Senti a brisa gelada envolvendo meu corpo, me abracei para tentar conter o frio e sorri satisfeito, prefiro o tempo gelado do que aquele calor grudento. Olhei o céu cinza e busquei a linha do horizonte no encontro com o mar revolto. Ela tem fim? O que há após a linha do horizonte? Lá longe, desliza um barquinho ou, talvez, um grande navio, sei lá, não dá para saber, talvez seja apenas ilusão de ótica. E, durante quase cinco minutos, o observo com olhar perdido, imerso em pensamentos tumultuosos (tanto quanto o mar que traz ondas nervosas para a praia), até ele desaparecer. Tento decifrar o barquinho, tentando imaginar o seu tamanho, a sua importância e o seu destino e quando está quase desaparecendo, me dou conta do absurdo de meus pensamentos, ele não está preocupado comigo, sou insignificante para ele, simplesmente não existo.
Respirei fundo e olhei para as ondas que explodiam na praia com raiva, revoltadas, e me pego imaginando qual o motivo de tanta revolta. Perco mais alguns minutos considerando os motivos da ressaca do mar e, sem chegar à conclusão alguma, desviei o olhar e observei as poucas pessoas que se arriscavam a entrar na água em um dia frio, cinzento, e com o mar agitado. Tento entender o motivo de tanto prazer em entrar na água gelada e perigosa. Afundam na revolta do mar e saem tiritando de frio, vai entender.
Olho para a faixa de areia e vejo uma velha senhora, sentada em uma cadeira de praia, olhando para o mar, imersa em pensamentos, provavelmente tão tumultuados como os meus.
Uma linda mulher, talvez uns trinta anos, sentada na areia, abraça os joelhos, enquanto olha entristecida para o mar. O que teria acontecido com ela? Decepções amorosas? Infortúnio financeiro? Agonia, revolta, desespero, pelas injustiças daqueles que deveriam fazer justiça?
Ou simplesmente a soma de muitas coisas que explodem em sua cabeça feito um colorido despedaçado e explosivo, ou feito um cogumelo atômico sem molho e sem sal?
Balanço a cabeça e olho um casal, talvez na faixa dos 35 – 40 anos, sentados em confortáveis cadeiras de praia com uma mesa farta à frente, degustando lagostas, caviares e espumantes gelados. Não estão preocupados com a pobreza, nem com a velha senhora, não estão preocupados com a linda mulher cheia de problemas e nem com o mar revoltado, o barquinho ou a linha do horizonte, mas pouco se falam. Falta diálogo? O amor acabou? O carinho se quebrou? O dinheiro farto humilhou o amor e rasgou o respeito?
Mais à frente, crianças jogam bola despreocupadas. Para que, e com que, se preocupar? Com a bolsa de valores? Com malas de dinheiro ou grana na cueca? Com o escândalo do INSS? Com a tsunami de corrupção que assola o país? Ou deveriam se preocupar com os mandos e desmandos da justiça? Balanço a cabeça enlouquecido, um turbilhão de coisas ingratas e cruéis tomam conta de uma mente insana. A brisa se torna vento e vejo o rebuliço nas árvores que faz pássaros diversos levantarem voo irritados com o balanço de folhagens e galhos e gritam em protesto. O mar revolto, o vento forte, pássaros gritando e minha mente parecendo um vulcão em erupção ou, talvez, um verdadeiro e terrível “Big One” cerebral.
Um jovem sai da água, o frio não parece incomodar e sim a dúvida de seu futuro. Terminou a faculdade e agora? Cadê o emprego? Cadê o dinheiro para gastar com a namorada? Ou para tomar um shopp? E o café? Bom, nesse último caso cumpriu-se promessa de campanha, a picanha está custando o mesmo que um cafezinho. Ai, meu Deus!
E, veja, como a mente é insana, tem gente que acredita em promessas vazias e ilusões baratas.
E a minha mente segue enlouquecida, talvez uma cama de hospício seja a solução para esse torvelinho de coisas a reclamar, a questionar. Olho de volta para o mar e busco a linha do horizonte. Creio que depois dela, finalmente, não haverá corrupção.
A minha mente insana, repleta de pensamentos tumultuados, tenta se manter cada vez mais fora da realidade. É melhor assim!