Search
quinta-feira 9 maio 2024
  • :
  • :

A arte do acolhimento da própria vida

Uma das nossas dificuldades é a dispersão. O nosso coração está disperso, dividido por muitas coisas. Somos objeto de múltiplos apelos e necessidades. Um rebuliço sem fim atravessa nosso interior. E com ele também um cansaço e uma angústia que vamos tentando compensar de várias formas. O cansaço e a angústia são um terreno fértil para a multiplicação das falsas necessidades e falsos desejos. A dispersão provoca mais dispersão.

Neste quadro, a nossa unidade e vigilância interior, que são fundamentais no nosso interior, que são fundamentais no nosso interior, tornam-se frágeis. Vamo-nos tornando mais vulneráveis, e acabamos, muitas vezes, num movimento de defesa, por endurecer o nosso coração, fazendo de conta que não vejo, que não ouço. Mas esta atitude também não nos dá a verdadeira unidade de coração.

Precisamos aprender a arte do acolhimento da nossa própria vida. Acolhermo-nos, acolher aquilo que somos, acolher o que nos chega como uma oportunidade,mas partindo de um centro, de um núcleo vital que em nós está desperto.

“O ser humano é uma casa de hóspedes; cada manhã, um novo recém-chegado, uma alegria, uma tristeza, uma maldade, que vem como um visitante inesperado. Diz-lhes que são bem-vindos, e recebe-os a todos , ainda se são um caso de penúrias que esvaziam a tua casa violentamente”(Rumi).

Esta arte do acolhimento da vida, de saber abraçar tudo a partir da unidade interior, pede de nós a pobreza espiritual, a pobreza de coração.

Todos somos chamados à configuração em Cristo, que é pobre, puro de coração e obediência a Deus Pai.
A vida espiritual não é uma técnica, não é uma habilidade, não é um conjunto de ritos. A vida espiritual é um modo de ser.

Há um momento de nossa vida em que deixamos de saber de nós próprios. Parece que já não há um fundo de ser a marcar aquilo que somos e que nos estrutura, uma decisão fundamental, mas, pelo contrário, somos a dispersão.
A nossa vida não é só um conjunto de inevitabilidades; ela tem de ser uma opção fundamental, isto é, tem de ser algo que eu decido, que eu quero, um caminho que escolho. A minha vida tem de ter fundamento, para não ser uma deriva, um fragmento flutuante no oceano convulso. Precisamos de um centro.
E por ter um centro precisamos de momentos de recentramento para ouvirmos a nossa voz interior, para nos escutarmos mais profundamente, para perguntarmos: o que é que eu vivo? O que me enlaça? O que procuro? O que sou?. Estes momentos de recentramento são revitalizadores.