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quinta-feira 16 maio 2024
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Coluna Espírita – O acerto de contas com nossa consciência

Coluna Espírita – O acerto de contas com nossa consciência

• Éder Andrade – Rio de Janeiro/RJ
A Terceira Revelação conhecida como Doutrina Espírita, ofereceu aos homens uma proposta de reforma íntima e de revisão dos valores éticos e morais. Essa reforma íntima é muito individual e para acontecer depende de dois fatores preponderantes. O primeiro, seria o amadurecimento moral do indivíduo, através de várias experiências acumuladas ao longo de diferentes encarnações. Já o segundo elemento envolve o desejo sincero de mudança. Não basta querer mudar, se faz necessário perceber o que deve ser modificado e como promover essa mudança!
Observamos no livro “O céu e o inferno”1 de Allan Kardec, que muitos espíritos solicitam encarnações provacionais para encontrar paz com sua consciência, de antigas faltas cometidas. Um bom exemplo foi o caso de Letíl, que solicitou uma encarnação dura, para se sentir remido do sentimento de culpa que era portador.
Por ingenuidade ou imaturidade do senso moral, muitos espíritos que cometem grandes desatinos, atrocidades e atentam contra a ordem pública, acreditam na eterna impunidade. Como se Deus na sua infinita sabedoria não reservasse para cada indivíduo o tempo certo para seu acerto de contas com sua consciência, uma vez que esses indivíduos foram contra as Leis Morais da Vida2, registradas no inconsciente profundo de todos nós, ocorrido no momento da nossa criação como espíritos imortais.
No livro “Memórias de um Suicida”3, Dona Ivone Pereira nos conta a história de Gerônimo de Araújo Silveira, um rico comerciante de vinhos da cidade do Porto, que comete suicídio e o desdobramento da sua atitude prejudica toda a família. O peso na sua consciência do ato extremo cometido foi tão grande, que ele deseja encarnar imediatamente em condições precárias e paupérrimas, onde o sofrimento iria aplacar o sentimento de culpa que carregava.
Da mesma forma que no livro “Ação e Reação” 4 de André Luiz, também podemos encontrar relatos de espíritos em desequilíbrio e sofrimento, devido à resistência em reconhecer e aceitar suas atitudes equivocadas e imprudentes da última encarnação. Apesar de toda ajuda na colônia “Mansão Paz”, alguns internos permanecem vivendo uma fantasia interior por orgulho e vaidade, apresentando uma aparência dantesca ou animalesca, reflexo das suas projeções mentais doentias.
Esses enfermos eram mantidos isolados dos demais, até que fosse possível serem encaminhados para uma nova existência física.
Vários desencarnados em melhores condições, já trabalhavam na enfermaria atendendo aos necessitados que chegavam das regiões umbralinas em profundo desequilíbrio e um senhor idoso, trôpego e cambaleante que já estava na Mansão Paz a vinte anos, pergunta ao dirigente Druso quando ele teria oportunidade de reencarnar, para sua mente ficar livre das lembranças que o atormentavam de forma contínua gerando um grande desconforto, ao que Druso lhe diz que tivesse paciência, pois em momento oportuno a espiritualidade iria providenciar essa oportunidade abençoada4.
Ninguém consegue se modificar da noite para o dia e esses exemplos nos ensinam que a transformação interior passa por uma questão cultural, atávica e de testemunho pessoal, pois não basta apenas saber da verdade, se faz necessário viver essa verdade, mesmo que implique grande queda de braço com o homem velho que trazemos dentro de nós. Paulo o Apóstolo percebeu isso quando estava em cativeiro em Roma, podendo fugir, decidiu ficar e escrever seus Atos dos Apóstolos e suas epístolas, como uma demonstração de fé e certeza nas suas atitudes, quando nos disse:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor,
seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine….”
(Paulo 1 Coríntios 13:1-3)
O processo de reforma íntima é individual e intransferível, precisamos começar a promover um acerto de contas emocional com nossa consciência num nível mais profundo, quando de fato perceberemos, assim como Saulo, que nutrimos mágoas e emoções desnecessárias e inexplicáveis cuja libertação dependerá exclusivamente de cada um de nós.
A reforma íntima começa a surtir efeito quando o indivíduo já consciente das suas questões que precisam ser trabalhadas, assume um compromisso consigo mesmo de tentar se tornar uma pessoa melhor.
Referências:
1. Kardec, Allan; O Céu e o Inferno; 2a parte; Cap. VIII – Expiações terrestres – Letíl – pág. 357; FEB
2. Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; 3a parte; As Leis Morais; Conhecimento da Lei Natural – pág. 379; FEB
3. Pereira, Yvonne do Amaral; Memórias de um suicida; 2a parte; IV – Outra vez Jerônimo e família – pág. 169; FEB
4. Xavier, Francisco Candido: Ação e Reação; 2 – Comentários do Instrutor – pág.15; 5 – Almas enfermiças; pág. 50; FEB
5. Wikipédia (Enciclopédia livre)