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sábado 18 maio 2024
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Fé e Razão – Educar para a sensibilidade

A pouca importância dada na aprendizagem ao despertar para a sensibilidade e a beleza diz respeito a uma concepção utilitária da educação, que visa antes de tudo transmitir conhecimentos, métodos, rigor.

Forma-se o espírito e dá-se uma educação moral esquecendo a sensibilidade. Daqui a importância da educação dos sentidos: aprender a ver, escutar, tocar, saborear, a acolher esta experiência algo profunda de si e dos outros que passa pela sensação, para descobrir que se pode ter prazer em ver as coisas belas.

É uma educação para a sensação, mas também para a sensibilidade interior, quer dizer não se trata apenas de sentir, mas também de ressentir, de estar atento às nossas emoções e ser capaz de as nomear.

Esta educação para a beleza e sensibilidade pode-se traduzir-se concretamente na vida cotidiana. Por vezes há a tendência de dizer que a beleza é um luxo reservado a uma elite, e que não faz parte das coisas essenciais da vida através das quais um pessoa acredita que se pode desenvolver. É preciso abrir a vida dos mais pobres a esta dimensão. Não é uma questão de dinheiro nem de luxo, mas de qualidade, que vai alimentar o sentido daquilo que é bem feito, e estimula na pessoa o desejo de se aperfeiçoar.

A criança precisa de nós para enriquecer as suas experiências, para a colocar em contato com belas paisagens naturais, fazê-la deter-se num rosto, numa música, numa obra de arte. Numa época marcada pela urgência do consumo, é importante reservar tempo para lhe fazer verbalizar as suas emoções: sinto-me bem, o dia está bonito, respira, descrever o que se ressente. É por este caminho que se entra na dimensão da contemplação e que há abertura à admiração e ao louvor.

O espírito crítico tem sido cultivado em detrimento do louvor e da admiração. A beleza suscita o desejo. É uma das facetas pelas quais o absoluto se dá a ser aprendido neste mundo. Ela vem tocar-nos no sensível, religando a nossa intimidade e uma fração do mundo que de repente faz sentido. Esta experiência torna-se o ponto de partida de uma busca. A coisa bela é também algo de Deus que se manifesta e nos eleva para Ele pelo desejo e pelo amor. Ao contrário do estetismo, que tende a fechar-se em si próprio, a experiência da beleza é um caminho para Deus.

A beleza não é o bonito, é o que faz com que uma forma se deixe transfigurar pela luz. Quando se olha um vitral do exterior, é opaco e sem cor.

Mas quando é contemplado do interior, habitado pela luz, fica completamente transfigurado.

O sentido da beleza educa-se aprendendo a ver, a escutar, a contemplar. Porque a beleza só se dá àquele que sabe reservar tempo para a saborear. Essa sensibilidade desperta a contemplação a essência da vida, a contemplação e abre a Deus .É preciso educar a sensibilidade humana.

Prof. José Pereira da Silva