Search
quarta-feira 8 maio 2024
  • :
  • :

Comilanças Históricas e Atuais – O Conde de Monte Cristo e sua vingança

Comilanças Históricas e Atuais – O Conde de Monte Cristo e sua vingança

I – Oficina literária – século XIX
Alexandre Dumas (pai) nasceu na França, no século XIX. O país dormia e acordava carregando o peso de sua história, os conflitos entre a monarquia e o mito de Napoleão Bonaparte, o sonho da restauração representada pelos princípios democráticos. O povo caminhava buscando o cheiro de seu próprio destino; no andar descontrolado, movido pelo vento ou pela história, a fome, a miséria, o desespero, o dinheiro nascido nas esquinas lícitas ou ilícitas, desenhadas por palácios, perfume e nobreza, gritos de revolta contornando estradas que não levavam a lugar nenhum. Nesse ambiente, Alexandre Dumas (pai) escreveu “Os Três Mosqueteiros”; “O Homem da Máscara de Ferro”; “A Rainha Margot”; “A Tulipa Negra”; “O Conde de Monte Cristo”, e centenas de outros romances produzidos ao sabor da correria do tempo. A sua produção no mundo das letras abraçou o teatro, a culinária, a história, a crônica, erguendo andaimes nas paredes de uma nação em combustão. A pena presa em suas mãos, não respeitava sistemas organizados, escolas literárias que carregavam doutrinas estabelecidas para orientar a produção do belo; o seu compromisso era com o entretenimento e a magnetização do olhar do leitor. Ele criou, em pleno século XIX, uma espécie de cooperativa literária, um processo de criação por infinitas mãos. Ao amanhecer em Paris, quando o sino da matriz badalava o cântico da fé; Alexandre Dumas distribuía nas ruas daquele universo, escritores, pesquisadores, jornalistas, professores, que trabalhavam para ele buscando, no desejo e na desordem estabelecida, notícias, acontecimentos, histórias, lendas, contos, receitas culinárias, brigas, atritos, fermentados na fogueira de uma cidade que não dormia. As suas técnicas de escrever remodelavam aquele material, vestindo cada frase maltrapilha, com roupas tecidas pela estética, criação, imaginação e encanto.

A sua arte tinha um preço, Alexandre Dumas cobrava por frase escrita. Por esse motivo, o livro que nos interessa por sua reprodução cinematográfica, “O Conde de Monte Cristo”, foi escrito entre o mês de agosto de 1844 a janeiro de 1846, apresentando uma história narrada em 1304 páginas.

II – A força temática
O livro que se transformou em nosso estudo paralelo entre a produção literária e a cinematográfica é muito forte, o seu cheiro teorizado, faz uma raspagem no coração de grandes temas que tentaram acariciar a movimentação do ser, dentro da abismada humanidade. O Conde de Monte Cristo nos apresenta a amizade pensando em sua existência, a traição como processo de covardia e ruptura, a vingança como projeto coberto de vida, a redenção como resgate da fome primária e o amor como consagração motivada na essência do divino.

III – O filme, o conde e o monte cristo
Vamos trabalhar com a versão filmada em 2002, pelo diretor Kevin Reynolds, roteirizado por Jay Wolport, com base no livro de Alexandre Dumas. O trabalho do diretor e do roteirista segue a estrutura da trama literária, passando por modificações e ajustes necessários ao andamento da narrativa diante das câmeras de filmagem.

IV – O processo narrativo
Existe um jovem rico, nobre, galanteador, chamado Fernando Mondengo, que em suas noites de insônia e angústia, momentos que a razão tenta rever os acontecimentos embalados pelo tempo, confronta-se com a realidade que rodeia a imagem do seu amigo Edmond Dantés, um homem pobre, simpático, um cavaleiro que aceita todas as facilidades e dificuldades impostas pela vida, amado por uma belíssima mulher de nome Mercedes, o desejo interno do jovem Ferdinando.

