Search
quarta-feira 1 maio 2024
  • :
  • :

Comilanças Históricas e Atuais – Seven: os sete pecados capitais – a psicopatia

Comilanças Históricas e Atuais – Seven: os sete pecados capitais – a psicopatia

I – Filme: Os sete pecados capitais
É um filme que acelera o nosso coração, angustia a nossa alma, suspende a nossa respiração e, de alguma forma, nos leva a perceber os mistérios que existem no interior e na lateral de nossa existência.
O filme narra a história de dois policiais, um deles é jovem e sonha em chegar ao pico da profissão, passou cinco anos trabalhando numa divisão que tratava de homicídios; o outro é policial maduro, culto, esperando a sua aposentadoria, fato que aconteceria em sete dias; os dois são escolhidos para investigar os crimes de um serial killer que se orienta para matar, com base nos Sete Pecados Capitais.

II – Esclarecimentos
O termo serial killer, significando assassinato em série, foi usado pela primeira vez, numa tarde de verão, no de 1970. O agente do FBI, um analista de perfis psicológicos de assassinos que matavam várias pessoas, usando o mesmo método, chamado Robert K Ressler, observara que esses assassinos matavam por desvios sexuais sádicos, perversos, animalescos. Os seus crimes tinham como ponto de partida a fantasia, que navega por corpos carregados de desejos, ordem e desordens psíquicas. Esse quadro os leva a planejar, pensar, refletir, e executar as suas fantasias na esfera da vida real.

III – Esclarecimento
Os chamados Pecados Capitais surgiram no século IV, criados por um monge grego Evágirio Pôntico, um ser que está vivendo no ano de 354 d.C. Esse monge deve ter contado as estrelas do céu, os astros visíveis no universo, as aves que sobrevoavam as florestas e os cânticos que cruzam a sonolência do sol, os peixes dos rios e mares e, depois, listou todos os vícios que deslocam os seres humanos da plena vivência espiritual. A sua reflexão elencou a soberba; a avareza; a inveja; a ira; a luxúria; a gula e a preguiça.

No século VI, o Papa Gregório I sonhou que uma nova lista dos pecados capitais escorregava pelas paredes de uma montanha. Gregório vivia o século 540 d.C., no entanto, pensando em seu pesadelo, escreveu nova lista pecaminosa: inveja; ira; avareza; gula; luxúria; tristeza; vanglória. Após escrever os pecados capitais escorridos pelas montanhas foi passear nos jardins sem referência.

O frade Tomás de Aquino, um monge filósofo, teólogo, profundo pensador das coisas simples e, por isso, guardam os mistérios vindos do tudo e do nada, resolveu rever a lista dos pecados. De certa forma, apresentou a lista definitiva que temos hoje: soberba; avareza; inveja; ira; luxúria; preguiça; gula.

O coração de Tomás de Aquino refletiu sobre o orgulho, a vaidade, o apego exagerado aos bens materiais; a tristeza pelas conquistas dos outros, a inveja de Caim sobre Abel; a raiva e a fúria descontrolada; a procura exagerada pelos prazeres sexuais; o desejo exagerado pela comida, alimento; a falta de vontade de realizar-se nesse mundo, para o benefício da humanidade.

IV – Esclarecimento
O diretor David Fincher levou a história a ser narrada, através da lente das câmeras, para dentro de nossa pele, do nosso coração, sacudindo a nossa emoção.

O roteirista Andrew Kevin Walter submerge nas fontes da literatura, das teorizações sobre o pecado, a psicopatia, as influências e definições da ciência, as vozes religiosas, e os caminhos percorridos pela perversão, para escrever o roteiro que nos leva a fitar a lua como astro que comanda a noite. Ele, como autor do argumento, nos apresenta a psicopatia como transtorno de personalidade, uma anomalia do desenvolvimento psicológico que perturba a integração psíquica de formas contínua e persistente.

