Espiritismo na Alemanha
• Gerson Sestini – Rio de Janeiro/RJ
Em 1826, o Dr. Justinus Andreas Christian Kerner teve a oportunidade de estudar fenômenos espíritas através da mediunidade de Frederica Hauffe na Alemanha. A médium possuía magníficas faculdades; entre elas, a de falar em línguas que ignorava, além de discorrer sobre assuntos que também desconhecia. O médico escreveu a obra A Vidente de Prevorst, publicando-a em 1830. Embora anterior ao advento do Espiritismo, alguns conceitos da Doutrina Espírita já eram nela comprovados. Dr. Carlos Imbassahy, tradutor do livro pela editora O Clarim, fez importantes comentários a respeito.
Dentre os pesquisadores alemães que estudaram os fenômenos espíritas durante o século XIX destacam-se o Barão Carl Du Prel e Friedrich Zöllner, este catedrático da Universidade de Leipzig, dando inestimável colaboração à propagação do Espiritismo.
Mais tarde, já no século XX, o livro Os Mortos Vivem torna-se um best-seller na Alemanha. Vivia-se a época que precedia a Primeira Guerra Mundial. Seu autor, Hinrich Ohlhaver, descreve a mediunidade de Elizabeth Tambke, sua esposa, em temas como sonambulismo, magnetismo de cura, clarividência e materialização de espíritos. Embora praticamente desconhecida atualmente, a interessante obra impressionou tanto os espíritas como os espiritualistas da Alemanha naquele período.
Graças aos seus conterrâneos e descendentes no Sul do nosso país, o livro chegou até nós. Um cidadão espírita, de origem alemã, de posse de um exemplar da obra, traduziu-a para o português, esforçando-se para tal, e enviou-a para a Casa Editora O Clarim, solicitando sua publicação.
O escritor Wallace Leal Rodrigues, revisor da tradução recebida, nosso amigo, confessou-me, em encontro que tivemos, que lhe fora bem trabalhoso levá-la à edição pela Casa Editora O Clarim, acrescentando haver alguns senões em relação ao autor, que considerava o Espiritismo ainda preso aos fenômenos de Hydesville, nos Estados Unidos, não incluindo, portanto, a codificação espírita feita por Allan Kardec.
Lembrando a época em que a obra foi escrita, notamos que o fato narrado, sobre espíritos que se materializavam pela rara faculdade mediúnica de Elizabeth Tambke, atraía novos interessados para o Espiritismo, que se expandia naquele país. Porém, isso não duraria muito. Com a derrota da Alemanha contra os países aliados, na Primeira Guerra Mundial, em 1918, o povo alemão amargou grandes problemas com a carestia a que foi levado. As consequentes convulsões sociais, agravadas pela pandemia da “gripe espanhola”, extenuaram-no.
O nazismo surge em 1920 com seus ideais nacionalistas e extremistas, despertando interesses políticos na sofrida população, e acaba por assumir o poder em 1933. Falanges das entidades voltadas ao bem retiram-se do domínio avassalador que perseguia não apenas os judeus, mas também os espíritas e demais espiritualistas. Algumas dessas falanges dirigem-se ao Brasil, alcançando os estados do Sul, para onde contingentes de seu povo haviam emigrado.
Muitas entidades renasceram entre seus compatriotas, não deixando de haver, entre estes, uma parcela de simpatizantes da nefasta ideologia que, felizmente, não puderam levar avante em nosso país. As populações de imigrantes dos estados do Sul, em sua grande maioria, continuavam falando somente a língua alemã, isolando-se da integração com a população do país. Tornou-se necessária uma lei federal que obrigasse os imigrantes e seus filhos brasileiros a que falassem a língua portuguesa.
Vejamos os efeitos do nazismo, praticamente inexistente em nosso país, tomando como exemplo a cidade de Votuporanga, no estado de São Paulo. Fundada por alemães em 1937, tivera desfraldada a bandeira do III Reich com a suástica nazista em sua instalação. Wilhelm von Trumbach e Karl Helwig, encarregados daquele ato, representavam a firma Theodor Wille & Cia, com sede em Santos, dona daquelas glebas que deram origem à cidade. Embora contaminados por aquela ideologia, apenas conseguiram demonstrá-la naquele ato, pois não se davam conta de que o Brasil, a Pátria do Evangelho Redivivo, não tinha nenhuma relação com aqueles ideais. Nada restou dela, senão a foto da bandeira nazista hasteada diante da casa onde se hospedaram.
Para confirmar a ação da Espiritualidade, isolando a comunidade nascente da ideologia contrária ao Evangelho de Jesus, tivemos, entre os espíritas na cidade que surgia, nossos amigos Dr. Orlando van Erven Filho, um de seus primeiros médicos; e o senhor Günther Schamall, seu concunhado, austríaco, funcionário da empresa dos fundadores que projetou as suas ruas. Sendo este, esposo da primeira professora que lá chegara, Olga Faria Basílio, todos avessos àquelas ideias. Já morava naquele rincão o senhor José de Moraes, pioneiro espírita naqueles sertões e discípulo de Cairbar Schutel, cognominado “O Bandeirante do Espiritismo” pelo seu trabalho na divulgação da Doutrina dos Espíritos.
Atualmente, a cidade conta com numeroso grupo de profitentes espíritas, com vários centros e instituições, destacando-se o C.E. Emmanuel. Aquele apelo nazista ficara registrado apenas na foto.
Veremos, em seguida, exemplos da marcante atuação dos espíritos vindos da Alemanha para o Brasil, anos mais tarde.
Coluna Espírita – Espíritos ligados à Alemanha atuantes no Brasil (Parte 1)
maio 10, 2025RedaçãoColuna Espírita (Agê)0Like
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