Mobilização regional ganha força contra projeto de usina a gás metano com potencial para causar grave impacto socioambiental
Caçapava, no coração do Vale do Paraíba, tornou-se o epicentro de um intenso debate ambiental que mobiliza comunidades, cientistas, ambientalistas e representantes políticos de toda a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN). O motivo é a proposta de instalação de uma megausina termelétrica a gás metano — uma das maiores da América Latina — que ameaça alterar drasticamente o equilíbrio ecológico da região e comprometer a saúde pública e os recursos hídricos.
O projeto, que prevê uma geração inicial de 1.743 MW com possibilidade de expansão para até 2 GW, pretende queimar cerca de 6 milhões de metros cúbicos de gás por dia, além de consumir 65 mil litros de água por hora — água retirada diretamente de poços que abastecem Caçapava e municípios vizinhos. Especialistas alertam que essa estrutura representaria o maior impacto socioambiental na região dos últimos 70 anos.
Emissões altas e riscos à saúde
Estima-se que a usina emitiria 3,5 milhões de toneladas de CO₂ por ano, o equivalente à poluição gerada por cerca de 800 mil automóveis. Isso agravaria ainda mais os já preocupantes problemas de qualidade do ar na região, conhecida por sua baixa dispersão atmosférica, fenômeno que dificulta a dissipação de poluentes, favorecendo o surgimento de chuvas ácidas e a contaminação do solo e da água.
Além disso, há um temor concreto quanto ao comprometimento do abastecimento hídrico. A exploração intensiva dos aquíferos da região poderia afetar a disponibilidade de água potável para a população, gerando crises sanitárias e prejudicando atividades agrícolas e industriais locais.
Mobilização popular e científica
Desde 2022, a sociedade civil tem se organizado de forma consistente para resistir ao projeto. A mobilização envolve audiências públicas, campanhas de conscientização, ações jurídicas e protestos pacíficos realizados por moradores, ativistas, cientistas e representantes de diversos municípios do Vale do Paraíba.
Durante a 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, uma Moção de Repúdio foi apresentada por delegados da região, representando um apelo unificado contra a instalação da usina. A moção denuncia os riscos não apenas para o meio ambiente e a saúde da população local, mas também para o cumprimento dos compromissos internacionais do Brasil na redução das emissões de gases de efeito estufa.
Futuro sustentável em jogo
Com uma população estimada em 2,6 milhões de habitantes, a RMVPLN enfrenta o desafio de equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. A proposta da usina vai na contramão das políticas de transição energética necessárias para enfrentar a crise climática global. A população reivindica investimentos em fontes de energia limpa e renovável, que respeitem a biodiversidade local e garantam qualidade de vida às gerações futuras.
O Vale do Paraíba se posiciona, assim, como um símbolo de resistência e consciência ambiental. A luta contra a termelétrica em Caçapava é, acima de tudo, um grito por justiça socioambiental e por um modelo de desenvolvimento que valorize a vida e os recursos naturais que sustentam esta rica e histórica região do país.
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por Oswaldo de Campos Macedo – é professor de História e fotógrafo