados e pontuais, que com ele se entendem, sempre que o desejam. Ainda ontem, na Agência do Correio, eu li – numa letrinha, fingida e tremelicada pelo receio de que se achava possuído ao escreve-la ao bravo Lugar-Tenente do jagunço-mor o endereço seguinte, lançado sobre um envelope comum: Ao Herói de Canudos – Francisco Antônio Pajeú que tão heroicamente liquidou com o Herodes (Moreira César). Arraial de Canudos, Bahia”.  Ora, ai está. Vejam só que entusiasmo que nem no endereço pode o tal procurador – que com certeza não caiu na patetice de, dentro, inserir o seu verdadeiro nome – simular o seu bárbaro entusiasmo e deixar de largar uma batatada no próprio invólucro! Que “kagado”, e que “kagados”! Já que me ocupo de jagunços, vem ao caso referir aqui o aparecimento de um Conselheiro II, em busca do qual, à semelhança da pesquisa do Preste Juhan, já seguiu em força do Governo. Para ciência dos leitores transcrevemos em seguida um telegrama da “Notícia” que relata, sucintamente, a troca de cumprimentos feitos entre os fanáticos e as Forças Federais: O NOVO CONSELHEIRO”[19]

 

Muitas outras informações sobre Canudos circularam pelos jornais de Taubaté mas, não cabe aqui esgotá-las. Para finalizar este rápido levantamento histórico ficam aqui registradas as notícias sobre um herói taubateano, de Canudos:

 “TENENTE FIGUEIRA –   Acha-se entre nós esse valente e brioso oficial do Exército. Foi S. S.ª que debaixo de mortífero fogo dos jagunços conduziu uma ala do legendário 7º até o centro de Canudos. Nós, que sempre admiramos os bravos, afetuosamente cumprimentamos S.S.ª a quem, como brasileiros, nós daqui, tributamos sinceras e devidas homenagens.”[20].

 

“TENENTE FIGUEIRA JÚNIOR – Hoje rezam-se na Matriz desta cidade e na Igreja do Tremembé, missas por alma do bravo militar cujo nome encima esta notícia, tombando em defesa da Pátria e da República, nos ínvios sertões da Bahia. A primeira das missas mandada dizer pela família do finado será celebrada pelo Revdo. Cônego Benjamim de Tolledo Mello. A Segunda, em Tremembé, celebrada pelo Revdo. Padre Francisco Carlos de Alvarenga é mandada dizer pelos amigos da família Figueira e admiradores do denodado militar.”[21]

 

. Com essas notícias dá-se por encerrada participação de Taubaté nos acontecimentos do século XIX.

Iniciou-se o século XX e Taubaté abriu-se para um robusto impulso industrial que, diga-se de passagem, teve início no crepúsculo do século XIX: Companhia de Gás e Óleos Minerais de Taubaté (1883) e a Companhia Taubaté Industrial – CTI (1891), Indústrias Reunidas Vera Cruz (1923), Companhia Fabril de Juta (1929), Companhia Predial de Taubaté (1932), Fábrica Doces Embaré, Corozita (botões), Refinarias de açúcar, Sociedade Extrativa Dolomia, Fábrica de Doces Francano, Fábrica de Louças, Usinas de Laticínios ao longo das décadas seguintes.

De 1939 a 1945, eclodiu a Segunda Grande Guerra Mundial e em 02 de julho de 1944, o Brasil iniciou sua participação no conflito com o envio do 1º escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB), sob o comando do General João Batista Mascarenhas de Morais.

Os jornais taubateanos, mais uma vez, começaram suas publicações sobre o acontecido.

No prédio onde funcionou o Externato São José, na Rua Visconde do Rio Branco, foi instalado a Legião Brasileira de Assistência – Centro Municipal de Taubaté –  incumbido de prestar assistência às famílias dos convocados, que nessa época compreendiam 165 famílias fichadas, 80 das quais recebiam semanalmente suprimentos necessários à sua alimentação, além de assistência médica, remédios, peças de vestuário, etc., cuja necessidade seria comprovada pelas visitadoras em serviço.