V – As amarras do filme
Edmond Dantés é o segundo oficial de um navio mercante francês e seu amigo Fernando Mondengo representa a Companhia de navegação que o navio pertence. Trabalho, companheiros, amigos, movimentam-se sobre as ondas do mar, carregadora dos mistérios, dos pesadelos de Posseidon.

A certa altura da viagem, o capitão é atingido por um mal em forma de doença. O navio está próximo a Ilha de Elba e, ali, procuram socorro para o capitão. O navio é bombardeado pela guarda de Elba, os tiros, em direção ao navio, clareiam as águas do mar, os peixes, namoradores noturnos, escondem-se no fundo do mar, mas não perdem o delírio das nadadeiras, dos beijos, da loucura da vida espelhada pelos olhos de Netuno. Após o tiroteio passado, os soldados de Elba permitem que o capitão do navio receba tratamentos médicos e, também, o mistério que habita a Ilha é revelado: Napoleão Bonaparte está exilado na ilha.

A história da França, as suas conquistas, as mudanças políticas, as vitórias e as discordâncias de toda a nação, cabem na Ilha de Elba.

Napoleão isolado em sua tristeza.
As lembranças dos combates
Os sinais da vitória
As lembranças do corpo de Josefina
O amor, a paixão, os beijos, o luar!

O capitão do navio morre em Elba. Napoleão Bonaparte bate as lâminas do olhar em Edmond Dantés, reconhecendo a presença da pureza, ingenuidade, honestidade. Aproxima-se de Edmond e pede ao marinheiro que entregue uma carta ao continente, em troca dos serviços médicos prestados ao capitão. Edmond aceita a missão, sabe a quem entregará a correspondência, e jura segredo. Mas, escondido num canto do navio, Fernando testemunhou o pedido de entrega da carta.

A chegada em Marselha aconteceu ao entardecer. O Secretário Geral da empresa, Morrel, faz um enorme elogio a Edmond pela sua responsabilidade e bravura. Antes que o sol se ponha, além do ângulo dos olhos, promove Edmond capitão do navio. Ao receber o novo cargo, Edmond comenta as suas intenções de casar-se com Mercedes.
A inveja atravessa o madeiro podre e velho do porto e, sem anunciar as suas intenções, instala-se na alma de Fernando que deseja Mercedes, penetra no coração de Danglors, louco pretende ao cargo. Os dois pensam e denunciam Edmond por estar com a carta de Napoleão. Vellefort, o amigo e magistrado da cidade, prende Edmond por crime de traição, pois a carta de Napoleão estava endereçada ao seu pai. Monsieur Clarion, Bonapartista fanático, queima a carta e ordena que Edmond seja trancafiado na pior prisão da França, no Castelo de If.

VI – A prisão na Ilha
O diretor da prisão da Ilha, Armand Dorleac, tinha fama de sádico, violento e alucinado.
O diretor do presídio conta a Mercedes que Edmond fora preso por traição a França. Ele leva Mercedes a destruir suas esperanças, Dantés jamais retornará vivo. Ela se casa com Fernando.

A prisão ficava no interior de uma montanha, banhada pelo mar. Era escura, suja, entregue nas mãos de torturadores profissionais. O dia era engolido pela noite, somente os gritos de medo e desespero corria os corredores. A maioria dos presos era formada por opositores políticos. Na prisão, depois de vários e alongados anos, Edmond conhece o Frade Faria que, em nome de Deus e da sua fé, fazia um túnel para a sua fuga. O padre ensina a Edmond tudo o que ele conhece, os mistérios da história, os segredos da química e da matemática, as doutrinas políticas e econômicas, os caminhos traçados por Deus e, antes de morrer, entrega a Edmond o Mapa do Tesouro da Espada. Edmond, na madrugada que lentamente vai nascendo, entra no lugar do corpo do Padre Faria que é jogado ao mar. Dessa forma consegue fugir da prisão e nadar sobre as ondas de um mar bravio. Sua cabeça e seu coração parecem duas caixas utilizadas para guardar ódio, revolta, raiva, violência, desejo de vingança.

