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quinta-feira 2 maio 2024
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Leitura de Taubaté – O filósofo, a política e Bolsonaro

O dia 15 de outubro de 1844 não se identificou; permaneceu nublado até o surgimento do sol. Naquele hoje de pouca luz, nasceu o filósofo Friedriche Nietzsche; nada o diferenciou dos demais recém-nascidos. Mamou em demasia; chorou desesperadamente, querendo destruir o silêncio; sedimentou centenas de cueiros. Nos Estados Unidos, no mesmo ano e mês do nascimento do filósofo, religiosos americanos leram as profecias de Daniel. Interpretaram-nas usando a contramão dos significados das palavras e, um pastor chamado Milton Ribeiro, primeira encarnação do ministro da educação de Bolsonaro, interpretou a profecia como uma mensagem direta de Daniel, anunciando o retorno de Jesus Cristo. O pastor Milton Ribeiro vendeu ingressos marcando encontros dos fieis com Jesus. Jesus não retornou, não remarcou nova data, mas o pastor renunciou ao cargo que lhe possibilitara a criação do “Dia do Grande Desapontamento”.

Voltando a Nietzsche, o menino desenvolveu-se bem até os cinco anos, quando perdeu o pai, passando a viver com a mãe, dezenas de tias, e avós octogenárias. Na escola, mostrou a todos que trazia a genialidade dentro de si; no curso superior o gênio passou a questionar os possíveis espirros ofertados por Sócrates, durante os seus passeios pedagógicos. Ao término do seu curso iniciou o longo cultivo do bigode criando, dessa forma, a sua marca característica. A filosofia já nascera com ele, compartilhara do leite mamado pelo meninão.

Os seus amigos, alunos, familiares não perceberam a ocasião correta em que a samambaia filosófica pulou do interior do seu corpo, impulsionada pela sua alma.

O bigode de Nietzsche amarra o pensador ao Brasil, ao se levar em conta o amontoado de pelos sobre seu lábio superior e a origem do bigode. Em épocas remotas, a Península Ibérica foi invadida pelos visigodos sob o comando de um destemido bárbaro chamado Bolsonaro, homem rude daqueles tempos. Esses bárbaros usavam bigodes, falavam muito mal, possuíam uma doença chamada “Trapaça Blefatória”, e obedeciam a um deus chamado Centrão de Alguma Coisa. Todos nós sabemos, pelas lembranças das aulas de história que Portugal surgiu na Península Ibérica e o Brasil foi descoberto pelos portugueses, portanto o bigode de Nietzsche é uma herança bolsonarista e, assim, o nosso presidente, dos nossos dias atuais deve ser afastado urgentemente.

Retornando ao filósofo Nietzsche, observando as suas ideias encaixadas na corpulência do globo terrestre, em que nós nos movemos; verificamos, primeiramente, um desassossego critico em relação ao seu pensamento. Muitos observadores o acusam de produzir um contexto filosófico horrível, carregado pelas mãos da blasfêmia, da revolta intelectual, do desespero surgido no princípio da nossa existência.

O que nos interessa nesse painel está transparente em cada palavra pronunciada pela escrita que, de certa forma, desenha o seu ser. O filósofo criticou todas as manifestações opressivas brotadas nos intestinos ideológicos do falso poder. Um de seus focos encontra-se na estrutura da Igreja, uma plataforma geradora de uma maneira de pensar que condena a liberdade pessoal, realizando uma espécie de castração mental no indivíduo. Essa castração possui um rótulo, ou seja, o cristianismo que, para se impor, produziu uma ideologia contra a vida, enfiando no interior da humanidade a ideia de que a sexualidade é fruto da impureza, uma definição distorcida pela péssima interpretação das palavras de Jesus.

Nietzsche moldou uma marreta pensante, um objeto que, por meio de suas palavras, criticou o platonismo, o neoplatonismo, o cristianismo, o marxismo e tantos outros ismos, colocando-os dentro do mesmo saco. Em contrapartida, pensou na criação de um Super-Homem, um novo ser destinado a conduzir o homem, a sociedade, o saber, em direção à criação de um novo ambiente para se viver.

Esse Super-Homem de Nietzsche não foi produzido em uma fornalha, seu corpo não é formado por ferro ou aço, ele não voa, não berra ”Shazan”, nem é fruto de milagres. Esse Super-Homem idealizado pelo filósofo é capaz de criar seus próprios valores para a condução de sua vida; afasta-se da palavra condicionamento e do seu significado, pois não se sujeita aos valores sociais estabelecidos e criados pelos poderosos de uma época.

Os escritos de Nietzsche marcaram o século XIX, levando a humanidade a penetrar em becos escuros e profundos, becos controversos, carregados de contradições, ambiguidades, depressões, distúrbios comportamentais, mais ele existiu, sua filosofia existe, seus pensamentos engravidaram milhares de ditadores, de políticos perturbados, anti-herois de si mesmos, homens que adoram falar besteiras, ofender os outros, sem a mínima explicação, andar de velocípedes, bicicletas, motos, cavalos, portanto, a filosofia de Nietzsche deve ser lida, estudada, pois navega em águas sublimes e tortuosas, tudo ao mesmo tempo.

No dia 03/10/1889, dia calmo e esperançoso, Nietzsche caminhava por uma rua de Turim. Havia uma moça vendendo flores na esquina de uma rua medieval; um jovem olhava a moça encostada nas madeiras de uma janela aberta, um homem maduro, sério, ingeria goles de vinho; no canto da Praça do Talento, um cocheiro chicoteava um cavalo preso aos varais de uma charrete. Nietzsche correu, abraçou o cavalo, falou palavras sem sentido no ouvido do animal, caiu de joelhos no chão, as lágrimas pularam de seus olhos, escorrendo do seu rosto.

A partir desse acontecimento nunca mais o filósofo foi o mesmo homem. Vivia solitariamente num mundo dominado pelo silêncio. Passou por dois sanatórios para doentes mentais, retornando à sua casa depois do tratamento. No verão de 1900, por volta do meio dia, num sábado carregado pelo sol, aos 54 anos, o filósofo desistiu da vida; arrumou a sua mala, ajeitou seus pensamentos e partiu…Simples assim, exatamente como partem as flores carregadas pelas suas cores.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues