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sexta-feira 17 maio 2024
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Leitura de Taubaté – Bolsonaro deixa Freud com o saco na mão

Leitura de Taubaté – Bolsonaro deixa Freud com o saco na mão

Ele se chamava Enos e, segundo a opinião de alguns amigos, fora neto de Adão. Não era alto, não andava depressa, adorava meninas comuns, sem singularidades de beleza no rosto e corpo, mas de preferencia bundudas; as bundas afetavam o seu olhar, da mesma forma que faz o Bolsonaro olhar o ministro Guedes só de costas.

Enos possuía uma amiga chamada Dona Alucinética. Essa senhora nascera grudada, colada, aos padres, freiras, papas e bispos, um tipo de supervisor da Igreja, que costuma de vez em quando, esfaquear candidatos a presidente que tenham nádegas avantajadas e cérebros minúsculos. Todos os candidatos são escolhidos e selecionados por Dona Alucinética.

Numa tarde nublada, no seu quartinho de estudo, um tal de Copérnico, descobriu que a terra não pertencia ao centro do universo. Era uma coisinha insignificante, caroneira da Via Láctea. O papa da época passou três dias no banheiro, os padres e as freiras conferiram nos corpos uns dos outros, onde ficavam alguns órgãos que tinham respeito. Foi uma decepção. As beatas, os católicos de carteirinha passaram a ter hemorroidas nos gestos e na fé. O monge, vivente deste tempo, chamado Monge Bolsonaro, homem decidido tentou colocar Copérnico no pau-de-arara, porém, nos últimos minutos, foi aconselhado por um homem chamado Lula, que lhe disse: “deixa pra lá, companheiro, senta-te um pouquinho no pau da arara, se tu gostares, dar-te-ei uma criação.” Copérnico ficou, no dizer histórico, 30 dias escondido na casa do ministro Fernando de Moraes, por cisma e profecia ouvida na Globo News.

No mês de outubro, na padaria Vitória, do Rio de Janeiro, um cientista chamado Charles Darwin anunciou, no balcão das bebidas que os seres vivos não foram uma criação divina. Todos descenderam de uma única célula comum, enfrentando longos processos evolutivos. O Dr. Amável Pinto, num acesso de raiva jogou um ovo em Darwin. A Dona Ava-Gina, um caso à parte, olhou para o marido por uns 20 minutos, depois disse: “senhor Darwin, meu esposo, não evoluiu nada, ainda continua um primata analfabeto”.

Ao anoitecer, de um mês de junho, houve festa junina na Praça da Imaculada Conceição. Montaram umas 30 barracas de comidas típicas no Largo da Estação dos Esquizofrênicos. No banco vermelho de madeira da Amazônia havia um senhor sentado, solitário, meio encolhido em seu corpo e essência. Dona Juliana Edipicassiana, mulher do Júlio Tedioso, sentou-se ao lado daquele senhor. Enquanto acontecia o ensaio da quadrilha, Juliana perguntou-lhe: “O senhor está combalido, triste, mergulhado num passado que se silenciara há décadas. Por que não caminha entre as barracas”?

Minha senhora, eu sou o único responsável por ter aberto uma avenida no ego da humanidade. Em algumas avenidas, por necessidade, joguei um pouco de asfalto; em outras distribuí irregularmente uns paralelepípedos mal traçados; as mais complicadas, joguei um saco de areia do mar, areia áspera, salgada e mijada.

Minha senhora, após anos de estudo, descobri que todos os homens tem consciência de si e do mundo. No entanto, essa consciência bonitinha como fonte abstrata, não lhe obedece, não dá a mínima atenção às suas emoções, ações, atitudes. A maior parte do dia, do transito, da loucura, do desespero para se permanecer vivo e, um pedação da noite, atulhada de acontecimentos, o pobre vagueia fora da sua consciência.

Observando o ser humano por dentro e por fora, localizei num cantinho de sua cabeça, um sujeito a quem chamei de inconsciente, um sujeito que vive de cócoras, é o comandante, o capitão endoidecido que dirige uma grande parte do seu famoso eu psíquico.

Caminhando sobre suas emoções, num dia meio penso, dei de cara com um sujeitinho denominado pré-consciente, um tipo de armário, que abre as gavetas e lança os sonhos, os erros, os acertos, os desejos secretos, medos, vida escondida, na cara da realidade vivenciada. Agora, veja só, vou conhecer Brasília, a capital do Brasil, e, por castigo, encontro o presidente sentado num corredor, repetindo frases, ditos, os logos, da inconsciência.

Ele, Bolsonaro, com aquele rosto ainda em evolução, dizia baixinho: ”Sou um homem, sei que sou, mas altamente complexo. Eu nasci enchendo o saco da enfermeira. Eu adoro, desde a infância, causar dano a alguém. Adoro pensar propaganda sobre mim, a minha beleza, garotão másculo misturado com macho, anti-gay por convicção, poesia, música, um pouco de Bob Marley na garganta, um pedacinho de Tramp dentro da alma, uma querência pela estampa do Collor; todas as noites sonho com uma abobora que vira carruagem, ratinhos transformados em ministros, escadarias e o Renan Calheiros correndo atrás de mim, segurando meu coturno de cristal”.

Minha senhora, não me apresentei, desculpe-me, meu nome é Freud, sou o homem que descobriu o conflito entre o inconsciente e o consciente e, no caso do presidente, surge o inescrupuloso, o desguarnecido, o acidentalmente, o imprevistamente, o gurizão, o cachopão, o petizão.

Agora minha senhora farei uma oficina para tentar soldar, resgatar, acordar as memórias que estão presas no inconsciente e, se não der certo, no caso do Brasil, o negócio é despertar o Cabral, o Pero Vaz de Caminha, e recomeçar lentamente, sem forçar os índios a vestirem shorts, desmatando à Amazônia e a transformando em quadras de tênis.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues