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quarta-feira 8 maio 2024
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Comilanças Históricas e Atuais – Meu irmão, minha irmã: seus traumas e suas verdades

Comilanças Históricas  e Atuais – Meu irmão, minha irmã: seus traumas e suas verdades

I – Abertura
Os sinos estavam nas torres da igreja; os carros comiam fatias de asfalto, a criançada entrava no ônibus escolar, o pipoqueiro, milagroso, transformava os grãos de milho em flocos brancos, uma saborosa transformação. Pessoas corriam, mulheres entravam em lojas, e um pássaro chorava a perda do seu ninho.

II – A cabeça, a fome, o cinema
Num restaurante médio, ao sabor das massas e vinhos, o diretor de cinema Roberto Capucci viu, no fundo de uma taça com sangue extraído das uvas, uma ideia de realização de um filme, um longa-metragem. O vento levou a ideia na mão do roteirista Carlos Capucci. As palavras balançaram num trapézio imaginário por mais de cem vezes, e o drama denominado “Meu Irmão, Minha Irmã” vestiu sua roupa nova. Cinema é uma arte que nasce durante os poucos segundos que o útero da criação se paralisa só para respirar.

III – O drama tragado pelo processo de criação
A palavra drama surgiu na Grécia, enquanto a lua contava as suas sombras e histórias. No começo, após o nascimento, o vocábulo foi usado no teatro, apresentando os sentidos de ação ou interpretação de um texto gerado por um artista que tem no fundo do olhar a capacidade de ouvir estrelas. Um texto dramático traz sobre a aba do chapéu, uma mistura de desastre, catástrofe, fatalidade, tragédia e um aroma de amor desfeito depois da quebra de um sentimento profundo.

IV – O drama escrito na mesa de um restaurante
O filme “Meu Irmão, Minha Irmã” apresentado pela Netflix, uma empresa que, girando o circulo em torno de si mesma, uniu a palavra “Net” + “Flix”, buscando transmitir o significado de “filmes na internet”; desculpe-nos pelo pequeno desvio, e, como falávamos, o longa em questão tenta reunir sobre as ondas do mar, a fraternidade, a partilha, a família, e os dramas pendurados nos lustres de um casarão.

V – O suspiro partilhado
O espaço onde o filme acontece é a cidade de Roma, palavra que tem a sua origem na língua grega, onde representava a força. A mitologia romana, de um certo modo, mitifica e costura o texto fílmico. Diz a lenda, saída do tempo, que havia dois bebes gêmeos que tinham sidos abandonados na região de Roma. Uma loba resgatou os bebes e os alimentou. Quando moços Remo se desentendeu com o irmão, os dois lutaram um combate feio; Remo mata o irmão Rômulo e funda Roma. Essa cidade, cheia de beleza, originada no abandono, relaciona-se com a fera, a morte e a reconstrução.

VI – O começo do filme
A maioria das personagens está em uma igreja, participando do velório do pai, professor Giulio, mestre de astrofísica. Em vida, levara seus alunos a passear pelo universo, aplicando a física na vida das galáxias e do infinito. A família estava representada por Testa, filha que cuidou do pai enquanto vivia. É uma mulher problemática, dona de profundos traumas; fora abandonada pelo marido com dois filhos: Sebastian, um adolescente vitimado pela esquizofrenia, e Carolina, uma estudante de moda.

