Search
terça-feira 7 maio 2024
  • :
  • :

Comilanças Históricas e Atuais – Uma carta de amor: navegando entre o sonho e as lágrimas

Comilanças Históricas e Atuais – Uma carta de amor: navegando entre o sonho e as lágrimas

I – Uma carta de amor na visão de Fernando Pessoa
Lisboa estava no lugar onde sempre estivera. Na casa do senhor Joaquim de Seabra Pessoa e Maria Madalena Pinheiro Pessoa, nasceu o poeta Fernando Pessoa. A lua continuou no mesmo lugar, as estrelas iluminavam os lados escuros do céu, conversando assuntos banais. O que nos interessa nesse momento é o fato de Pessoa criar inúmeros personagens, os famosos heterônimos, palavra incomodada que pretende significar, a produção de um texto assinado por um personagem imaginário, saído do próprio autor, mas possuindo uma literatura diferente do criador original.

Sob o Heterônimo de Álvaro de Campos, num dia chuvoso, uma performance normal de Lisboa, Fernando Pessoa escreveu o poema “Todas as cartas de amor são ridículas”:

Todas as cartas de amor são ridículas.
não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
como as outras,
ridículas.
Mas, a final,
só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor,
é que são ridículas.

II – Trechos de cartas de Garret a Catherine, par amoroso do filme “Uma carta de amor”
“Você está em todas as minhas horas.
Você está nos momentos que reparo os barcos e testo, e todas as horas as memórias chegam com as marés”.
……………………………………………………………………………..
“Eu já tinha o que todos procuram e poucos encontram: a única pessoa no mundo que nasci para amar eternamente”.
……………………………………………………………………………..
“Sempre soube o caminho de casa quando você era a minha casa…Me perdoe por ter ficado tão nervoso quando você partiu para outra existência”.

III – O autor do livro “Uma carta de amor”
O escritor Nicholas Sparks tem um escritório para escrever, para criar lendas destinadas ao mercado timbrado com o rótulo “Best-Sellers” que, numa tradução aproximada significa: estourar nas vendas. A sua técnica de colocar parte do seu ser em livros, vem da Europa, por ocasião da grande industrialização. Os trabalhadores entregavam a vida, o suor, os desejos pessoais, o amor aquecido em forno elétrico. Nesse ambiente surgiu um gênero literário destinado à leitura dos operários que perderam o direito de amar e sonhar. Ler era um entretenimento, a abertura de uma caverna para viver momentos que estavam tão distantes: o riso, o amor, a paixão, o sexo, o florescimento do futuro.
Andando ao contrário do caminho Nicholas Sparks especializou-se em narrar histórias diversas presas ao mesmo tema: o amor, a paixão, os conflitos, o sofrimento, a casualidade, o destino, a vida e a morte.
Assim, o livro “Uma carta de amor”, é mais uma história para sacudir o coração, abalar as emoções e levar o leitor às lágrimas.

IV – Um retorno ao princípio do coração judiado
Os oceanos sempre estiveram ligados ao batimento cardíaco do mundo. As ondas são criaturas que se aproximam das cidadezinhas praianas trazendo notícias dos acontecimentos.

Os Gregos, há 300 anos a.C., tiveram a brilhante ideia de colocar mensagens dentro de garrafas e entrega-las à vontade do mar juntamente com seu destino. Assim, estabelecido um contrato entre o remetente e as incertezas do futuro as garrafas levavam poesia, suspiros carregados de amor, saudade, beijos, nascimentos, política, filosofia. Durante a luz do dia e a fumaceira da noite as garrafas mensageiras cavalgavam os cavalos marinhos, sem ponto de chegada, sempre era um eterno navegar.

Dizem que a primeira mensagem colocada numa garrafa, foi obra do filósofo grego Theaphrastus, aluno de Aristóteles que, num acesso de loucura temperado com ciência e filosofia, queria provar que o oceano atlântico desembocava nos lábios sedentos do mediterrâneo, fato provavelmente transcorrido no ano 310 a.C.

No início do século XX, no surgimento do gosto comprobatório das estatísticas, os cientistas calculam que, pelo menos 25 milhões de mensagens foram incorporadas no interior de garrafas, de todos os tipos, e estão espalhadas nas cabeleiras dos mares, levando o drama da interioridade humana aos silêncios superficiais e profundos das águas.

V – O compasso
Todas as artes, buscando caminhos para a abertura da criatividade, aderiram à garrafa, à mensagem, à imensidão dos oceanos e rios. Em 1977, os Studios da Disney, para não se afastar muito no tempo produziram o filme “Bernardo e Bianca”. O longa nos conta a história de dois ratinhos, morando em Nova York que, após receberem as notícias do desaparecimento de Penny, uma jovem órfã, raptada por Madame Meduso, partiram para recuperá-la com ajuda de animais amigos. O mais importante desse filme é a profundidade e o bom gosto que a Disney nos oferece antes do início da narrativa. No anuncio dos créditos do desenho, local que aparece o nome do corpo técnico, em meio as letras, Disney coloca o mar, a garrafa que Penny lançou no oceano, anunciando o seu sequestro. É uma verdadeira aula de cinema.

