Eu trabalho em um empreendimento que vende lotes e bem em frente tem uma fazenda, na verdade, apenas uma avenida dupla separa o empreendimento da fazenda e, dias atrás, estava no empreendimento e presenciei uma cena, no mínimo, engraçada. Haviam quatorze vacas e bois deitados na grama, quase em círculo, e comecei a rir daquela reunião esquisita e fiquei a imaginar o que poderia estar sendo discutido lá.
Já imaginei o boi maior perguntando se as vacas estavam produzindo leite e quanto estaria sendo recolhido por dia e uma vaca branca toda pintada de preto, que todos conheciam por Verinha, respondeu rapidamente.
— Estou cedendo 12 litros por dia e confesso já estou cansada de doar leite e cansada de ser enganada com aquelas mangueiras automáticas, nojentas. Os humanos pensam que nos enganam, pensam que continuamos produzindo leite pensando que é para nossos filhotes quando, na verdade, há muito tempo sabemos que não é isso.
Uma das vacas, com coloração que se aproximava do vermelho não se aguentou e riu e outra, a dona Helena, um pouco mais velha, um pouco mais experiente, falou.
— Pois trate de se acalmar e esquecer esse assunto Verinha…, você viu o que aconteceu com a pobre da Márcia…, começou a reclamar demais e foi direto para o abatedouro.
— Ai meu Deus…, dá até medo de pensar nisso…, dizem que no abatedouro te dão uma porrada e tanto no meio dos chifres, deve doer pra cacete.
— Nem me fala Nestor, morro de medo disso.
— Não, vocês estão enganados, na verdade dão um tiro na nossa cabeça para nos deixar inconscientes e depois cortam nossas gargantas.
— Credo Valdemar. Não fale assim, já pensou se com o tiro a gente não desmaia e ainda sente a dor de cortar a garganta?
— Estou apavorada.
— Calma bovinos, calma…, seja de um jeito ou de outro vamos acabar alimentando os humanos, quem mandou não estudar?
— Deixa de ser tonto Adamastor…, quem disse que para se dar bem na vida tem que estudar, eu por exemplo, não estudei nada e estou pensando em me candidatar à presidência da associação bovina do Brasil.
— Deixa de ser idiota Dolores, sem estudo, como vai se eleger e depois se manter no cargo?
Dolores sorriu maliciosa.
– Simples, para me eleger já conversei com os donos do superior tribunal bovino, disse para eles que vou soltar muito feno e mortadela e ficaram muito contentes…eles são fáceis de comprar, tem boi de muitos tipos lá, tem até os bois bandidos, assassinos e aproveitadores e dizem que tem até açougueiro no grupo…
O boi grandão soltou um berro com raiva.
— Açougueiro? Odeio essa raça, é por causa deles que nos mandam para o abatedouro.
Verinha, com as sobrancelhas erguidas, falou.
— E para se manter no cargo Dolores? Como vai fazer para se manter sem estudo?
— Simples querida, é só roubar muito e dar um pouco para os bois certos. Por exemplo…
E virando-se para o boi grandão.
— Você me ajuda a ganhar a eleição e a me manter no cargo e eu prometo que você vai ganhar muito feno e que nunca vai parar em um abatedouro.
— Opa! Tô dentro.
Uma das vacas, a mais desconfiada e intelectual de todas as vacas, perguntou.
— Ei, espera aí. Alguém aqui leu “A Revolução dos Bichos”, do George Orwel???
Sem comentários!