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segunda-feira 20 maio 2024
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Coluna Espírita – Duas caras

Coluna Espírita – Duas caras

• Márcio Costa – São José dos Campos/SP
Lindalva era muito querida no Centro Espírita. Um amor de pessoa. Conhecida por ser sorridente, alegre, trabalhadora era sempre procurada por todos no Centro. Atuava em várias atividades da Casa, mas o seu ponto forte estava no atendimento fraterno. Recebia os visitantes e acolhia as suas dores como ninguém mais conseguia fazer. Todos procuravam se espelhar no exemplo daquela irmã.
Chegando à casa, contudo, mudava totalmente. Com 52 anos, mãe de dois filhos, sem empregada e sem o apoio no lar do marido, tinha que lutar sozinha para dar conta de tudo que ficava sobre sua responsabilidade. Daí, sua paciência, exaurida pelo tempo, dava lugar à outra Lindalva totalmente diferente. Não esboçava um sorriso sequer. Durante todo o tempo brigava com os filhos, reclamando deles um amadurecimento maior do que a idade. Pouco conversava com o marido, pois achava que “não tinha mais jeito”. Nem de longe parecia aquela Lindalva doce e amável do Centro.
O tempo passou e nada mudou na vida da amiga. Dez anos depois, mantendo aquela vida dúbia e engessada, veio a notícia desagradável: um câncer de mama havia se espalhado silenciosamente pelo peito. Sem alocar tempo para cuidar de sua saúde, Lindalva teve a doença diagnosticada de maneira tardia e não havia o que fazer por parte dos médicos.
Desencarnou em meio às lágrimas dos amigos do Centro, da saudade dos filhos e da indiferença do marido.
Por ocasião do seu desencarne, envolveu-se nas teias dos seus próprios pensamentos em um misto de alegria e raiva. Suas ideias refletiam telas mentais de que tudo poderia ser melhor se não fosse a incompreensão e a falta de apoio da família. Culpava-os e não percebia a própria culpa. Somente anos depois, após entender que precisava manter o equilíbrio de suas forças mentais enquanto estava encarnada, é que percebeu a luminosidade de amigos espirituais acolhedores ao seu lado. Amparada, voltou a sorrir e a perceber que se o seu sorriso estivesse no coração, não haveria razão para que seus lábios não o esboçassem quando estivesse no lar.
A estória de Lindalva é similar a muitos de nossos amigos e amigas. Em cada ambiente da sociedade desempenham um papel diferente. São sorridentes e afáveis no trabalho, mas não conseguem acarinhar seus filhos. Divertem-se com os amigos, mas no Centro são sisudos para ganharem respeito. No trabalho são estressados e incompassíveis, mas assumem uma personalidade dignificante na Casa Espírita.
Em todos os momentos devemos buscar o equilíbrio em nossas vidas. Nossas personalidades não podem variar em função do lugar onde estamos. Certamente cada condição social exige uma postura, mas isto não pode interferir nos valores morais e intelectuais adquiridos.
Após o momento derradeiro do desencarne, passaremos a ser na espiritualidade aquilo que realmente somos, totalmente transparentes para com o próximo. Logo, começar a partir de agora é fundamental, a fim de que busquemos cada vez mais estabilizar nossas forças mentais em fios de luz, esperança e amor. Lembremo-nos de Chico Xavier, criticado e incompreendido por alguns, manteve o bom ânimo e o sorriso até os últimos momentos da vida. Quando então muitos já haviam se contagiado com a sua forma exemplar de viver.
Referências:
Luiz, André (espírito), pelo psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Evolução em dois Mundos, Cap. 11. FEB, 2013.