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quarta-feira 8 maio 2024
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Giramundo – A guerra do Paraguai

Depois de 150 anos passados ainda há muitas dúvidas sobre o maior conflito da America Latina. Muitos historiadores preferem tratar a história sob um único olhar, o do vencedor. Os vencidos estão sempre à margem dessas análises e, quando são colocados a prova disfarçam elevando o heroísmo dos soldados durante o conflito, deixando de lado as questões econômicas e diplomáticas regional com marcação de interesses dos Estados Unidos que acabara de sair da Guerra de Secessão, também conhecida como Guerra Civil Americana, aconteceu entre 1861 e 1865, ou seja, quando terminou o conflito nos EUA deu-se início a Guerra do Paraguai, envolvendo Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai.
Esse conflito durou de 1865 a 1870 deixando um saldo de aproximadamente 400 mil mortos sendo que 280 mil deles eram de paraguaios. Do outro lado Brasil, Argentina e Uruguai perderam 120 mil soldados, enquanto que o Paraguai perdera além de seus soldados boa parte de sua população. Essa guerra dizimou a economia paraguaia e acabou levando ao endividamento exaustivo do Brasil que passou a buscar empréstimos no exterior para manter sua economia, então a nossa dívida externa que começou com o reconhecimento da independência, proclamada no dia 7 de Setembro de 1822 e a manutenção do modelo escravocrata só aumentou. Esse aumento significativo desgastou a monarquia que com os militares vitoriosos da Guerra do Paraguai fez reforçar os interesses positivistas e, assim aumentou os interesses pelo modelo republicano que não tardaria a acontecer com o descontentamento dos militares e a elite cafeeira, principalmente os cafeicultores do Vale do Paraíba que estavam praticamente arruinados pelo fim da escravidão com assinatura da Lei Áurea, em 1888.
Na história da América Latina, não houve nenhum conflito armado em que lutaram e morreram tantos homens como na Guerra do Paraguai, mas para os paraguaios não foi só uma derrota militar Foi um verdadeiro massacre que hoje coloca alguns historiadores na defensiva, considerando essa ação militar um verdadeiro genocídio. As vitimas paraguaias durante o conflito representavam mais da metade da população do Paraguai, sendo que uma ampla maioria era de homens, ou seja, a população masculina do país foi praticamente dizimada pela guerra.
Os repórteres da época narram que, quando terminou a “Guerra Grande”, havia no país uma média de quatro mulheres para cada homem, mas em algumas regiões essa proporção chegava a ser de vinte por um. As consequências disso foi um grande desastre demográfico, que segundo muitos historiadores e estudiosos do conflito gerou um grande atraso no desenvolvimento do país platino.
Origens do conflito
O maior conflito da América Latina teve origem em briga interna surgida no Uruguai e rapidamente se estendeu para o nível regional que segundo alguns historiadores e pesquisadores contou com apoio do Império Britânico que tinha interesses comerciais na região. Esse conflito ocorrido em 1864, poucas décadas depois da declaração de independência dos países sul-americanos colocando um fim sob o domínio das potências europeias, mas que ainda continuavam com suas fronteiras indefinidas.
A principal centelha foi a disputa entre os partidos tradicionais do Uruguai: o Partido Branco – Ou Nacional -, que estava no poder e o Partido Colorado. O candidato Bernardo Prudencio Berro, do Partido Branco que era aliado do governo Paraguaio e dava ao país condições de saída para o mar, muito embora os paraguaios usassem antes do conflito o porto de Buenos Aires para exportarem ou importarem suas mercadorias através do oceano Atlântico.
Por outro lado, o Partido Colorado liderado por Venâncio Flores contava com o apoio do Brasil encabeçando uma revolução para derrubar Prudencio Berro, ameaçando, assim, os interesses paraguaios. Diante dessa situação Solano López decidiu sair em defesa do governo uruguaio.
Solano López ordenou a captura de um barco mercante brasileiro e invadiu o Estado brasileiro do Mato Grosso, que o Paraguai e o Brasil disputavam.
A partir dali, ele pretendia enviar suas tropas até o Uruguai, mas para isso precisava atravessar a Província argentina de Corrientes.
Foi assim que a Argentina entrou no conflito. O presidente do país, Bartolomé Mitre, era aliado dos colorados uruguaios, como o Brasil.
Por isso, ele negou o pedido de Solano López para atravessar Corrientes, e quando o marechal invadiu a Província, a Argentina se uniu ao Brasil e ao novo governo uruguaio contra o Paraguai.
Francisco Solano López foi nomeado Herói Máximo da Nação no Paraguai em 1936; o dia de sua morte, 1º de março, foi declarado Dia dos Heróis em sua memória.
As vítimas
Parte do motivo pelo qual a Guerra do Paraguai — ou Guerra da Tríplice Aliança — foi tão sangrenta foi o pacto que Argentina, Brasil e Uruguai fizeram para não encerrar o conflito até que Solano López fosse morto (o que ocorreu em 1º de março de 1870).
Isso fez com que a guerra se estendesse mesmo depois de o Paraguai ter sido invadido e arrasado, graças à enorme disparidade entre o tamanho e o poder de fogo entre as forças aliadas e as paraguaias.

Segundo o historiador paraguaio Fabián Chamorro, o dado mais “estremecedor” da guerra foi que a maioria das vítimas paraguaias não eram soldados (que eram cerca de 90 mil), mas sim a população civil, incluindo meninos, velhos e mulheres.

Milhares de meninos e adolescentes também morreram nas frentes de batalha, já que, diante do extermínio de suas tropas, Solano López começou a recrutar soldados cada vez mais jovens.

O caso mais tristemente célebre foi o da batalha de Campo Grande (ou Acosta Ñu, para os paraguaios), em 16 de agosto de 1869, na qual cerca de 20 mil soldados brasileiros lutaram contra aproximadamente 3.500 menores paraguaios, que morreram em sua maioria.

Por causa dessa batalha, o Dia da Criança no Paraguai se celebra em 16 de agosto.

Disputa territorial

O pano de fundo da guerra, além do conflito político, foi a disputa territorial Antes do embate, o Paraguai tinha acordos territoriais com o Brasil e a Argentina.

Depois da guerra, o país perdeu grande parte do território que reivindicava — e que segundo Chamorro representava mais de 150 mil quilômetros quadrados, além de 25% do território paraguaio.

O Brasil incorporou áreas aos atuais Estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, e a Argentina conseguiu anexar as atuais Províncias de Formosa e Misiones.

Além disso, o Brasil ocupou o Paraguai por seis anos e exigiu uma indenização pela guerra.

“Devastou o país e, de certa forma, o Paraguai nunca se recuperou de tudo isso. Nunca teve um apoio da parte dos aliados para voltar a florescer economicamente, e demograficamente a catástrofe foi gigantesca”,afirmam os estudiosos sobre a Guerra do Paraguai. Mas por outro lado o Brasil continua muito quieto sobre esse conflito que parece não cicatrizar mesmo com o passar do tempo.

Por Oswaldo Macedo