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quinta-feira 30 maio 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Quem não deve, não teme!

Sonhos são esquisitos, né? Olha só…, algumas noites atrás, sonhei que dirigia pelas ruas da minha Taubaté e quando entrei em uma rua, no sonho não consegui identificar, lá estava uma blitz da polícia. Percebi que um policial, assim que me viu, saiu no meio da rua. Imediatamente acendi a luz interna do carro, deixei a lanterna ligada e apaguei o farol, para não atrapalhar a visão do policial, dei seta, abri a janela e parei.

Sabe porque fiz isso? Quem não deve, não teme. Sou honesto, cumpridor das minhas obrigações e até votar, votei. Todo orgulhoso (tadinho de mim) porque no meu país tem urna eletrônica…ai, ai, ai. Claro, no meu sonho eu acreditava em tudo e pensava que, se sou honesto, todo mundo é. Doce ilusão.

No sonho, talvez eu tivesse uma síndrome da velhinha de Taubaté, até em políticos e juízes eu acreditava, Só em sonho mesmo…

Nesse delírio, inconsciente e maluco, onde nada se explica, o policial se aproximou e com voz autoritária me disse.
— Quero ver seu código fonte.
Contrariado, mas consciente das minhas obrigações, lhe entreguei minha habilitação. Sim, fiz isso, não devo nada, mas, imagine se eu fosse um bandido? Um ladrão? Se tivesse roubado ou escondendo algo?
Não mostraria minha habilitação de jeito algum, fugiria, tentaria escapar e a polícia viria atrás de mim, talvez até o exército, FBI, CIA e etc…
Confusão, correria, susto, medo, enfim…
Mas, sou honesto e quem não deve, não teme. Né?

O policial verificou minha habilitação, sorriu para mim, agradeceu, devolveu meu documento e segui em frente.
Nesse sonho doido, passei no colégio do meu filho e seguimos para o cinema, filme para maiores de 16 anos e ele com 17 (afinal, era só um sonho).
Naquela insanidade toda, o porteiro, um grandão de quase dois metros, estendeu a mão na frente, de forma robotizada, e olhando diretamente para o meu filho, falou asperamente.
— Você não tem 16 anos, quero ver seu código fonte.

E, meu filho, irritado mas consciente que não estava mentindo sua idade, ou escondendo algo, não tinha porque esconder, apresentou seu RG. Claro, quem não deve não teme.
Mas, logo atrás dele, vinha um garoto, com no máximo 12 anos, acompanhado do pai, um homem totalmente calvo, careca brilhante e, no sonho, imaginei um assustado empregado lustrando desesperadamente a careca do poderoso senhor enquanto outro esperava com uma toalha perfumada para secar a ilustríssima careca.

O porteiro grandão imediatamente entrou na frente e falou.

— Você não tem 16 anos, quero ver seu código fonte.
O poderoso senhor, apavorado, com medo que descobrissem a falcatrua, rapidamente gritou.
— Isso é um absurdo. Isso é falta de respeito com meu filho e comigo. É antidemocrático.
— Senhor, por favor, só quero o código fonte.
Consciente que não poderia mostrar o RG do garoto, para não entregar a verdade, e apavorado com os olhares de todos sobre si, pegou uma caneta e um bloco de papel e falou de forma autoritária.
— Sou poderoso, sou Deus aqui na terra, e, por me desrespeitar…, vou te multar em um milhão de reais e já estou colocando uma lei que proíbe porteiros de questionarem o meu protegido.
Né?
Quem não deve, não teme.
Quem deve…