Search
quinta-feira 22 maio 2025
  • :
  • :

Coluna Espírita – Onde estão as crianças desencarnadas?

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
Um dos temas contemplados na primeira obra fundamental do Espiritismo aborda assunto de destacado interesse para muitas famílias que sofrem com a morte prematura de um filho, alguns mesmo em tenra idade: Sorte das crianças depois da morte. Dentro desta temática, destacamos a seguinte questão:
Que sucede ao Espírito de uma criança que morre em tenra idade?
“Recomeça uma nova existência.”1
Esta sucinta resposta deu margem a que alguns leitores concluíssem, de forma precipitada, não haver crianças no Mundo Espiritual, interpretando o recomeça como uma ação imediata por parte dos encarregados dos processos reencarnatórios, ou seja, para os Espíritos desencarnados precocemente não haveria erraticidade. Contudo, é de notar não ter sido dito quando a criança recomeça esta nova existência.
A situação originada por esta interpretação cria um precedente inquietante dentro do corpo da Doutrina, pois abre uma possibilidade de exceção à regra geral. Esta prevê para todos os mortos a permanência por um período de tempo variável no espaço de modo a possibilitar a escolha e o planejamento de uma nova existência. E, como as crianças, não importa em qual idade desencarnem, são Espíritos tão, mais ou menos antigos do que seus pais, possuindo o seu passado muito bem delineado, construído nas encarnações anteriores, com provas e expiações a serem experimentadas em função de condutas distanciadas das leis divinas vividas por livre escolha, deveriam passar também por um estágio no plano etéreo para, de igual modo, se prepararem para outra reencarnação, em futuro próximo ou distante.
Como exemplo do caso de uma criança no Além, podemos lembrar a mensagem comunicada por Marcel um menino de 8 a 10 anos. Decorrido algum tempo da sua desencarnação, foi evocado na Sociedade de Paris em 1863 dando uma comunicação conforme relata Allan Kardec em O Céu e o Inferno, embora ele já estivesse com o seu perispírito recuperado em relação à sua proporção, à época em que comunicou a mensagem.2
Não há por que duvidar haver crianças no Plano Espiritual, pois o desencarne de crianças é comum, é um fato que acompanha a nossa evolução como Humanidade. Neste ano já desencarnaram no mundo 1.803.796 crianças com menos de 5 anos.3 Aliás, é o próprio Codificador quem afirmou:
Por que a vida se interrompe com tanta frequência na infância?
“A duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que nela está encarnado, o complemento de uma existência interrompida antes do término devido, e sua morte, quase sempre, constitui provação ou expiação para os pais.”4
Assim, as mortes prematuras atendem à lei de causa e efeito, não há nada a estranhar. Nesta resposta, afirmam que este fato pode representar para o Espírito o complemento de uma existência interrompida antes do término devido, uma típica situação causada por um suicídio, opção largamente utilizada pelos homens, na prévia existência.
É fato não ter Allan Kardec abordado em detalhes este tema, mas registou em linhas gerais a forma como atuam as leis de Deus, que se aplicam a todos, sem exceção.
Após a publicação das obras compondo o Espiritismo, houve o lançamento de outros compêndios trazendo informações complementares à algumas lacunas deixadas por Allan Kardec, cremos de propósito, pois não seria factível discorrer em minúcias sobre todos os temas que pudessem interessar à Humanidade, sem publicar não cinco obras básicas, mas dezenas. Qualquer antigo enciclopedista diria o mesmo.
A existência de moradas fluídicas abrigando Espíritos de crianças recém desencarnadas já está amplamente confirmada, aliás, mesmo antes do surgimento do Espiritismo, autores já abordavam o tema, como se denota nesta citação de Cairbar Schutel:
As crianças são bem recebidas no Outro Mundo, sejam ou não batizadas. Aí elas crescem e são adotadas por mulheres jovens, até que lhes apareçam suas mães verdadeiras.5
Esta descrição do que ocorre no Além, relacionada, particularmente, ao tema em exame, foi fornecida por um dos mais destacados espiritualistas que já passaram pela Terra: Emanuel Swedenborg, que viveu em nosso orbe no período de 1688 a 1772.
Foi também Cairbar quem informou:
Os Espíritos dos que morrem quando crianças são acolhidos carinhosamente por missionários que se dedicam a essa tarefa, e são igualmente instruídos até que se lhes desponte a consciência integral e desapareça deles o traço infantil gravado na “consciência pessoal”.6
Observa-se, de modo geral, que é preciso tempo para que o Espírito perca as características infantis que lhe foram impostas antes de reencarnar, parte das providências tomadas pelos operadores das reencarnações. Esta medida é fundamental, pois permite ao Espírito um novo recomeço, facultando aos pais a possibilidade de educá-lo ou reeducá-lo, preparando-o, durante o período infantil, para novas lutas que certamente se seguirão no curso de mais uma existência.

REFERÊNCIAS:
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Evandro Noleto Bezerra. ed. 2. imp. 1. Brasília/DF: FEB, 2013. q. 199ª.
2 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução Evandro Noleto Bezerra. ed. 2. imp. Brasília/DF: FEB, 2013. 2ª pt. Marcel, o menino do nº 4.
3 https://www.worldometers.info/pt/ – Acesso em: 29/03/2025.
4 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Evandro Noleto Bezerra. ed. 2. imp. 1. Brasília/DF: FEB, 2013. q. 199.
5 SCHUTEL, Cairbar. A vida no outro mundo. ed. 8. Matão/SP: O Clarim, 2014. As revelações de Swedenborg.
6 Op. cit. Perturbação da morte.