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terça-feira 30 abril 2024
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O dialeto Nagô na língua portuguesa

Nina Rodrigues dá notícia de um dialeto nagô, que era falado pela população negra e mestiça da cidade do Salvador naquele momento que ele não documentou, mas definiu como “ uma espécie de patois abastardo do português e de várias línguas africanas”. Logo, não se tratava da língua ioruba, como muitos ainda se deixam confundir.

Devido a uma introdução tardia e à numerosa concentração dos seus falantes na cidade do Salvador, os aportes do ioruba são mais aparentes, especialmente porque são facilmente identificados pelos aspectos religiosos de sua cultura e pela popularidade dos seus orixás no Brasil.

Depois de quatro séculos de contato direto e permanente de falantes africanos com a língua portuguesa no Brasil, esse processo de interação lingüística, apoiada por fatores favoráveis de ordem sócio-histórica e cultural, foi provavelmente facilitada pela proximidade relativa da estrutura lingüística do português europeu antigo e regional com as línguas negro-africanas que o mestiçaram.

Entre essas semelhanças, o sistema de sete vogais orais e a estrutura silábica ideal (CV,CV), onde se observa a conservação do centro vocálico de cada sílaba e onde não haja sílabas terminadas em consoante. Essa semelhança estrutural provavelmente precipitou o desenvolvimento interno da língua portuguesa e possibilitou a continuidade da pronúncia vocalizada do português antigo na modalidade brasileira, afastando-a, portanto, do português de Portugal, de pronúncia muito consonantal, o que dificulta o seu entendimento por parte do ouvinte brasileiro, fazendo parecer tratar-se de outra língua que não a portuguesa.