Em 1842. Honoré de Balzac preparava a publicação de A comédia humana, na qual trabalhava desde 1829. Por solicitação de seu editor, redigiu em alguns dias um Prólogo destinado a substituir os diversos prefácio que já tinham sido escritos para os livros do conjunto.
No prólogo de sua obra, Balzac explicou que a ideia de A comédia humana havia nascido de uma comparação entre a Humanidade e a Animalidade.
Ele havia retomado as teorias sobre a unidade de composição, segundo as quais os animais teriam evoluído a partir de um único modelo orgânico e estendeu esse princípio ao homem.
Afirmava que existem espécies sociais comparáveis às espécies zoológicas e que a diferença entre os tipos humanos é tanta quanto a que existe entre as espécies animais. Balzac defendia a nobreza do gênero romanesco, como o único capaz de fazer concorrência ao registro civil.
O registro civil era o serviço público encarregado de levantar os fatos relativos à situação das pessoas. Para Balzac, fazer concorrência ao registro civil era reduzir o número a duas ou três mil figuras representativas, das quais ele queria fazer o inventário, compor tipos mediante a reunião de traços de vários caracteres homogêneos.
O personagem de Grandet, tipo psicológico e social, reúne indissociavelmente a ideia de avareza, o representante daquelas fortunas que haviam nascido graças à Revolução.
A comédia humana elabora uma galeria de retratos: o personagem balzaquiano não tem mais o esquematismo do personagem heroico ou pitoresco; não é mais o lugar abstrato do confronto entre a razão e a paixão, que encontramos na tradição psicológica; ele se encaixa em um meio cujos costumes revela; ele tem uma história, uma profundidade psicológica e social, e uma espessura humana.
Prof. José Pereira da Silva