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terça-feira 28 maio 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – A saga do Zé biruta

Hoje vou contar a saga do respeitadíssimo senhor Zé biruta. Imagine só a situação…
O Zé biruta, olha para o relógio do celular, que berra ao seu lado, desliga e vira de lado…só mais cinco minutos, aí levanto. Trinta minutos depois, acorda sobressaltado, estava sonhando com um cão que latia alucinadamente, xinga o cão imaginário com meia dúzia de bons palavrões, esfrega os olhos e só então percebe que era somente um sonho.

Se vira na cama, pega o celular e confere as horas, dá um grito horrorizado e pula da cama. Trinta minutos atrasado. Abre a torneira, joga um pouco de água no rosto e na boca. É o suficiente. Banho e escovar os dentes, melhor deixar pra depois. Está muito atrasado…de novo.

Sai do banheiro tropeçando e coçando o orgulho masculino, procura meias limpas, não tem, praguejando, coloca uma suja mesmo. Se arruma de qualquer jeito, derruba coisas pelo chão e as deixa por ali mesmo. Dá uma última olhada para o quarto, a cama desarrumada com metade do edredom esparramado no chão e pensa. – Arrumar pra quê? A noite vou desarrumar de novo. Olha para o chão que está cheio de roupas sujas, camisas, bermudas, calças, meias e cuecas, uma delas, pendurada no encosto da cama, parecendo uma bandeira gritando, pelo amor de Deus, por água. Sabe Deus há quantos dias está ali. Camisas amarrotadas e sujas esperam pacientemente, sabem que vão acabar sendo usadas de novo antes de serem lavadas. Sai atabalhoadamente do quarto e entra na cozinha. Prefere não olhar para a pia lotada de louças sujas e fedidas. Pega um pacote de bolachas no armário, abre e uma delas cai, cria perninhas e corre pra baixo do armário. Vai fazer companhia para outras três que já estão lá. Ratos, baratas e formigas agradecem.

Entra no carro, torce o nariz para o mal cheiro, aciona o controle do portão e sai, quase atropelando um pedestre. Nem se preocupa em pedir desculpas. O desgraçado tinha que passar no momento em que estava saindo? Fecha o portão, manobra o carro, parando o trânsito e alguém buzina e ele buzina de volta e, educadamente, coloca o dedo médio pra fora.

Engata a segunda, acelera, vira à esquerda, sem olhar no retrovisor e sem dar seta, mais uma buzinada e novamente o dedo médio pra fora do carro, dessa vez acompanhado de um palavrão, pronunciado com muita gentileza. Acelera, olha o sinal verde lá na frente e grita.

— Merda! Não vai dar tempo.
Acelera, buzina e cola no carro da frente que, assustado, sai de lado para o Zé biruta passar.
O doidão acelera ainda mais. Brilha o amarelo, afunda o pé no acelerador e uma senhorinha atravessando a rua, quase na metade, dá um salto mortal para trás e, parecendo um velocista em prova de cem metros, volta correndo para a pseuda segurança da calçada e o Zé biruta dá gargalhadas com o susto da senhorinha. O sinal vermelho brilha e ele acelera ainda mais. Pedestres na faixa, desistem de atravessar e devem ter pensado – Olha o Zé biruta! –

Ele mete a mão na buzina alucinadamente e passa o vermelho. Carros, na outra rua, freiam para o bonito passar. Lá na frente, a mão é para a esquerda, mas tem uma ruazinha à direita que lhe economizaria uma volta enorme, é só um pedacinho, uns quarenta metros. Qual o problema de entrar nela? Não tem polícia, não tem câmera de trânsito. E o Zé biruta pensa.

— Foda-se! Vou entrar, é só meter a mão na buzina que os tontos me dão passagem.
E assim foi e no final da rua, entrou à esquerda e sorriu, satisfeito com sua esperteza.
Rua após rua o Zé Biruta passou sinais vermelhos, colou na traseira de outros carros, desrespeitou pedestres, placas de trânsito e, é óbvio, em nenhum momento sinalizou com setas as suas curvas ou mudanças de faixas. Seta? Para quê? Qual utilidade?

No último semáforo, antes do serviço, não teve jeito…teve que parar. Um motociclista parou ao seu lado, o chamou e disse.
— Moço, o senhor sabe pra que serve essa alavanca do lado esquerdo do seu volante?
— Na verdade, nunca tinha percebido que havia essa alavanca aqui.
— Então…isso daí é pra dar seta…sabe o que é isso?
— Hã? É… acho que sei…
— Então…, por favor, use.

Sinceridade, acho que em Taubaté está cheio de Zé biruta no trânsito.