VII – O encontro com o passado
Subitamente, no exato momento em que um lírio banco tomba de um vaso, entra na igreja, para o espanto de todos, o filho mais velho, chamado Nick, ausente a mais de vinte anos. Ele atravessa a igreja carregando uma prancha de baixo do braço, vestindo-se como os jovens da beirada do cais; pede ao padre para dizer algumas palavras em homenagem à vida do pai. Esse filho desaparecido nas ruas do passado, de meia idade, vive do surf, veste-se, pensa, fala como um jovem mas, estranhamente, traz no olhar a indolência, a mágoa misturada com a realidade conhecida, tem sérios problemas com a família, mas fala homenageando aquele que o gerou: “- Em vida, nos seus momentos de reflexão, dizia que o tempo nunca existiu; não era uma realidade dividida em fatias e coladas num calendário. O tempo era prova de que a existência não era real, ela não poderia dominar o interior do ser humano. Eu sou só espaço, movimento, caminhando em direção ao infinito. Meu pai dizia, também, que a realidade não é o que enxergamos, mas o que sentimos. Caso ele estivesse certo, o seu eu não está mais aqui, já viajou”.

O discurso foi bem aplaudido e no filme teve a finalidade de apontar as rupturas dele com os seus familiares e com o próprio pai.

VIII – Texto e contexto
A chegada de Nick contextualiza a película, pois a palavra fraternidade, vinda da língua latina, marcando o sentido de irmão, da vida em sociedade, batalhando ao lado dos seus semelhantes e, na medida do possível, carregar a bandeira da igualdade, indica um processo que realiza a desmontagem do próprio filme.
Na teoria do pai que se fora, a necessidade de partilhar, doar, respeitar e sentir todas as coisas boas dentro de si, mas também, as tragédias pessoais, pois esses elementos nos conduziriam a concepção de família como ponto de chegada, vivência, experiencia, preparação para olharmos o mundo de frente.

É evidente que ao longo dos séculos, a noção singular de família, passou por estágios de selvageria, barbárie, até aproximarmo-nos do projeto civilizatório.

IX – A leitura do testamento
As cenas que registram a leitura do testamento deixada pelo falecido professor foram marcadas pelo profissionalismo do advogado responsável pelo inventário. Considerando a ansiedade que estava dentro de cada membro da família; os sonhos e os desejos que moviam os batimentos cardíacos, dá então chamada relação familiar.

O testamento, sem grandes floreios, deixa o casarão para Testa e Nick sob a condição de morarem um ano juntos, para, no futuro, sem certeza de luz, dividir a herança. A ocorrência dessa cena no filme, tem como objetivo final remoldar a própria família, reconstruir os formatos da chamada civilização.

O clima é um retorno aos princípios da formação de Roma, das disputas impostas pelo Império Romano. A beleza da Itália, o nascimento do sol, o grito de amor da lua, as ruas de Roma, as corres, os jardins; a antiguidade vizinhando as novidades arquitetônicas. Os mercados, as lojas, as pessoas caminhando em busca do segredo do viver; a imagem do Coliseu delimitando e comparando o clamor entre a violência, o ódio e o amor.

X – A vida em família
Na casa dos herdeiros, dentro de cada um, a incompreensão coloca papeizinhos na parede, memórias que morreriam sem a fixação sobre o armário. A luta de Testa com ela mesma, combate de vida e morte, o amor ao irmão bloqueando os sons que não chegam; Nick, sentindo o peso do mundo sobre si, o amor que sente a irmã, aos sobrinhos, e a ausência de um pai que, na história seria o princípio, o causador e construtor das estradas que não levavam a lugar nenhum.

O sobrinho sonhando com Marte, conversando com o inexistente, mas mesmo esquizofrênico descobrira com quem conversar. Na passagem dos dias as personagens começam a retornar a infância.
O cesto de basquete no quintal coletivo, o jogo entre Nick e Testa e a infância começa a fechar os buracos abertos no ato de existir.

XI – O sobrinho
O sobrinho, Nick, a bela professora de piano Emma, e um triangulo amoroso que não se justifica naquele instante, mas que forçadamente fez parte de uma escola primária sem endereço; assim os processos vão renascendo.
A cena em que Nick aproxima-se do piano; olha-o profundamente, os pensamentos que entram no roteiro do eterno retorno; ele senta e toca acompanhado do sobrinho; cena que afasta por segundos as características da esquizofrenia, aproximando o jovem da síndrome do autismo.

