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sábado 18 maio 2024
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Leitura de Taubaté – Ditadura, Figueiredo e Sarney – uma questão de gosto

Meu nome é Polos; não gosto de política, muito menos, dos políticos, porém, no meu íntimo, lá no meu fundão interior existe uma voz que me diz: “procure entender o significado e o conceito que transparecem na palavra politica.”
Eu sei que é impossível chegar a uma definição de algo, sem levantar o contexto e as ações produzidos numa determinada faixa temporal, por esse motivo, devemos fazer um corte no tempo, extrair um pedaço histórico e coloca-lo nas lâminas de um microscópio. Para esse fim, selecionei a década de 80 a 90, pensando encontrar, nessa época, a semente que, em seu desenvolvimento me possibilite entender a politica atual, num espaço geográfico chamado Brasil.

No início da década de 80, o povo brasileiro caminhava por caminhar, a sensação de fracasso definia os seres humanos rotulados como brasileiros. Os olhos procuravam enxergar uma diminuta luz, em qualquer lugar, mas a imagem vista era sempre o caos; havia clamores em forma de outdoor pregados nos muros abandonados; a população procurava em qualquer canto a condição mínima de subsistência; a geração trazia uma marca na testa que a identificava como filha da grande mentira nacional, o “milagre econômico”, termo que foi usado pelos militares para desviar a atenção das violências repressivas; a revelação de que cada governo militar procurou trocar a roupa do ser projeto político, para que a verdade não se revelasse, chocou a juventude pasmada.

No ano de 1979, diante de milhares de olhares interrogativos, o general João Batista Figueiredo assume a Presidência do Brasil. Anuncia, num primeiro movimento, que o seu governo estaria comprometido com a recessão. O Brasil pensa, interroga-se, não entende nada do discurso presidencial.
Era uma segunda-feira, com cara de nada. De um instante para o outro, o povo é sacudido, por dentro e por fora; o presidente decretara a anistia ampla e irrestrita aos exilados políticos, aos condenados pela ditadura. A esperança entra na pele de muitos cidadãos. E, agindo sempre por impulso, extingue a lei do bipartidarismo, empurrando o Brasil para a liberdade política e ideológica.

Os militares radicais, vivendo esse período transformaram-se nos novos terroristas nacionais, passando a explodir bancas de revistas, livrarias, culminando com a bomba do Riocentro , um atentado contra o show do dia do trabalho.
O quadro era horroroso, a juventude não tinha caminho para chegar ao existente ou inexistente; operários perdidos dentro das fábricas; pais descontrolados dentro de suas casas. A crise econômica estava nos travesseiros agitados pela noite que não chegou; Guerra Fria batendo nas janelas pedindo para entrar, nova queda da bolsa de Nova York; morte da União Soviética, queda do Muro de Berlim; e a inflação brasileira beirando aos 230 por cento ao ano.

A sociedade parara em qualquer praça do país esperando a morte chegar dentro dos desesperos pessoais, as frases de Figueiredo, costuraram-se no cérebro da nação, foram ditas por lábios dementes, tais como: “Um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar”; “É para abrir mesmo, quem quiser que não abra, eu prendo e arrebento”; “O poeta Vinicius de Moraes é um vagabundo sem vergonha”; “A solução para as favelas, só jogando uma bomba atômica”; “Me envaidece de ser grosso”; “Eu cheguei e as baianas já vieram me abraçando. Ficou um cheiro insuportável, cheguei no hotel tomei três, cinco, sete banhos e aquele cheiro de preto não saia”.

Figueiredo vestiu seu terno civil, respirou o ar do Palácio da Alvorada pela ultima vez; recusou-se a passar a faixa presidencial ao presidente José Sarney de Araújo Costa, mas ao sair do Palácio, um menino conseguiu aproximar-se do ex-presidente e fez-lhe uma pergunta: “se seu pai ganhasse o salário mínimo o que o senhor faria?” A resposta de Figueiredo retrata e documenta, de forma clara, o que significou duas décadas de ditadura para o país; a resposta assusta-nos até hoje, mas fato histórico é fato histórico; o ex-presidente respondeu ao menino: “eu dava um tiro na cuca.”

Partindo dos anos 80, um fato salta diante dos nossos olhos; o processo desencadeado pela política, pelos políticos, marcou a personalidade das gerações que surgiram a partir dessa fase pegajosa, estabelecendo a aderência aos conflitos, à dúvida, ao descrédito, à alucinação, ao desgosto individual e coletivo.

Figueiredo partiu para o seu reduto, o famoso Sitio do Dragão, onde viveu rodeado de magos, bruxas e bruxos, duendes e gnomos. Em seu lugar, no Palácio da Alvorada, o presidente Sarney apossou-se dos cômodos, das paredes, do poder, da profecia banhada pela improficiência. Aos poucos, sem pressa calculada, foi se revelando ao passar dos segundos: congelamento de preços, Plano Cruzado I, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Cruzado Novo. Nas noites de Brasília, no meio de garrafas de vinhos importados comprados para o deleite dos presidentes, Sarney comemorou sua vitória produzida na essência de seu coração, uma inflação de 84 por cento ao mês. O povo brasileiro, na época de Sarney, viveu ao lado da insegurança, do medo, da piada tematizando a dor, a inconsequência e o desanimo e o Brasil percebeu que nada havia mudado.

Na próxima semana falaremos da eleição de Color.

Prof. Carlos Roberto Rodrigues