Santo Agostinho (354-430) dizia: “ a verdade não está fora, mas dentro de nós, no silêncio do coração onde Deus habita”. Adentrar em nosso interior e o começo do processo de nos escutar.
É buscar a maturação e não a cisão; a duração e não o instante; o profundo e não o superficial. A interioridade exige o trabalho atento e a fuga do imediato, exige o recomeçar. A busca da harmonia interior. Em tempos de aceleração tecnológica tudo isso parece lento demais. Muitos pensam ser a harmonia uma inércia, a duração uma insipidez.
Nossa sociedade busca o intenso que muitas vezes arruína a sensibilidade para aquilo que é profundo e interior. As sensações vão ficando insuficientes e vai dando lugar ao vazio.
Os mais atentos percebem que na sociedade atual tem-se um rompimento entre interioridade e exterioridade, comportamentos e consciência; prevalece a superficialidade, banalidade e a aparência. Diante desse contexto a interioridade fica débil e obscura.
Tal situação exige que as pessoas retomem o caminho de reentrar em si mesmos e encontrar sua identidade e singularidade num mundo massificado.
A busca alucinada do sucesso exterior, da fama e riqueza muitas vezes oculta o vazio interior. Percebe-se um rompimento entre aparência e o coração, entre a busca pela estética corporal perfeita e a alma que cada vez fica vazia.
A interioridade diz respeito a pessoa e sua identidade profunda. Sobre a essência íntima do ser humano.
Reentrar no coração para se encontrar de forma autêntica e profunda. É o caminho da mudança profunda e coerente.
A tradição latina nos lembra sempre do : “In interiore homine” (No homem interior). Santo Agostinho dizia:” volta para ti, no homem interior habita a verdade; e se achares que a tua natureza é alterável, transcende-te a ti mesmo” (De vera religione, 39, 72). O homem é um grande enigma e um grande abismo. O homem vive em muitas situações afastado de si mesmo, alienado de si próprio, é preciso trilhar o caminho para se reencontrar. Chegar ao seu verdadeiro eu, à sua verdadeira identidade.
O ser humano cercado de tudo e da alta tecnologia se sente vazio, vive na superfície das coisas, é preciso mergulhar no silêncio interior. É necessário superar as ambivalências emotivas e mentais que atrapalham o autoaperfeiçoamento.
O ser humano na maioria das vezes busca fora de si o que só pode encontrar dentro de si tais como felicidade e sentido. Fora de si encontra a dispersão que o afasta de si mesmo. Vivendo apenas no exterior vai se perdendo nas coisas que o cercam e consequentemente se esquece de si. A Perda do seu interior leva a alienação, a perda da identidade e da dignidade. É preciso regressar a si próprio e encontrar a verdade profunda do seu ser. Mergulhar nas profundezas do coração e encontrar a sabedoria.
É percorrer o caminho do conhecimento de si e do encontro com as próprias zonas de sombra. Fugir do engano das ilusões. É buscar a parte mais oculta de si próprio. Aceitando o mundo interior que nos habita e olhar no seu rosto, aceitar a própria humanidade. Encarar o drama interior. Ter a humildade de descer ao interior que conduz à verdade de si. É urgente um trabalho sobre nós mesmos. Trazer à luz, chamar pelo nome aquilo que nos habita, seja dramas ou feridas. Muitas vezes aonde está o maior problema e desafio, também está a grande oportunidade. Aqui está um dos grandes desafios o deixar-se reconhecer-se! Conhecer o nosso mundo interior e desder ao próprio abismo interior.
Prof. José Pereira da Silva