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domingo 28 abril 2024
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Literatura em gotas – Francesco Petrarca

Petrarca muito se sabe a partir dos testemunhos que deixou em seus próprios textos, sobretudo nas diversas epístolas. Nasceu em Arezzo, em 20 de julho de 1304 e faleceu em 19 de julho de 1374.

Francesco Petrarca foi ao mesmo tempo o primeiro grande continuador do empreendimento literário dantesco e seu primeiro grande contestador prático. Levou adiante muitas das conquistas de Dante: seu Cancioneiro,na medida em que busca contar a história de um amor por meio do encadeamento de poemas líricos, encontra seu modelo profundo na estrutura da Vida nova, que foi o primeiro livro do precursor, além disso, como já notou o crítico e tradutor Mark Musa, é a Dante que Petrarca rende “o máximo louvor de imitá-lo do início ao fim”.

Concomitantemente, Petrarca imprimiu desvios e retornos significativos à trajetória experimentalmente evolutiva delineada pelo conjunto da obra de Dante se este passou das rimas esparsas iniciais à reunião e emolduramento exegético-narrativo na Vida nova; se abandonou a prosa “férvida e apaixonada” da Vida nova para criar a prosa temperada e viril do Convívio, se alcançou com as rimas pedrosas uma superação estilística, mas também, digamos, ideológica, da doçura de suas rimas juvenis; se conseguiu conter a pulsão autobiográfica dominante na Vida nova para conquistar uma visada mais ampla; se, com a Comédia, enfim, compediou e extremou tudo o que havia de novo e crucial nas obras anteriores, construindo a partir de rememoração e extrapolação da lírica que ele longamente praticara e estudara uma espécie de epopéia pós-lírica mas também, e sobretudo, metalírica e e hiperlírica; se Dante construiu seu precurso com esta cerrada conseqüência, que culminava numa superação decisiva da lírica como gênero, Petrarca, por sua vez, poucas décadas depois, investiu garnde parte de suas forças na composição de 366 poemas líricos, entre soneto, baladas, canções, madrigais e sextinas, reunidos em seu Cancioneiro.

Prof. José Pereira da Silva