XII – Epifania
A noite em que Sebastian e sua professora iam participar de um concerto, ele tocando violoncelo e sua professora o piano para um público desconhecido. Luzes! Palmas! Gritos! Silêncios inexplicáveis. A imagem de Emma abrindo-lhe o caminho entre o palco e o público. A reação de Sebastian não representa surpresa; o medo, a falta de confiança, o exagero das palmas e das luzes fazem com que ele pule do palco e foge correndo do teatro, sendo atropelado na rua por um carro. Nessa mesma noite a família ia jogar a cinzas do avô no mar.

XIII – Cena do hospital
A família esperando por notícias médias sobre o estado de saúde do acidentado. O corpo de Sebastian estendido na cama hospitalar. Os tubos entrando pelo seu corpo, as sondas garantindo-lhe a vida. O cosmo vivendo nas alturas e eternidade.

Não havia horário marcado, não existia relógios nas paredes, e o corpo de Sebastian levanta-se sobre o seu próprio corpo. Aconselha a família, aponta o destino de cada personagem e aproxima-se do seu leito hospitalar.
Uma das possibilidades que o filme nos oferece é o prosseguimento sem fim da espiritualidade, como manifestação divina. Outra possibilidade seria o deslocamento da aura astral, considerando o ponto de vista do misticismo. Pensando no aspecto político e libertário, Sebastian se lança nas águas do mar, para que a família se reúna em um só corpo. O filme não abre cientificamente as verdades, as crenças, os caminhos do homem místico, mas deixa uma porta aberta para que cada pessoa se reúna a Sebastian nas águas do mar incorporando sua própria percepção e entendimento.

RECEITA

LASANHA ITALIANA
Ingredientes: 500 g de folhas de lasanha; muçarela; parmesão
Ingredientes para o molho Bolonhesa: 45 ml de azeite; 25g de manteiga; 1 cebola; 1 talo de aipo; 1 cenoura; 150 g de panceta; 400 g de carne picada mista; 200 ml de vinho tinto; 2 colheres de sopa de extrato de tomate; 200 ml de caldo
Ingredientes para o molho bechamel: 100 g de manteiga sem sal; 80g de farinha; 1 litro de leite; 100 g de parmesão (ou outro queijo); um pouco de noz-moscada

Modo de fazer:

Molho Béchamel: Derreta a manteiga, depois acrescente a farinha e misture bem para não formar grumos. Quando a mistura engrossar, despeje o leite e acrescente o parmesão, sal, pimenta e noz-moscada. Com agitação constante, cozinhe até que todos os ingredientes estejam combinados. Não cozinhe em fogo alto para não deixar o molho grudar.
Molho Bolonhesa: Aqueça o azeite e a manteiga em uma panela, adicione a cebola picadinha, o aipo, a cenoura e a pancetta e cozinhe em fogo baixo por cerca de 10 minutos até a cebola amolecer. Junte a carne e frite bem. Aumente o fogo, despeje o vinho e deixe evaporar. Diluir a polpa de tomate com um pouco de caldo (diluir 1/2 cubo de sopa em água quente) e misturar na carne. Reduza o fogo, tampe e cozinhe por 2 horas, verificando de vez em quando e adicionando um pouco de caldo para evitar que o molho resseque.

Montagem: Despeje o molho à bolonhesa no fundo da assadeira e cubra com uma folha de lasanha. Despeje novamente o molho balonhesa, depois o béchamel e a mussarela. Rale um pouco de parmesão por cima. Em seguida, disponha a folha de lasanha e repita o processo até esgotar todos os ingredientes. A última linha não é uma folha de lasanha, mas sim molho balonhesa, béchamel, mussarela e parmesão.
Cubra com papel alumínio e leve ao forno a 180°C por cerca de 35-40 minutos. Cinco minutos antes do final do cozimento, retire o papel alumínio.

Por Adriana Padoan