 “Aos onze do corrente (março de 1944) desfilou, mais uma vez, garbosamente, pelas ruas da cidade, a tropa disciplinada e cheia de patriotismo do 1ºBatalhão do 6º Regimento de Infantaria, sediado nesta cidade. Por várias vezes a população taubateana tem tido o ensejo de admirar a disciplina dessa unidade do glorioso Exército Nacional que, para felicidade nossa, foi localizada há pouca mais de um ano na terra de Jaques Félix. A 04 de fevereiro de 1943, precisamente, chegava à nossa terá a primeira Companhia destacada pelo Comando Superior, para a nossa cidade.[22].

 

 “TAUBATÉ VIBROU – com os instantes cívicos da despedida do I/6º R.I. – Benção da Bandeira Nacional – Discurso – Desfile – Almoço no T.C.C. – Na casa de Taubaté – Missa na Catedral – Visita de irmãos d’armas – Partida da tropa, pela manhã de 14 – Notas da nossa reportagem. Terra predestinada para as epopeias, Taubaté viveu dias 11, 13 e 14 últimos, instantes de profunda emoção, de intenso ardor cívico, com as solenidades de despedida do I/6ºR.I. que, como parte integrante da FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA, deslocou-se para o Rio de Janeiro, onde tomará rumo que lhe determinar a alta chefia do Exército. (…) Sábado, 11, pela manhã, na Praça Dom Epaminondas, formaram o I/6º R.I., o 5º B.C., o Tiro 445, as escolas, as representações operárias e enorme massa popular. Mons. João José de Azevedo, vigário capitular da Diocese, deu a benção litúrgica à rica andeira Nacional oferecida ao 6º R.I. pela dama de São Paulo e pela L.B.A. A seguir, S. Excia proferiu empolgante oração, de alto sentido religioso e cívico. ‘Tocado pelo favônio morno da África ou pelo zéfiro suave da Itália imortal’, o Pavilhão auriverde teria naquela valorosa mocidade, valentes defensores. A seguir falam o Dr. Antônio de Oliveira Costa, Prefeito da cidade, num eloquente discurso de exaltação daquela juventude guapa que se aprestava para a luta. O Sr. Tenente Coronel Djalma Ribeiro dos Santos, Comandante do 5º B.C., manifestando a solidariedade fraterna da unidade de que é digno chefe; e o lustrado advogado conterrâneo Dr. José Luiz de Almeida Soares, em nome da sociedade taubateana. O Sr. Major Celso Lobo de Oliveira, Comandante do I/6ºR.I. tomou a palavra para agradecer e fê-lo emocionado mas confiante e eloquente. ‘Não era uma despedida do povo de Taubaté, mas uma prova pública da confiança que ele depositava no soldado da Pátria’. Terminam os discursos e as autoridades e demais pessoas representativas ruma, da tribuna defronte à catedral, para o palanque armado a Rua Dr. Pedro Costa a fim de assistirem ao desfile. Este, arrebata a todos! No seu característico uniforme verde-oliva de campanha, com o nome do Brasil ao braço, firmes e numa cadência impecável, os soldados receberam calorosos aplausos. A Bandeira foi coberta de pétalas de rosas, atiradas por senhoras e senhorinhas da sociedade taubateana, e o povo, postado ao longo de grande trecho da rua, ovacionou sem cessar o nosso Exército. (…) Terça-feira, (14), pela manhã, a unidade deslocou-se para o Rio de Janeiro, em trem especial. A estação esteve repleta. O Sr. Prefeito, Dr. Antônio de Oliveira Costa; o Sr. Comandante e Oficialidade do 5º B.C.; a diretoria da L.B.A., professorado, imprensa, delegações operárias e estudantinas, e povo em massa, correram a aplaudir nossos soldados. O Comandante Celso, ainda uma vez, dirigiu sua palavra de fé à nossa gente e reafirmou sua admiração por Taubaté. Tocou a banda do 5º B.C. e o trem partiu, levando aquela guapa mocidade que vai honrar no campo da luta as tradições de altivez e de dignidade do nosso caro Brasil!”.

 

Pela Imprensa escrita, durante um ano e seis meses, a sociedade taubateano acompanhou os feitos heroicos de seus Expedicionários em campo de batalha. Isto gerou um acervo substancioso de informações impossível de ser esgotado nesta síntese da História de Taubaté.

