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domingo 5 maio 2024
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Monsenhor Alphonse Nagib Sabbagh

Monsenhor Alphonse Nagib Sabbagh

Arabista, lexicógrafo e professor: vocações religiosa e acadêmica-cultural. Alphonse Nagib Sabbagh (1919-2015) 96 Anos [Foto: Divulgação] 

O justo florescerá como palmeira; crescerá como cedro no Líbano”, Salmo 92:12. 

Alphonse Nagib Sabbagh nasceu no dia 2 de setembro de 1919, em Deir El-Kamar, Líbano. Concluiu na época, o atual ensino médio, na escola episcopal em sua cidade de origem. Ainda jovem, rumou para França, país em que residiu no período de 1938 a 1945. Na Sorbonne, graduou-se em Letras, que, além do idioma árabe, estudou grego e latim.

Durante a segunda guerra mundial, trabalhou na área de comunicação pela rádio difusão francesa. Chegou ao Brasil no ano de 1957. Morou no Rio de Janeiro, na casa paroquial da Igreja São Basílio. Monsenhor da Igreja greco-católica melquita, considerada a igreja mais antiga do mundo, sucessora direta dos apóstolos, utiliza o árabe e o grego como línguas litúrgicas.

Difusor do idioma árabe no Brasil

Antes de ingressar no magistério superior, Monsenhor Sabbagh lecionou a língua e a cultura árabe em diversos estabelecimentos de ensino, entre os quais a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A publicação do seu manual, O Árabe Sem Mestre é de 1959, pela Editora Comercial Safady Ltda., de São Paulo. Em 1969, fundou o Setor de Estudos Árabes da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Escreveu no Brasil, em 1978, a sua tese O Meio Ambiente na Literatura Árabe, com a qual doutorou-se em Letras pela UFRJ. Publicou em 1988, O Dicionário Árabe-Português-Árabe – Editora UFRJ / Ao Livro Técnico. No volume Português-Árabe já lançado; por último, em 2011, publicou o Dicionário Árabe-Português (40 anos de pesquisa) pela editora Almádena e Fundação Biblioteca Nacional. Uma das mais importantes obras da lexicografia árabe-lusófona editadas no Brasil.

Fonte de água  – estilo mouro – trecho da Serra de Sintra, Portugal

Arabismo, legado e expressão

O arabismo é a união de valores étnicos e, de tudo que, na ética, diz respeito à cultura e à tradição árabe: culinária, dança, literatura, artes plásticas, música, cinematografia, instrumentos de percussão, arquitetura etc. O idioma é o meio comunicativo de maior autenticidade de um povo.

A língua árabe é praticada por uma cifra mediana de meio bilhão de pessoas, em diversos países do mundo. Desse todo, milhões de falantes constituem o povo árabe, e, em média de 260 milhões, de outras nações, leem e escrevem o árabe clássico por razões religiosas, uma vez que o corão ou alcorão é redigido nesse idioma. Monsenhor Sabbagh, Patrono do I Simpósio de Arabistas Luso-Brasileiros. Brasil, Portugal e países africanos de língua portuguesa conectados por vários elos à pátria árabe. A lexicografia luso-arábica destina-se a estudantes, professores, tradutores, pesquisadores, comércio exterior e demais interessados.

Influência do idioma árabe na língua portuguesa

A extensão dessa influência, como defendem alguns autores, compreende a cerca de mil vocábulos, entre os quais substantivos, adjetivos, pronomes, verbos, interjeições e artigos.

Exemplos luso-brasileiros: oxalá (wa allah ou inxa allah, se Deus quiser ou queira Deus), olé (wa allah, Deus, como interjeição de incentivo), olarilolé (la illaha ila allah, não há divindade senão Deus, profissão de fé muçulmana), cargos públicos (alcaide, almoxarife, alferes, xerife), construção (alvenaria, azulejo, açoteia), instituições (aldeia, arrabalde, alfândega), plantas (arroz, gergelim, alfarroba, alfazema, alface, alecrim), frutos (tâmara, azeitona, romã, toranja, tamarindo, ameixa, limão, café), instrumentação (enxada, alcatruz, azenha, adaga, arsenal, arrebate), farmácia (álcool, elixir, algodão, xarope, alcalino), medidas (alqueire, arroba, resma, quilate, arrátel), animais (alcatraz, lacrau, javali), adereços (alfinete, almofada, alcatifa), de instrumentos musicais (adufe, alaúde, cítara, rabeca), produtos (azeite, anil, giz, alcatrão), ciências (álgebra, algarismo, cifra, zero, ), sobrenomes (Almeida, Alcântara, Albuquerque) termos gerais (cuscuz, chafariz, arrecife, azul, lilás, soda, armazém, aduana, jarra, alambique, açude, alfaiate, almanaque, beduíno, açúcar, alfenim, cominho, açafrão, almôndega, alcaparra, safra).

 

Tibério de Sá Leitão – Jornalista