VII – A vingança em movimento
Edmond coloca suas mãos na areia da praia, no momento que o sol está nascendo. Caminhando como um náufrago, atravessa Marselha, encontra-se com Merrell que, não o reconhecendo, conta-lhe que Fernando e Danglors foram os principais participantes da traição sofrida por Edmond. Narra-lhe o casamento de Mercedes com Fernando e o suicídio de seu pai. A noite de Marselha escureceu a terra e o mundo dos homens. Edmond com seu amigo Jacopo, conseguem encontrar o Tesouro da Espada, seguindo o mapa traçado pelo padre Faria. Contando com a mobilidade que existe na composição de um romance, Edmond compra uma mansão, adquire roupas da alta moda de Paris, oferece uma festa sem limitação e transforma-se no milionário Conde de Monte Cristo.

O ódio marca um encontro com a raiva, com a violência, com o desejo de vingança, dentro de Edmond. Os planos começam a engatinhar lentamente, passo a passo, em direção aos horizontes ampliados pelas lembranças das paredes da prisão.

Danglors é preso em flagrante praticando um roubo idealizado pelo Conde; Willefort é enganado por um estrangeiro que o embebeda e, sem pensar muito, confessa que matara o próprio pai. É preso e mandado para a prisão das pedras.

Fernando é chantageado e lavado à ruina financeira, quando Edmond cobra a sua dívida nas mesas de jogos. Edmond reaproxima-se de Mercedes; a paixão cobra sua existência e confessa ao conde que casara com Fernando porque estava grávida de um filho seu, portanto, o Conde é o verdadeiro pai do filho de Mercedes e Edmond, o jovem Albert. Fernando se prepara para fugir do país mas, por meio de um confronto de espadas com Edmond, é ferido de morte. Morte lenta, arrastada, sofrida, carregada por pensamentos inexplicáveis.

As nuvens se acomodaram no céu; Edmond compra o Castelo de If, transforma-o numa instituição para o bem, direcionando-o a preparar o ser humano para a vida.
Como prometera ao Frade Faria, ao lado de Mercedes e do filho Albert, o dinheiro do Tesouro da Espada será usado em benefício de uma humanidade carente de tudo, inclusive do conhecimento da vida dada por Deus.

RECEITA

BABA AO RUM

Ingredientes da massa: 90 ml de leite; 200 gr. de farinha de trigo; 10 gr. de fermento biológico fresco; 20 gr. de açúcar, 5 gr. de sal; 2 ovos; 45 gr. de manteiga.
Ingredientes para calda: 1 litro e meio de água; 700 gr. de açúcar refinado; 1 laranja em rodelas; 50 ml de rum.
Decoração: fruta da estação
Modo de fazer:
Numa vasilha, misturar o fermento biológico e o leite. Bater com a batedeira até que dissolva bem. Acrescentar a farinha, o açúcar e o sal e bater mais.
Com a batedeira ligada, acrescentar os ovos inteiros e bater de 5 a 7 minutos. Coloque a manteiga de pouco em pouco, em temperatura ambiente e bater por mais 15 minutos.
Dividir a massa em 10 forminhas, até a metade, e deixar descansar de 40 a 50 minutos. Assar a massa em forno médio por 20 a 25 minutos, até a superfície ficar dourada. Desenformar e guardar na geladeira por duas horas.
Nesse período, preparar a calda colocando em uma panela todos os ingredientes, em fogo baixo, até levantar fervura. Desligar, aguardar resfriar e colocar em um recipiente alto para que os bolinhos fiquem boiando na calda, virar as babas até encharcar e tirar com espumadeira.
Em um refratário ou em taças individuais colocar as babas e decorar com chantilly e frutas da estação.

por Adriana Padoan