V – Primeiro crime
Um homem imensamente gordo foi amarrado e obrigado a comer até a morte. Atrás da geladeira, escrito em gordura, está a palavra Gula. No ar, repassado pelo vento, assistimos à condenação do guloso, a passagem do desejo incontrolável pela comida; o rompimento de sua vida, estampado em seu corpo, apresenta-nos um pecado que é líder, por isso, capital.

VI – O segundo crime
Ele era um famoso advogado, um homem admirado por boa parte da sociedade. O seu assassinato foi violento, cruel, bestializado. Na parede, escrito com o seu próprio sangue, surge a palavra cobiça.

Ele sempre sonhou com riqueza, compras de terras, iates, casas, pontos comerciais, viver as dores das mulheres mais lindas da terra. O seu corpo estava amarrado, a cabeça apoiada nos livros, rosto cortado, um pedaço do corpo cortado e pesado. A posição é de quem pede perdão pelos pecados, ou seja, soltar criminosos por dinheiro, defender falsários e milionários ordinários.

A morte com a cabeça nos livros de direito, representa que o seu fim centrava na lógica absurda que o leva ao cheiro azedo do dinheiro.

VII – O terceiro crime
Um homem, um ex-cliente do advogado assassinado, vivia desleixadamente, negligência pela existência, proprietário de uma morosidade que o leva a um estado inerte, sem ação e movimento. Estava amarrado a uma cama, imóvel. Era alimentado com soro e cortado lentamente ao longo dos seus dias inúteis. No desespero vagaroso, para dilatar o seu tempo, comeu a própria língua.

VIII – O quarto crime
Num bordel, um homem amarra-se numa cadeira. Uma arma, um falo cortante, penetra o corpo de uma prostituta até a morte. No bordel, desde as luzes, tudo nos leva ao excesso do luxo, do sexo, da bebida, da droga.

IX – Um pequeno desvio
O psicopata aparece pela primeira vez. O detetive Mills, escapou da morte devido a um gesto incompreensível praticado pelo psicopata que, misteriosamente, salva-lhe a vida, durante uma perseguição.

A mulher do jovem detetive Mills confessa ao experiente policial Somerset, a sua tristeza. Não tem amigos, sente-se muito só; a angústia e a confusão tomam conta dos seus pensamentos. Ela está grávida, mas não contou ao marido, a sua depressão é visível e a sua casa balança, quando da passagem dos trens do metrô, sua vida é marcada pela instabilidade.

X – O quinto crime
Uma linda mulher tem seu rosto desfigurado, morre com um telefone colado a uma das mãos, na outra, tem um frasco de remédios. A beleza precisa de remédio para dormir. Pegue o telefone e peça socorro, a mulher linda não existe mais. O psicopata, assassino busca o seu próprio prazer no momento que mata, pois, a sua finalidade é humilhar a vítima, para reafirmar o seu domínio sobre o outro.

XI – O sexto e o sétimo crime
QO psicopata John Doe entrega-se a polícia. A sua confissão fria e torpe, fala que já tem o corpo de alguém que morreu pela inveja. Só ele sabe onde o corpo está. Existe um outro corpo, no entanto, que lhe poderá oferecer a Ira, mas ele não tem pressa. John Doe é conduzido pelos dois detetives para fora da cidade, um local sob a luz do sol, a beleza da estrada, lá estão as duas vítimas.

No caminho, sob o olhar das nuvens, o psicopata confessa que o seu desejo e prazer pessoal é ter o poder de fazer cada pecado capital reentrar na dor do pecador. Ele se vê como a espada de Deus, que pune quem peca.
O sol é abrasador, queima a pela e a consciência. Da estrada chega uma caminhonete para entregar uma encomenda ao detetive Mills. A encomenda é uma caixa contendo a cabeça de sua esposa. Somerset grita para que Mills não mate o psicopata. O assassino confessa a sua inveja e a gravidez da mulher do detetive. Você pode me considerar um insano, mas eu o invejo, por isso matei sua esposa e seu filho, diz o psicopata. Mills, atordoado pela dúvida, pela dor, pelas perdas, mata o psicopata, tornando-se a Ira.

