Em ritmo de férias e clima natalino, um filme de terror já soa um tanto deslocado por estrear nessa época. E, em terras brasileiras, carregando um nome tão genérico então, resta só a premissa para nos salvar, já que parece interessante.
Cadáver, que no original é chamado de The Possession of Hannah Grace, conta a história da ex-policial Megan (Shay Mitchell), que após perder o parceiro em confronto com bandido, convive com estresse pós-traumático e medicamentos para não enlouquecer. Conseguindo um emprego no necrotério de um hospital, Megan precisa lutar contra os próprios demônios – e os que vêm de fora – para recuperar o juízo.
Apesar de extremamente protocolar e de entregar o possível mistério na primeira cena, o começo da trama é promissor quando demonstra interesse na protagonista. Com pequenos traços de personalidade e conflitos, o roteiro parece querer desenvolver uma subtrama com mais profundidade. Mas não se engane, pois isso não passa de impressão. Com poucos minutos de exibição, o filme deixa claro que sofre de carência de pretensões. De tal forma, não há nada além de uma história completamente vazia onde um ser maléfico faz de tudo para assustar a protagonista enquanto mata alguns personagens menos importantes pelo caminho.
Todo o conjunto técnico do longa se mostra primário e sem inspiração. O roteiro demonstra personagens dispensáveis e com textos frágeis e, ainda, tenta usar de subterfúgios muito pobres e batidos como expor em diálogo a bondade e superação de alguém como claro apelo de aproximação com o público para, em seguida, provocar uma morte impactante, falhando miseravelmente por usar tal fórmula de maneira tão desleixada e demarcada. E falando em demarcar, a direção de Diederik van Rooijen caminha de mãos dadas com tal fragilidade do filme, trazendo cenas simples, jump scares comuns e aproveitando pouco da boa iluminação e ambientação que consegue criar. O descaso é tamanho que, em uma das cenas do clímax, as imagens surgem em tela na medida em que os personagens narram a ação futura, com cortes horrendos e um filtro que dificulta o entendimento, deixando a impressão de sonho ou alucinação, concretizando-se, porém, em uma passagem que realmente acontece na narrativa, revelando-se, apenas, como sequelas de uma direção e edição terríveis.
Contendo fatores que poderiam transformar a experiência em algo mais agradável, Cadáver peca, principalmente, pela inocência do roteiro em não saber organizar bem seus recursos. As regras são didaticamente estabelecidas no início e de pouco valem ao decorrer da trama. O corpo possuído demonstra poderes capazes de derrotar qualquer coisa, mas sofre com mecanismos trapaceiros com único objetivo de o roteiro estender a história. Em momentos, o corpo é capaz de andar de forma ereta, porém, em seguida, opta por rastejar no chão com o único intuito de parecer mais intimidador, ainda que não precise causar medo em suas vítimas, mas apenas mata-las, como anteriormente estabelecido. E, se alguma sagacidade houvesse restado aos roteiristas, a possessão teria sido revelada apenas em oportuno momento, ao invés de entregue no prólogo, restando, dessa forma, zero mistérios a serem desvendados.
Cadáver
dez 07, 2018Bruno FonsecaColuna de CinemaComentários desativados em CadáverLike