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sábado 11 maio 2024
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Nasce Joana d´Arc, renasce Judas

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Há inúmeras citações espíritas informando sobre vidas passadas de conhecidos Espíritos ao longo de suas existências. Para muitos, estas informações não devem merecer qualquer atenção dos estudiosos, seria perda de tempo, porquanto o importante seriam as lições e ensinos deixados por estes Espíritos em suas diversas passagens pela Terra.
Além disso, é muito delicado afirmar ser o Espírito X a reencarnação da personagem Y de nossa História. Apesar disto, muitos escrevem sobre estas reencarnações, alguns possuem razão dentro dos critérios espíritas, porém, outros se equivocam gravemente, criando certa desconfiança neste tipo de revelação espírita, e, por extensão, na própria Doutrina, sendo esta a pior consequência.
Embora seja totalmente desnecessário saber “quem foi quem” ao longo de nossa História, exceto para entender melhor a nossa própria jornada evolutiva, ao compararmos as vidas de um importante Espírito colaborador na evolução da Humanidade em momentos diversos, eventualmente os nossos dirigentes espirituais podem decidir por trazer determinadas informações sobre algumas personagens visando a um fim útil. É o caso, em nosso entender, de Judas Iscariotes, quando foi revelado ter reencarnado no século XV como Joana d’Arc.
De nosso conhecimento, a primeira menção desta possibilidade se deu por intermédio de Léon Denis, que escreveu pelo menos dois livros sobre a heroína francesa: Jeanne d’Arc médium (Joana d’Arc, médium) e La vérité sur Jeanne d’Arc (A verdade sobre Joana d’Arc).
O ilustre tribuno Divaldo Franco corrobora esta informação1, bem como o estudioso Gerson Monteiro2.
Em Crônicas de além-túmulo3, Humberto de Campos, pela psicografia de Chico Xavier, sugere a mesma possibilidade, comungada também pelo criterioso Hermínio de Miranda4.
E para ratificar mais uma vez esta notícia do além, a conceituadíssima médium Zilda Gama – pouco conhecida e lida pelos espíritas -, em O Solar de Apolo, ditado pelo Espírito Vitor Hugo, assim registrou5: “Herodes, o autor da matança dos inocentes, virá a ser mais tarde o protetor da infância desvalida com o nome de Vicente de Paulo. Judas Iscariotes renascerá como Joana d’Arc”.
Porém, esta certeza é de pouca relevância, se não buscarmos uma ou mais razões para a espiritualidade ter permitido trabalhadores nas lides espíritas receberem, em diversos momentos, esta particular informação.
Qual a imagem de Judas Iscariotes para o mundo? Se perguntarmos, mesmo no século XXI, muitos dirão: foi o infame traidor do Cristo, vendendo-O por trinta moedas de prata e que, descontrolado pelo remorso, cometeu suicídio. Deve, portanto, ser sempre lembrado e execrado como um fraco e ardiloso Espírito.
Das explicações espíritas já recebidas, todas também confiáveis, Judas realmente traiu Jesus, contudo, o fez enganado, crendo que após a prisão do Rabi da Galileia ele receberia como recompensa posição de destaque, permitindo assim a libertação de Jesus da prisão. Desta forma, juntos poderiam promover a libertação do povo de Israel de seu odiado algoz, o Império Romano, conduzindo os judeus para momentos de paz, alegria e principalmente liberdade.
Esta visão espírita do nascido na cidade de Queriote não é comungada pela maioria, mesmo entre alguns espíritas. Como consequência, ainda se insiste na tradição de malhar o Judas, em uma tentativa vã de puni-lo por sua participação significativa no desfecho do calvário e morte do Rei dos reis.
Vemos desta maneira – assim entendemos – que houve um bom motivo para a disseminação desta informação, visando mudar aos poucos a mentalidade do povo. Agora, vê-se Judas não como um Espírito vil e ignóbil, mas apenas como mais uma ovelha que se desgarrou do Pai, contudo, já tendo retornado ao rebanho há tempos.
E quem foram as principais personagens preocupadas com Judas, trazendo-o de volta ao rebanho, pouco tempo depois de seu suicídio, precisamente? Jesus e Sua mãe, Maria, como descrito em textos primorosos de Maria Dolores6/7.
Se Judas fosse o Espírito indigno e desprezível na visão de muitos, pode-se concluir que não teria merecido esta atenção especial, que sugere que ele realmente fora enganado. Judas, é oportuno lembrar, foi um Apóstolo de Jesus, um dos doze escolhidos, não poderia ser um Espírito primário como muitos assim ainda o veem.
De agora em diante, temos um Judas ressuscitado dos mortos, Espírito equivocado em passado longínquo, porém, soube entregar-se plenamente à causa da Humanidade, nas vestes de uma mulher inocente e humilde, sendo infamemente traída, como o fez com o Cristo, porém, pagando literalmente esta “dívida” na fogueira da intolerância, e, pelo testemunho de vida com desmedido fervor a Deus, libertou a gloriosa nação francesa de seus cruéis invasores.
Este agora é Judas de Queriotes, que soube levantar-se depois de cair fragorosamente envolvido nas teias da inveja e da intriga, deixando posteriormente um grandioso exemplo a ser seguido, através de seu reerguimento moral, por todos aqueles aspirantes a servir incondicionalmente Jesus hoje e sempre.
1 https://www.youtube.com/watch?v=kMsupTCwDQk
2 http://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/gerson-monteiro/judas-reencarnou-como-joana-darc-1604276.html
3 XAVIER, F. Cândido. Crônicas de Além-Túmulo. Pelo Espírito Humberto de Campos. 17. ed. 1. imp. cap. 5. Judas Iscariotes.
4 Hermínio, C. Miranda. Cristianismo a mensagem esquecida. 4. ed. Matão/SP: O Clarim – cap. 11. item III. Livre-arbítrio. pág. 303.
5Gama, Zilda. O Solar de Apolo. Pelo Espírito Vitor Hugo. 2ª parte – O Solar de Jesus.
6 Xavier, Francisco C. Coração e Vida. Pelo Espírito Maria Dolores. Editora IDEAL, 2013. cap. 14. Amor e Perdão.
7______. Momentos de ouro. Espíritos Diversos. Editora GEEM, 1977. Retrato de Mãe.