XII – Somerset – experiencia e cultura
Para entender a imagem e o modo de agir do psicopata, o detetive cita o escritor Ernest Hememgway; o filósofo Imanuel Kant, Dante Alighieri; Milton, Shakespeare.

Meus caros leitores, Dante Alighieri escreveu “Divina Comédia, em 1942”. A obra apresenta o poeta e os seus pecados praticados até o momento da escrita. Assim, ele decide percorrer o cominho que leva à virtude. Num determinado lugar, encontra o poeta Virgílio que se oferece para o guia-lo pelo mundo dos mortos. Eles atravessam o rio Aqueronte, que separa o mundo dos vivos e dos mortos. Entram na barca de Caronte, o transportador dos mortos de um lado a outro. Cruzam o rio e avistam o inferno, nove círculos, uma divisão dos pecados. Chegam ao purgatório, espaço que as almas aguardam a purificação antes da entrada no paraíso. O purgatório é uma montanha altíssima, dividida em sete degraus, cada um representando um dos pecados capitais.

Em Seven, em um dos degraus você tem o psicopata invejoso, uma inveja que ultrapassa o próprio pecado capital do ciúme, cobiça, desejo, apetecimento. No mesmo degrau você tem o invejado e uma caixa com a cabeça da mulher amada.

A luz, o desespero, o sol olhando espantado, espalhando o seu calor pela terra, pela psique dos homens. O policial aperta o gatilho, a explosão do tiro mata a inveja, o psicopata, o sexto pedaço capital. O matador permanece vivo; o seu entendimento está no corpo da justiça, no entanto, por amor a esposa se transforma na Ira, o sétimo pecado capital. Seven, como filme, imagem, movimento, dialoga com as dores de Freud, quando diz: “O homem tem um impulso inato para o mal, para a agressividade, para a destruição, para a crueldade. O ódio está na base de todas as relações de amor e afeição dos seres humanos”.

XIII – Final do filme

O corpo estendido no chão
A morte com um leve sorriso no rosto.
É o retrato da inveja.
O policial, cabeça baixa,
Arma na mão.
É a Ira que veio e partiu,
Deixando a dor e a lembrança.

RECEITA

CARNE SECA NA MORANGA

Ingredientes: 1 moranga inteira média; 1 colher (sopa) de sal grosso; 1/3 de xícara (chá) de óleo
Recheio: 3 colheres (sopa) de óleo; 2 cebolas picadas; 2 dentes de alho amassados; 1kg carne-seca dessalgada, cozida e desfiada; 1/2 xícara (chá) de azeitonas verdes picadas; 1/2 xícara (chá) de cheiro-verde picado; 2 e 1/2 xícaras (chá) de molho de tomate; Sal a gosto; 2 xícaras (chá) de Catupiry; 50g de queijo parmesão ralado
Modo de preparo: Abra uma tampa na parte superior da moranga e, com a ajuda de uma colher, retire toda as sementes. Esfregue o sal grosso e o óleo por dentro e por fora da moranga. Embrulhe em papel-alumínio e leve ao forno médio, preaquecido, com a abertura voltada para baixo, por 20 minutos ou até amaciar. Para o recheio, em uma panela, em fogo médio, aqueça o óleo e frite a cebola e o alho por 3 minutos. Adicione a carne-seca, as azeitonas, o cheiro-verde, o molho, sal e refogue por 10 minutos. Reserve. Retire a moranga do forno, espalhe o Catupiry® pelo interior todo. Despeje o refogado de carne-seca, cubra com o queijo parmesão e leve ao forno médio, preaquecido, por 15 minutos ou até gratinar. Retire do forno e sirva.

Por Adriana Padoan