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quarta-feira 8 maio 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Impunidade e banalização da violência

Mais uma vez. Mais uma vítima. Mais um número, uma estatística e fica só nisso.
Um tiro na cabeça após, supostamente, uma tentativa de assalto, estraga-se uma vida, destrói famílias, encerra sonhos e a violência continua.
E, sabe o pior da violência? É a sua banalização. Apenas mais uma vítima, um número, uma estatística e assim vai…
Por uns dias, a comoção geral, a torcida pela difícil recuperação, mas e daqui a dois meses? Dois anos? 10 anos? E aí?
Mingau, da banda Ultraje a Rigor, cruel e covardemente atacado na, antes pacata, cidade de Paraty, é mais uma vítima dessa guerra urbana. Ou seria dessa impunidade que toma conta de nosso país? Até quando?
Por enquanto só nos resta rezar por ele.

E os milhares ou dezenas de milhares de anônimos que sucumbem no dia a dia à crueldade de criminosos, bandidos. Essa raça nojenta que ao invés de trabalhar vai roubar, tirar o que é dos outros, tirar de quem trabalhou e ainda atira, mata, traz sofrimentos, deixa sequelas, estraga o futuro de pessoas, destrói famílias, apaga sonhos.

Quem se lembra do Gerson Brenner, por exemplo? Ator de sucesso, galã da televisão e em um ataque covarde e cruel, estragou-se uma vida. Quanto Gerson não poderia ter brilhado? E quanto ele já sofreu com a terrível guinada que sua vida deu? Quantas lágrimas não rolaram? Quanto sua família não deve ter sofrido ao ver um ente tão querido, tão cheio de vida, com tanto futuro pela frente, ter seu brilho, talento e futuro retirado pelas mãos de bandidos, de gente (se é que podemos chamar assim) que nada tem a perder em suas próprias vidas miseráveis.
E quem se lembra agora? Quem se importa?

E quantos Gersons Brenner anônimos que estão por aí? Sonhos ceifados por mãos cruéis que empunham armas, por mentes destituídas de qualquer valor moral, mentes destituídas de amor ao próximo, destituídas dos ensinamentos do cristo. Espíritos baixos, sofredores, que muito a pagar levarão para o outro lado. E lá vão pagar, sim. Com juros e correções. Da justiça dos homens pode até conseguir escapar, mas da justiça divina jamais.

Agora, enquanto estamos aqui, que segurança temos? Pessoas desqualificadas tiram vidas, deixam sequelas, estragam sonhos e tudo continua do mesmo jeito. A violência cada vez mais banalizada, a impunidade cada vez mais embrenhada em nossa sociedade.

O que podemos fazer se nossa própria justiça, como sempre cega, não consegue ver o óbvio.
A Deusa Temis, divindade grega por meio da qual a justiça é definida, continua com seus olhos vendados. E para que serve afinal a balança em suas mãos se o que vemos é pender para o lado da impunidade?
A quem interessa isso?

Porque não se moderniza de vez nosso código penal? Porque temos que ter penas máximas de 30 anos? Por que essa progressão que permite bandidos se verem livre da cadeia com poucos anos de cumprimento de pena? Reinserir bandidos na sociedade? Porque menores de 18 anos podem votar para presidente, governadores, senadores, deputados e prefeitos e não podem responder por seus erros?

Não sou advogado, juiz ou especialista no assunto e talvez não devesse me aventurar por águas que não conheço, porém, como cidadão honesto e trabalhador que sou, me revolta demais essa impunidade e essa banalização da violência.