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quarta-feira 8 maio 2024
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“Crônicas e Contos do Escritor” – A derrota do temível Barba Negra

E hoje vamos com um pequeno conto para boi dormir, ou melhor, para o neto dormir.
Antônio olhou para o neto, sorriu e começou a contar. Certo dia, estava em meu barco e despertei ao som de gritos e tiros muito fortes, pareciam tiros de canhão.
— Canhões? Meu Deus, o que está acontecendo?
Levantei, corri para a porta, mas não consegui abrir a danada, parecia emperrada.
— Mas que desgraça, está emperrada, não abre.
Bati forte na porta gritando para que alguém me ajudasse. Esmurrei-a, tentei derruba-la, voltei até a cama, debrucei sobre ela, abri a pequena janelinha e olhei para fora e, no meio de ondas muito agitadas, vi um barco de guerra que atirava com canhões.

— Santo Deus! Estamos sendo atacados e eu aqui preso.
De repente, ouvi um estrondo e soube que havíamos sido violentamente atingidos e o barco inclinou perigosamente. Por algumas frações de segundo fiquei paralisado e sem ação e, confesso, senti medo. Olhei desesperado para o barco que nos atacava e, para minha surpresa e absoluto pavor, vi o nome da embarcação inimiga, “Queen Anne`s Revenge”, nada mais, nada menos que o barco do mais temido e misterioso pirata, Barba Negra, e murmurei.

— Meu Deus! É ele, Barba Negra. Estamos ferrados.
Então, mais uma vez, corri para a porta e a esmurrei gritando para que alguém abrisse. Lá de cima, vinha sons de lutas, tiros, gritos e tudo o mais e eu ali, preso.
Alguém gritou ao lado da porta e a arrombou. Senti alívio e meu capitão falou.

— Venha Senhor, estamos em apuros. Barba Negra está nos atacando.
Subi a pequena e apertada escadinha de madeira, cheguei ao convés e o que vi me desesperou. O barco de Barba Negra estava encostado ao meu e diversos piratas haviam invadido o convés. Espadas tilintavam, gritos e gemidos por toda parte. Desembainhei minha espada e fui à luta. Sabia que dominava aquela arte, era o melhor de todos na espada. Perdera a conta dos inúmeros duelos e lutas que vencera. O barco balançava para todo lado e entrava água pelos furos do casco. Precisávamos vencer a luta rapidamente e cuidar do barco para que não afundasse, a situação era crítica. Um pirata, armado com um bacamarte, surgiu e o matei impiedosamente com minha espada, peguei a arma e eliminei mais um deles. Joguei a arma ao chão e segui com o que gostava, a espada. Lutando bravamente, fui eliminando piratas e empurrando os restantes de volta para seu barco e quando estava na amurada, eu o vi, Barba Negra em pessoa. Nossos olhares se cruzaram. Havia ódio no olhar dele, mas havia medo também.

O chamei para a luta, para um duelo de espadas, mas o temível pirata, consciente da terrível derrota que já sofrera e com medo de perecer na ponta de minha espada, resolveu bater em retirada. Não era o momento de um confronto. Quem sabe outro dia. E assim, o temível “Queen Anne`s Revenge”, tratou de se afastar, sob as balas dos meus canhões. Nossa fúria foi tão grande que o barco deles fugiu bem avariado. Barba negra fugiu com seu barco e o persegui por milhas. Estava disposto a acabar de vez com a lenda do bárbaro pirata, mas o “Queen” era mais rápido e escapou. Antônio olhou para o neto, que quase dormia, sorriu e disse.

— O que te falei é verdade meu neto, só não sei se os livros de história contam a humilhante derrota de Barba Negra.
O neto, quase dormindo, piscou o olho e perguntou.
— Mas, vovô. Como o senhor estava lá se Barba Negra morreu em 1718?
Ele sorriu, sem jeito, e quando foi explicar, o neto já dormia profundamente.