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terça-feira 14 maio 2024
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O reerguimento moral de um ser decaído

• Roni Ricardo Osorio Maia – Volta Redonda/RJ
Do episódio conhecido como Atire a primeira pedra (João 8:1-11), onde nessa passagem evangélica, Jesus havia retornado do Monte das Oliveiras e foi até o templo, em Jerusalém, comentaremos, então, sobre a mulher apanhada em adultério e conduzida, com agressividade, pelos homens, até a presença do Rabi da Galileia que se encontrava na praça pública. Recordemo-nos dos filmes ou seriados bíblicos que reproduzem este acontecimento em que a personagem apresenta-se ofegante, cabelos desgrenhados, pálida, olhos tristes e arrasados, os judeus, aglomerados à sua volta, incitavam o ânimo popular, eles pediam o apedrejamento da infeliz, desonrada, humilhada e ultrajada, como ser humano. A fim de colocarem o Mestre no papel de um juiz, os escribas e os fariseus, a levaram para obterem o veredito daquele Homem que pregava a justiça e a concórdia.

 

Conforme a lei antiga, Moisés, no livro Deuteronômio, capítulo XXII, versículos 22 a 24, dava à população local o direito de apedrejá-la, sem direito a defesa, nem tampouco, o arrependimento; os adúlteros, homens e mulheres, eram apedrejados até a morte; neste caso, a mulher apanhada em adultério seria lapidada até expirar. Pediam a opinião do Mestre que se abaixou e começou a escrever na areia, não obstante, eles insistiram. Após segundos, Ele se levantou e lançou uma meditação aos que estivessem isentos de culpa, que atirassem a primeira pedra… Abaixou-se, novamente, e continuou a escrever no chão. Os homens que ouviram palavras com sentido profundo, não dúbias, começaram a se retirar, um a um, primeiros os mais velhos, como era o costume judaico, seguidos pelos demais, largaram as suas pedras e todos saíram da praça… A sós com a mulher, Jesus lhe perguntou onde estavam os reprovadores, como a mulher lhe respondeu que ninguém a condenara, também, o Mestre, por excelência, com lucidez, apresentou-lhe uma lógica e a peculiar compaixão pelos infelicitados, não a culpou; e, pediu-lhe para não reincidir no erro.

O espírito Amélia Rodrigues nos revelou os bastidores desse episódio, no livro Pelos caminhos de Jesus, psicografado por Divaldo Franco, no capítulo intitulado Encontro de reparação. Naquele dia, após ser liberada, em praça pública ensolarada, a mulher procurou, à noite, Jesus, na casa onde Ele se hospedava; desculpou-se por importuná-lo, arrasada sentimentalmente, infortunada pela dor íntima, ela se dirigia Àquele cuja interferência, poupou-lhe a vida. Em frente de um Ser Grandioso, em termos espirituais, muito constrangida, solicitou-lhe uma entrevista. O Mestre acalmou-a e permitiu-lhe falar. Perante a oportunidade inusitada, desabafou para um Homem capaz de ouvi-la. Falou-lhe do aturdimento em que se encontrava; do sedutor que a perseguira e os problemas conjugais com o marido, que a abandonara, devido à leviandade, deixando-a enferma em sentimentos e carente de afetos; atormentada, abandonada, sem lar, desprezada publicamente, ignorava qual destino seguiria. Realmente é de se notar que uma mulher hostilizada e desacreditada, como fora, teria muita dificuldade em se firmar numa sociedade opressora e preconceituosa de acordo com as regras judaicas. É um belíssimo diálogo descrito pela autora espiritual. Ele lhe prometeu auxiliar no caminho tortuoso; acometida pela impiedade e impropérios alheios, sugeria à sofredora recomeçar e reparar o mal com o bem. Ele estaria com ela como o lume dos caminhos que a própria percorreria. Encorajou-a, e fortalecida a mulher seguiu sozinha. Dois lustros se passaram, na cidade de Tiro, no Líbano. Uma mulher redimida e caridosa erguera uma hospedaria onde se reuniam desvalidos, sofredores, infelizes e doentes com chagas abertas encontravam ali a solicitude e ouviam sobre Jesus. Numa certa tarde, apareceu um homem deformado em feridas, carregado por mãos piedosas sabedoras que no local ele receberia os cuidados necessários. Após as úlceras lavadas, com unguentos preparados pela bondosa mulher, recobrou a consciência e ouviu-a inspirar-lhe confiança e citar-lhe Jesus. Intrigado ele lhe perguntou se era o Homem Galileu crucificado em Jerusalém. Ela respondeu afirmativamente; a conversa prosseguiu. A mulher afirmava que Ele salvara-lhe a vida. O enfermo também relembrou do Mestre Nazareno; ele o conhecera, porém, não se permitiu aceitá-lo. Guardava-lhe certo rancor devido Jesus ter poupado a vida da esposa, que adulterou contra ele. Naquele momento o passado voltou à mente da esposa desprezada. A mulher relembrou o diálogo com o Cristo e a recomendação d’Ele para que ela se firmasse na renovação; na oportunidade que surgiria no momento de reparação, onde ela se reajustaria perante o equívoco cometido.

Ali estava o merecimento daquela ex-decaída, reabastecida na fraternidade, recuperou-se como pessoa e mulher, trazia algo incomensurável às criaturas – o perdão como um antídoto, poderia lhe guarnecer a alma; com as bênçãos de Jesus, ela socorreria o marido, que não a reconhecera, ela muito serena, sem se abalar ou se lamentar, acalmava-o, para que ele se deixasse adormecer, o ajudaria e cuidaria dele, pois ambos teriam reencontrado Jesus – o Cristo de Deus. A ex-adúltera fez do sofrimento um meio de progresso, não se abateu, se firmou em fé e tomou um novo rumo abençoado por Jesus – o mais apropriado aos que sofrem: socorrer os outros que padecem.
Por que essa história de dois mil anos nos emociona e nos deixa pensativos? Ela se repete. Pelos lares, na sociedade onde houver ser humano uma vez combalido, arrependido, se reerguerá e voltará ao ponto de origem, ou seja, a família que um dia abandonou ou dela se esquivou.