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quinta-feira 30 maio 2024
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Fé e Razão – Simplicidade

Não sabemos ser simples porque nos falta a coragem e a humildade de ser tal como somos; essa simplicidade que, como diz Dante Alighieri, é a beleza do branco como a síntese de todas as cores; simplicidade que é como o ar de que se vive sempre, mas de que só te dás conta quanto é mais puro.
Se soubermos ser simples, quando chega a dor, a crise ou a morte, bastar-nos-á um pequeno passo, se somos complicados precisaremos de muitos.
Simplicidade como a de Jesus, que escuta o grito, que lava os pés, que é criança, que é jovem operário, que não se serviu do divino para encontrar o pão, que não se aliou aos poderosos, que não se lançou do pináculo do templo para fazer fáceis milagres; simplicidade que teve no momento em que chegou a provação e não escapou.
Quanta banal estupidez há em quem pensa que produz por si a simplicidade. A verdadeira simplicidade é um mistério que não se alcança com os próprios esforços ou com as próprias virtudes, mas é o reflexo em nós de uma luz que nos é dada pelo mais simples dos simples: Deus.
Simplificar: é este o empenho contínuo. Se ganha sempre no retrabalhar.
Hoje, para além da sabedoria dos livros e do gritar convertei-vos, acredito que é preciso outra coisa: curar, e não gritar, porque não faltam as pregações, faltam a graça e a simplicidade.
Para além de buscar uma espiritualidade complicada, é-nos dito: “Se não vos tornardes como crianças…” Crianças que se maravilham e escutam.
Cada palavra de Jesus deve corresponder a atos; de outra maneira o entusiasmo inicial acaba no vazio.
A coisa que espanta de Jesus é o poder da sua liberdade e a sua espontaneidade. Mete medo este homem de coração grande, universal e ao mesmo tempo de vida simples. É grande o seu natural acolher aquilo que é compreensível e aquilo que não o é: o simples oferece sempre hospitalidade à diversidade.
Hoje procura-se com a lanterna pessoas das quais se irradiam algo da luz e da proximidade das origens, procura-se, cada vez mais, pessoas abençoadas que saibam indicar a este nosso tempo um exemplo de como viver.
Hoje é fácil encontrar um amor generoso, mas quão raro é um amor delicado e respeitoso por cada criatura, quão poucos filhos do silêncio, com o estilo de Charles de Foucauld sempre indicou: “ Sê ternura, amor , confiança total”.
Quantas vezes se experimenta que quando se pensa que se decide e se programa, sucede que, inesperadamente, a um canto oculto e silencioso, o essencial se torna visível.
Sim, muitas coisas me confirmaram que Deus é o Deus dos particulares e das pequenas atenções.

Por José Pereira da Silva