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quarta-feira 8 maio 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – Ai que medo das sereias

Vamos de conto???
O barco de pesca cortava as águas lentamente. Parecia estar com preguiça sob o ardente sol de meio dia e Geraldo olhou no encontro de mar e céu e ficou ali, quase em transe, olhando e pensando, pensando e olhando. Longe da realidade, sonhador, pensava em uma velha história do mar, sereias. Existiriam? Você tem medo delas?
Viu um cardume de peixes passando próximo ao barco, não se moveu. Apenas sorriu, satisfeito com a quantidade que já pescara. Entrara no mar no começo da noite anterior e, logo, percebeu, pelo sonar, o gigantesco cardume de peixes espada passando sob o barco. Aos gritos de felicidade, jogaram as redes e a pesca foi ótima. Não eram os melhores peixes para revenda, mas dava para fazer um bom dinheiro com ele. E, agora, voltando para terra firme, depois de mais uma noite no mar, ele estava admirando o horizonte e deixando os pensamentos viajarem e, sem perceber, começou a pensar na lenda das sereias. Será que realmente existiam e, se fosse verdade, como seriam. Um dos colegas, o Juliano, veio até ele e perguntou.
— Que cara sonhadora é essa Geraldo?
— Estava pensando Juliano…, será verdade que existem sereias?
— Ah, para com isso homem. É melhor não ficar falando nelas.
— Mas, você acredita que existem?
— Claro que existem, mas não quero ver não, Deus me livre.
— Deixa de ser medroso Juliano.
— Medroso? Já ouvi muitas histórias sobre as danadas e não são boas não. Elas matam gente com seu canto. Ao ouvi-las cantando, você entra no mar atrás delas.
— Bobagem Juliano. Não acredito que existem, mas se existirem, queria vê-las.
— Bobagem? Não é não, irmão. E não fica falando que quer ver as danadas, pois, se te ouvirem falando, podem aparecer para você. E vai se arrepender.
— Oba, isso que eu quero.
Juliano fez uma careta e saiu dali, era melhor não se arriscar a ficar perto do amigo.
Geraldo olhou atentamente para as águas e sussurrou.
— Venham sereias, venham…eu as quero.
Nada aconteceu, balançou a cabeça. Talvez estivesse ficando louco em acreditar na lenda. Puxou uma cadeira de praia, sentou e fechou os olhos, então, ouviu um rebuliço no mar perto do barco e abriu os olhos e, para sua surpresa, havia uma linda mulher apoiada no parapeito do barco. Ela o olhava e sorria o mais belo dos sorrisos.
— Meu Deus, mas o que é isso? Quem é você? De onde surgiu?
Ela tinha os olhos mais azuis que já havia visto e apenas sorriu. Ele pensou em chamar Juliano, mas a bela começou, suavemente, a cantar uma linda canção e sua voz era a mais doce que já ouvira. Ele se sentiu inebriado, parecia estar no paraíso. A perfeição daquela voz o embriagava e, então, percebeu que ao invés de pernas, a linda mulher tinha um enorme rabo de peixe.
— Meu Deus, você é uma sereia! A mais linda de todas as sereias.
E desejou que Juliano não aparecesse, só para que aquela linda voz ficasse só para ele e ninguém mais. De repente, a doce voz começou a chama-lo, era irresistível. Nunca alguém dissera seu nome de uma forma tão meiga e suave. Ela o chamava, e Geraldo ficava mais e mais embriagado pelo poder de sedução daquela voz e teve certeza que aquela mulher maravilhosa estava apaixonada por ele. Ela o chamava, o chamava. Ele subiu no parapeito e não teve dúvidas. Mergulhou no mar e, então, Juliano o sacudiu dizendo.
— Acorda homem, está dormindo todo agitado e vai acabar caindo da cadeira.
Ele olhou estupefato para o amigo.
— Mas, cadê ela?
— Você estava sonhando homem.
Ainda atônito e sem acreditar no sonho, levantou foi olhar o mar e viu algo brilhando no parapeito, era uma enorme e brilhante escama de peixe. Olhou para o mar e sorriu.