VI – Uma carta de amor
O filme foi realizado em 1999 por Luis Mandaki que assumiu também a direção. O roteiro foi adaptado por Gerald di Pego. A história enfoca a vida de uma jornalista divorciada, Therese Osborne, colunista do jornal Chicago Tribune. O seu divórcio foi motivado pela traição do marido, causando desgaste e exposição jurídica, sofrimento e olhares perversos e sínicos. Ao término da separação ela fica com o filho Jason, que passa a ser o centro de sua vida. O seu “eu” esfacelado, dolorido, passa a não acreditar mais no amor, na sensibilidade dos sentimentos humanos, situações que a afastaram dos caminhos onde o amor costuma caminhar. O seu chefe a convence a tirar umas férias, distanciar-se do seu rodizio de vida. Ela pensa, reflete, olha para o brilho do sol e resolve viajar pelas praias de Cape Cod.

O amor sempre anda olhando as pessoas que o perderam. Numa manhã de sol rastreador de sentimentos, Therese encontra uma garrafa arrolhada contendo um rolinho de papel em seu interior. Realizando o seu trabalho de jornalista descobre uma mensagem endereçada a esposa Catherine já falecida. O início do processo atinge o seu lado profissional pois segundo a sua visão de jornalista, poderia estar diante de uma grande história de amor.

A mensagem consta de frases, períodos, parágrafos que apertam o coração: “Catherine, sinto a sua falta, mas hoje está mais difícil porque o oceano tem cantado para mim, e a canção é a nossa vida juntos”. Ela, mesmo trabalhando com notícias se comove com as palavras, com o desespero, com o amor do autor do texto, e resolve encontrá-lo, ouvi-lo, descobrir os mistérios da vida, que não constam da mensagem.

As cartas são assinadas pela letra G, consoante que participa do nosso alfabeto; sua origem está no Egito, era um símbolo de arremesso parecido com um bumerangue, circunstância que define o desenvolvimento do filme: a volta, o despertar, o renascer, o retorno da alma.

VII – A procura
Durante a sua procura, espaço a espaço, ela descobre novas cartas que aprofundam o seu sentimento. Therese o encontra; era um construtor de barco de nome Garret. O encontro dos dois representam a união de dois estados emocionais idênticos, feridos, sangrados. Garret perdera a esposa há 3 anos, mas a sua presença invade o seu corpo, sua alma, seus delírios, o tempo que a vida oferece. Ela volta a acreditar no amor, se apaixonam, mas não se completam.

Ele sofre pelo amor perdido, sem possibilidade de esquecimento; ela reencontra a possibilidade de amar novamente. Os apaixonados se entregam, sentem o desespero do eu que necessita de um copo de vida. No entanto, as forças do passado não se afastam da esquina. O amor, mesmo lutando consigo mesmo é rompido.

VIII – O barco sonhado
Ele constrói um barco, dos mais lindos que já construíra, dando-lhe o nome de Catherine; uma forma de concretizar o mítico. Coloca o barco em mar aberto e parte em busca de Therese. O oceano se enfurece, agita-se, como no princípio do mundo e das coisas. Vira o seu barco e um outro que passava por aquelas águas. Ele pula no coração da água que fala uma língua estranha, trava uma luta sem antecedentes, salva uma criança e seu pai e, sentindo que a vida queria colher flores no jardim de Posseidon, deixa seu corpo afundar lentamente na brandura dos pensamentos e da imagem de Therese. Aos poucos, entre a fúria das águas seu corpo desaparece.

IX – A verdadeira carta de amor
“Catherine! Minha vida começou quando a conheci e pensei que tinha acabado quando falhei em salvá-la. Pensei que se me agarrasse à sua memória nos sentiríamos vivos. Mas eu estava errado. Uma pessoa, chamada Therese me disse que, se eu fosse corajoso o bastante para abrir meu coração, poderia voltar a amar. Amanhã vou velejar até o ponto onde venta pra lhe dar adeus. Depois vou atrás dessa mulher. E se eu disser que a amo tanto quanto amei você, ela entenderá tudo. Descanse em paz meu amor”.

Meus leitores, esta carta foi encontrada no bolso da blusa que Garret vestia quando Posseidon o levou para o reino dos oceanos. Portanto, as cartas que circulam no filme entre os dois personagens são etapas do desenvolvimento da narrativa. Esta, meus amigos, é a única carta que mostra a morada do amor, motivo pelo qual o nome do filme se justifica.

RECEITA

TILÁPIA ASSADA COM LEGUMES

Ingredientes: 600 gr de tilápia; 1 unidade de cebola em rodelas; ½ colher(sopa) de manteiga; sal a gosto; pimenta do reino branca a gosto; 3 unidades de tomate picado, sem pele e sem sementes; 1 xícara (chá) de salsão em cubos pequenos; 1 xícara (chá) de cenoura cozidas em rodelas; 1 xícara de batata cozidas em rodelas.

Modo de preparo: Disponha as cebolas no fundo de uma forma refratária grande. Coloque o peixe por cima e distribua a manteiga. Salpique os tomates, o sal e a pimenta. Asse em forno pré-aquecido à 200 ºC durante 15 minutos. Junte os legumes que já estavam cozidos e distribua a manteiga restante. Asse mais 20 minutos e sirva,

por Adriana Padoan