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segunda-feira 17 junho 2024
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Coluna Espírita – A preocupante proposta da pena de morte

Coluna Espírita – A preocupante proposta da pena de morte

• Rogério Miguez – São José dos Campos/SP
De acordo com resultado de pesquisa do IBGE referente ao censo de 2010,1 86,8% da população do Brasil é constituída de cristãos, ou seja, caso esta percentagem se verifique atualmente, algo em torno de 190 milhões de brasileiros alegam seguir os exemplos e ensinamentos de Jesus, considerando a população atual em aproximadamente 220 milhões. O restante seria basicamente formado por outras correntes religiosas não cristãs e ateus.
Estes números seriam tranquilizadores em relação ao nosso futuro, pois se toda esta gama da população brasileira estiver seguindo realmente o Cristo, o futuro do país estaria assegurado em termos de conduta ética e moral.
Entretanto, em pesquisa divulgada pelo Data Folha,2 sobre a questão da pena de morte, observa-se um dado intrigante sobre este tema, porquanto, registrou uma percentagem de 57% dos entrevistados a favor da pena capital. Considerando o contingente de brasileiros, seriam cerca de 125 milhões defendendo a aplicação da pena.
Se considerarmos o número de não cristãos, por volta de 30 milhões, religiosos ou não, votando todos em uníssono a favor da pena capital, ainda assim, teríamos um contingente por volta de 95 milhões de cristãos desejando a implantação desta penalidade.
Todo aquele estudioso da mensagem do Cristo, já entendeu ser Jesus totalmente contrário a qualquer ato de violência seja contra quem for. A tônica cristã sempre foi caracterizada pela brandura, pacificação e misericórdia, jamais incitou alguém a revidar ofensas, muito menos tirar a vida do semelhante em nome de qualquer modalidade de uma suposta justiça.
Como se não bastasse, o Mestre expressou claramente a proposta de não ter vindo para destruir a lei antiga, mas dar-lhe cumprimento, quando disse:3 Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado. (Mt 5:17-18).
E mais, quando os representantes do Sinédrio se dirigiram ao Horto das Oliveiras para prendê-Lo e Pedro, em um ato instintivo desembainhou sua espada e feriu Malco, um empregado do sumo sacerdote integrante daquela comitiva, em uma tentativa de defender o Rabi da Galileia, Este de pronto lhe advertiu:4 Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. (Mt 26:52)
Sendo assim, como compreender tantos cristãos terem respondido afirmativamente o questionamento sobre a implantação da condenação máxima? O quinto mandamento de Moisés é cristalino, e Jesus o ratificou plenamente pelos exemplos que nos deixou: Não matarás.
É inquietante observar cristãos concordando com uma medida que autorizaria acabar com a vida de um semelhante, exatamente o bem maior de todos nós: a vida, tentando fazer “justiça” com as próprias mãos.
E sobre esta alegada justiça, perguntamos: Como esta seria feita se a proposta é matar o ofensor, o transgressor da lei? O criminoso morto não devolve à sociedade o que lhe tirou, tampouco compensa o prejuízo causado pelo crime cometido, seja ele qual for.
Esta medida é extrema e ilógica, na medida em que, se a sociedade julga ter o criminoso uma dívida a pagar e precisa ressarcir aquilo que lesou, mantenha-se o transgressor da lei trabalhando em prol desta comunidade, o tempo que se julgar necessário, até que o ressarcimento seja alcançado.
Não faz qualquer sentido tirar a vida de um criminoso, pois, assim o fazendo, ele em nada compensou o dano cometido à sociedade. Este raciocínio é baseado no ponto de vista materialista, quando prevê ressarcimento material ao lesado. Não há necessidade de fazer uma avaliação se esta medida é eficiente ou não, porquanto, sabemos não ser efetiva, há dados concretos comprovando a ineficácia da medida em diminuir os índices de criminalidade onde e quando foi aplicada ao longo de nossa história.
Ajuizando a matéria um pouco mais humanisticamente, durante o tempo de aprisionamento, o transgressor poderá refletir detidamente sobre o seu ato, quem sabe buscando uma renovação pessoal na forma como vem participando dentro do grupamento social. Ele igualmente poderá estudar, ler, se ilustrar com conhecimentos novos, há presídios com infraestrutura viabilizando estas possibilidades, podendo ganhar, também deste modo, entendimento diverso daquele que detém sobre o inquestionável valor de uma vida.
Pela ótica religiosa cristã é um total absurdo, um contrassenso, um atentado aos princípios cristãos: recuperar o olho por olho de Moisés!? Matar por vingança, para se sentir intimamente recompensado!?
Se, de fato, os entrevistados ao se dizerem seguidores do Cristo, na pesquisa realizada sobre o credo religioso, o fossem realmente, jamais cogitariam em expressar qualquer vontade ou desejo no estabelecimento da pena de morte.
Não se segue Jesus parcialmente, ou seja, aceito algumas bem-aventuranças, me agradam os exemplos do Mestre, aspiro a ser como o Cristo, contudo, se me atingem ou aos meus afeiçoados, preciso me vingar e, pelo olho por olho, aceito tirar a vida do criminoso.
Alguém já disse: há muitos cristãos sem Cristo; parece-nos ser este tema em exame um dos casos aplicáveis a esta máxima.

Referências:
1https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/o-ibge-e-a-religiao-cristaos-sao-86-8-do-brasil-catolicos-caem-para-64-6-evangelicos-ja-sao-22-2/
2http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2018/01/1948797-apoio-a-pena-de-morte-no-brasil-e-a-mais-alta-desde-1991.shtml
3 BÍBLIA DE JERUSALÉM. Diversos tradutores. São Paulo: Paulus, 2010. 6 imp. Mateus, 6:14.