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domingo 16 junho 2024
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Direito Animal em foco – Nem todo cavalo fraturado deve ser sacrificado

Direito Animal em foco – Nem todo cavalo fraturado deve ser sacrificado

É comum ouvirmos que fraturas em equinos não têm cura, infelizmente, esse é um pensamento ainda muito presente nos dias de hoje. Mas nem todo cavalo fraturado precisa ou deve ser sacrificado. A grande maioria das fraturas possui uma opção de tratamento, normalmente cirúrgico.

Cada caso apresenta suas particularidades, algumas fraturas são de fácil resolução com boa chance de sucesso (bom prognóstico) e outras mais complexas, com prognóstico pior. A descrença na recuperação dos equinos aliado ao tempo de recuperação e custos dos tratamentos, são os fatores que mais acabam contribuindo para a indicação da eutanásia e de sua aceitação por parte do proprietário.

As fraturas devem ser encaradas como emergências graves, mas a calma é fundamental para que o caso se revolva da melhor forma possível. Os primeiros socorros devem ser prestados de imediato, e muitas vezes fazem a diferença entre a vida e a morte. A primeira medida é a restrição do espaço físico do animal, para que o mesmo não caminhe desnecessariamente e agrave ainda mais a lesão inicial. O proprietário deve observar atentamente os sinais clínicos e o comportamento, para que passe uma informação mais precisa do ocorrido ao se reportar ao veterinário, que irá orientá-lo das melhores opções.

A imobilização provisória da região fraturada é de grande importância e pode ser feita pelo proprietário ou treinador. Normalmente se utilizam talas de madeira ou PVC, as quais devem ser colocadas sobre acolchoamento de algodão ou espuma. Os objetivos principais das talas ou outras formas de imobilizações provisórias são de prevenir danos às estruturas que circundam a área de fratura (neurais, vasculares, musculares), impedir que uma fratura “fechada” torne-se “exposta”, minimizar a contaminação de uma ferida já existente e aliviar a ansiedade e tensão do paciente.

O exame por parte do veterinário pode ser feito antes ou após a imobilização, dependendo do caso, e consiste na observação e palpação manual da área da fratura. Por esse exame, o clínico pode orientar a realização do exame radiológico que é o principal exame complementar utilizado no Brasil. O raio-X nos fornece uma boa avaliação do tipo da fratura e de sua severidade, o que permite ao cirurgião escolher a melhor opção de tratamento. Em alguns casos a ultrassonografia também é utilizada.

Finalizado o exame clínico e complementar, feita a opção de tratamento e obtendo o consentimento por parte do proprietário, o equino precisa ser transportado até um centro cirúrgico mais próximo. O transporta deve ser conduzido da forma mais calma possível. Muitas vezes a pressa acaba pondo tudo a perder. A imobilização provisória deve ter sido realizada de forma criteriosa, de preferência assistida pelo veterinário responsável. A sedação às vezes pode ser necessária, ou mesmo a anestesia geral durante o transporte.

O tipo de tratamento adotado é específico para cada cavalo, cada osso fraturado e complexidade da fratura. Embora existam diferenças, as cirurgias devem ser realizadas em centro cirúrgico, com o cavalo submetido à anestesia geral, por profissionais especializados em ortopedia, hoje existentes em várias regiões do país.

O objetivo de qualquer tratamento é a fixação e imobilização da região fraturada, o que permite que a consolidação óssea ocorra de forma a não alterar o alinhamento normal do osso fraturado. Quanto às cirurgias, podem ser divididas basicamente em dois segmentos. No primeiro estariam os métodos de fixação interna, onde podemos citar as reduções por placas, pinos, parafusos e fios de aço. Já a fixação externa, compreende basicamente a utilização de pinos transfixados e bloqueados externamente com barras laterais ou resinas sintéticas. Existem ainda aparelhos próprios para a fixação externa em equinos, muito semelhantes aos usados na medicina, mas adaptados à nossa realidade. Em muitos casos, essas técnicas podem e são utilizadas simultaneamente, sendo que a imobilização pós-cirúrgica por gesso sintético de alta resistência também é necessária, e em alguns casos, pode também ser utilizada como forma única de tratamento. Além disso, existem também as fraturas articulares, muito comuns nos cavalos de esporte, e que são tratadas através da técnica de videoartroscópia, sistema de cirurgia por vídeo, de invasão mínima, que permite a retirada de fragmentos articulares e também a realização de alguns casos de fixação por parafusos.

Após a cirurgia, normalmente o equino fica confinado em cocheira de cama macia. Além de receber a medicação diária do pós-cirúrgico imediato, cuidados especiais são tomados não só com o membro fraturado mas também com os demais, evitando que os mesmos sofram em demasia devido ao sobre peso. O tempo de recuperação varia bastante, e durante esse período o gesso responsável pela imobilização deve ser trocado em média a cada 35 dias. A retirada completa da imobilização ocorre quando radiograficamente se constata a presença de calo ósseo na linha de fratura, este é o indício de que a consolidação teve sucesso. A partir dessa fase, o equino pode começar a caminhar gradualmente, aumentando semanalmente o tempo e a intensidade do exercício.

O tipo de fratura, aliado ao sucesso do tratamento irá definir se o cavalo terá recuperação plena, com capacidade de retorno ao esporte, ou então para uso reprodutivo ou de companhia.

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Allison Maldonado é médico veterinário, especializado em Cirurgia de Grandes Animais