Precisamente há dezoito anos a Humanidade entrou para uma nova Era.

Está se iniciando uma nova ordem de coisas. Estão em transformações as perspectivas tecnológicas, a maneira de como pensar e reparar o meio ambiente, as ferramentas de comunicação e tantas outras modificações mas,… não mudaram os antigos valores humanos, não mudaram as antigas percepções daquilo que tem valor histórico, cultural e ecológico, daquilo que dá prazer em contemplar e conhecer.

E o canal, o elã que mantem essa chama viva chama-se: TURISMO!

Taubaté, com sua História riquíssima, seus recursos naturais e uma equilibrada infraestrutura urbana é um exponencial para o Turismo municipal, regional e nacional.

[1]  Morse M. Richard Formação Histórica de São Paulo – Difusão Europeia do Livro, 1970, p27

[2] Holanda, Sérgio Buarque Movimentos da População em São Paulo no século XVII – Revista do Instituto de Estudos Brasileiros – 1 , 1966, p 92

[3] Mariotto, Lia Carolina Prado Alves Em busca de um roteiro esquecido: o caminho entre as vilas de Parati e Taubaté. Filologia e Linguística Portuguesa 10/11. Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, São Paulo, 2008/2009 – p 317

[4] Holanda, Sérgio Buarque Movimentos da População em São Paulo no século XVII – Revista do Instituto de Estudos Brasileiros – 1, 1966, p 76

[5] Abreu, Maria Morgado de Taubaté – De Núcleo Irradiador de Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba Editora Santuário, 1985, p 17

[6] Idem p 18, apud Guisard Filho, 1938: 18/19

[7] Holanda, Sérgio Buarque Movimentos da População em São Paulo no século XVII – Revista do Instituto de Estudos Brasileiros – 1 , 1966, p 92

[8] Carvalho Franco, Francisco de Assis – Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil.

[9] Coleção Mineira Livro Códice Costa Matoso – Fundação João Pinheiro (FJP)

[10] Fontes: Leite, Mario Paulistas e Mineiros plantadores de Cidades 1961

Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – IBGE 1958

Ortiz, José Bernardo São Francisco das Chagas de Taubaté – livro 2º- Taubaté Colonial – 1988

Antonil, André João – Cultura e Opulência do Brasil

Almeida Barbosa, Waldemar de Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais – 1995

Alvará de Sesmaria a Serafim Correia, dada por D. Álvaro da Silveira de Albuquerque – 15/09/1703. (Da coleção “Governadores do Rio de Janeiro”, Livro XIV, fls. 175) – in Publicação Oficial de Documentos Interessantes para a História e costume de São Paulo, vol. LI. Arquivo do Estado de São Paulo – 1930)

[11] Müller, Nice Lecocq Taubaté – Estudos de Geografia Urbana. Separata da “Revista Brasileia de Geografia” N.º 1 – Ano XXVII – Janeiro/Março de 1965. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Conselho Nacional de Geografia, 1965, p82

[12] Abreu, Maria Morgado de – Taubaté e o 07 de Setembro – Jornal “Tribuna” – 07/08/1980 – Taubaté/SP

[13] Abreu, Maria Morgado de Taubaté – De Núcleo Irradiador de Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba Editora Santuário, 1985, p 37

 

[14]  Papeis Recebidos – 30/01/1865 – pp 226/227

[15] Idem – 24/11/1866 – pp 256/257

[16] Abreu, Maria Morgado de Taubaté – De Núcleo Irradiador de Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba Editora Santuário, 1985, p 57

 

 

[17] – Abreu, Maria Morgado de Abreu. Taubaté – De Núcleo Irradiador de Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba. Editora Santuário, 1985, p 74

[18]  Diário de Taubaté – 16/03/1897 – n.º 457, p.02 –

[19] Diário de Taubaté- 26/08/1897 – n.º574, p.01

[20]Diário de Taubaté- 15/04/1897 – n.º 478, p.02

[21] Diário de Taubaté- 27/08/1897 – n.º575, p.01

[22] Nossa Terra – 1940/1944 – Ano – nº 446, p 01